terça-feira, 2 de junho de 2009

Sem valor para uns, valioso demais para todos



Parece estar sempre querendo aparecer, (assim falava dona Mariquinha, uma senhora admirada por todos, tanto pelos familiares como por aqueles que gozavam de sua amizade, isso por sua tranqüilidade e também pela forma que ela tratava as pessoas, sem distinção), falava do velho vaso, um urinou (pinico), que para ela estava sempre no lugar errado da casa, aí apanhava o pesado vaso e o levava para o quarto, falando: esse é o lugar em que você deve permanecer, e empurrava delicadamente com o pé para baixo da cama, e comentava; velho companheiro.
Dona Mariquinha morava com uma filha e um neto, viviam de forma modesta, mas demonstrava que no passado, não muito distante teve uma vida financeira bastante equilibrada e que com a morte do marido todo o patrimônio foi aos poucos dilapidado, pelos familiares, tanto dele quanto dela, mas ela jamais se queixava da vida. Tinha mais 3 filhos, que moravam distante, e que a ajudavam financeiramente, para que ela pudesse se manter.
Quando se reuniam (o que não era raro), sempre falavam: mãe porque a Sra. não joga esse pinico fora? Ele é muito bonito, mas já esta comprovada a tese, pinico de barro não enferruja, então todos riam e abraçavam a senhora que retrucava.
Esse vaso é muito antigo e é tudo que resta da herança que minha família recebeu de meu bisavô, um velho e bondoso chinês, o venerável Chen Om Loum. ..
Então o mais velho dizia; esse tipo de herança faço questão de não receber, (no que todos concordavam), isso não serve nem para ser doado a um museu
.Dona Mariquinha falava; ele não é de barro, é de porcelana, e pelo que me parece é chinês, (gargalhada geral), então o velho pinico passava a ser o assunto de todos.
E como era essa peça que eles falavam sem valor algum?
Tratava-se de um vaso de porcelana, muito branco, finamente decorado com ramos floridos, um salgueiro, e um par de andorinhas, que por sua perfeição, na pintura parecia que as aves aram reais.
Foi quando o Cleber perguntou, posso trazer um amigo meu, que conhece de peças antigas, para que ele dê sua opinião, sobre o real valor do velho “amigo da mamãe”?
Todos concordaram, e ficou marcado para que no próximo mês o “grande conhecedor” desse o ultimato ao velho pinico.
Quando chegou o dia marcado, o museólogo, amigo do Cleber estava presente para avaliar a peça, tão falada por todos da família.
Agora, meus amigos eu quero ter o prazer de ser apresentado ao velho “pinico de barro” de Doda Mariquinha.
Desde o dia que falaram da presença do museólogo, a senhora tinha guardado a peça em uma sacola muito bem bordada com o mesmo desenho que estava incrustado no urinou.
Quando o senhor retirou a peça do invólucro, arregalou muito os olhos, deixou cair os pesados óculos, e deu um suspiro profundo, olhou para todos os presentes, e com uma gagueira que até então não tinha, falou.
Pe-pessooal, vô-vocês, pó-o-possuem, uma Ra-a-ridade das artes chinesas, essa é uma peça elaborada pelos chineses na época da dinastia Ming e Qing, ou Manchu,(1368-1911).
A pintura e a cerâmica mantiveram o alto nível e novas técnicas de fabricação de porcelana foram desenvolvidas, especialmente a pintura vitrificada e a utilização de cores esmaltadas sobre a vitrificação. Afirmo-lhes que essa peça que aparentemente não tem valor algum para vocês, para colecionadores de raridades, vale mais de U$ 2,5 milhões, e essa é única, retirou de sua pasta uma lupa e aproximando-a da velha peça mostrou, gravada em chinês, alguns símbolos e a data 1381.
Todos se olharam estupefatos, não esperavam que aquele pinico que era sem valor para uns, passava a partir daquele momento, ser valioso demais para todos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário