quarta-feira, 18 de setembro de 2019

NA TEIA DA ARANHA DE OURO


1
Essa trama que agora conto
Registrada nesse cordel
É fato muito complicado
Desses de se tirar o chapéu
Eu como bom escritor
O que escrevo é com amor
Por isso sou menestrel.
2
Nunca se espante, amigo
Com a mente do escritor
Tanto em prosa ou verso
Nos dois ele é doutor
Escreve aquilo que pensa
Só para aumentar a crença
De seu amigo o leitor.
3
Vamos direto ao causo
Motivo desse cordel.
Que se passou há milênios
Sem registro em papel
Descobri lá no nordeste
Lendo as escritas rupestres,
Quando a pedra era o pincel.
4
No Reino do Escaravelho,
Onde a rainha Malícia,
Mantinha sobre seu controle,
Um exército de milícia,
Todos eles clandestinos,
Fugindo de seus destinos,
Ou fugindo da polícia.
5
A Malícia tinha desposado
Seu primeiro miliciano,
A cerimônia foi feita
Toda por baixo dos panos,
Seus pais só vieram saber,
Na hora que iam morrer,
Por isso morrem chorando.
6
Se existia algum herdeiro,
Ninguém no reino conhecia.
Malícia tinha uma filha,
Mas ela mesmo escondia,
Seu nome era Esperança,
Da existência dessa criança,
Nem o marido sabia.
7
É que nas veias da Rainha,
Não corre sangue Real,
A mesma foi encontrada
Dentro de um lamaçal.
O velho Rei a adotou,
Na hora que a encontrou,
Foi seu pecado mortal.
8
Há quase quarenta anos
Esse fato foi passado,
Os velhos Reis se calaram,
Não falaram do encontrado.
Malicia descobre em sonho,
Que seu passado bisonho,
Podia ser revelado.
9
Sem que os velhos soubessem,
Ela prepara um unguento,
Que aplicava nos velho,
Toda hora e todo tempo.
Um unguento perfumado,
Deixava-os acabrunhados,
E nem queriam alimento.
10
Quase que sem perceberem
Os velhos foram afinando.
Todos os médicos do Reino,
Mais remédios iam passando.
Estudos nenhum descobriam,
Pois nada os velhos sentiam,
Mas estavam se acabando.
11
Com pouco mais de dois anos,
No nascimento da Princesa,
É que Malicia conta aos pais,
Sem rodeios e com clareza,
Tudo sobre e casamento,
E também do nascimento,
Matando os dois de tristeza.
12
A população do Reino,
Sentiu muito o desenlace,
Dos dois bondosos monarcas,
Que governavam com classe.
Choraram o mais que podiam,
Pois todos eles temiam,
Que seus destinos mudasse.
13
Foi lá dentro do palácio,
Que começou a mudança.
Tudo com o nascimento,
Da princesinha Esperança,
Mantida numa camarinha,
Por ordens da má Rainha,
Pra esconder a criança.
14
Durante anos e anos,
Tudo no reino mudava,
Governado a mão de ferro,
O reino não prosperava.
Mantinha-se do mesmo jeito.
Nossa Rainha é o defeito,
As escondidas falavam.
15
Ao completar quinze anos,
É que Esperança aparece.
Quando soube que era a filha,
Seu pai de tristeza adoece,
Com aquela a revelação,
O Rei cai em depressão,
Três dias depois falece.
16
Antes chama a princesa,
E pede-lhe com grande emoção:
Fuja daqui desse reino,
Para que tenhas a salvação,
Depois tu deves voltar,
Vás com justiça governar,
Melhorar nossa nação.
17
Entrega pra ela um livro,
Em formato de cordel.
“É um livro magico de pano,
Ao ler não faça escassél,
Leia uma página por vez,
Ela vale por um mês,
Será o teu amigo fiel”.
18
“Tudo que aí está escrito,
Executarás em um mês,
Nunca lerás outra página,
Se o que mandou não se fez.
Tens que fazer o mais rápido,
Pois o tempo é muito escasso,
Pode acabar de uma vez”.
19
“Nunca fales pra Rainha,
Que esse livro existe.
Pois se ela vier descobrir,
O teu fim será bem triste,
Ela é perversa demais,
Matou até o seus pais,
Por isso nunca desiste”.
20
“Agora eu posso partir,
Deste mundo tão cruel,
Depois que te dei o livro,
Já cumpri o meu papel.
Deixo tudo pra o Divino,
Que ele trace teu destino.
Disse Adeus. Partiu pra o céu”.
21
Então o pai da Princesa
Morre ali, em sua frente.
Deixando a bela garota,
Em estado deprimente.
Gritou chamando a Rainha,
Que naquela mesma horinha,
Ficou feliz, bem contente.
22
Então a jovem Princesa,
Volta à sua camarinha.
Abre então aquele livro,
Pra ler no que ele tinha.
Tinha uma página só,
Com desenho de um trenó,
E algo escrito em ladainha.
23
“Saia logo desse lugar,
O mais rápido que puder,
Coloque uma fantasia,
E fuja, pé ante pé.
Lá no fundo do pomar,
Tem um lugar pra passar,
Que leva ao igarapé.
24
Siga sempre ao contrário,
Do curso daquele riacho,
Sempre por dentro da água,
Para que não deixes rastro.
Andarás a noite inteira,
Não parem por brincadeira,
Na nascente encontras um tacho.
25
Ao encontrares o tacho,
Deve estar fazendo um mês,
Que abristes o vosso livro,
Foi a sua primeira vez,
Portanto não tem retorno,
Por mais que haja transtorno,
Seguirás com altivez.
26
Chegando ao local indicado,
Faz exatamente eu mês
Procura segunda página
Seria uma de cada vez
A primeira já é passado
Aquilo que te foi mandado
Cumpristes com altivez.
27
A página dois quando abriu,
Tava escrita desse jeito,
“Dentro do tacho se encontra,
Algo sem nenhum defeito,
É um velho velocino,
Nele está teu destino,
Ponha ele sobre o peito.
28
Siga sem contestação,
O que pra você foi traçado.
Surgira um novo mundo,
Que deve ser alcançado,
Terás um mês por inteiro,
Juntamente com o arqueiro,
Pra ele ser conquistado”.
29
Quando ela põe o velocino,
Por sobre seu coração,
Tudo na hora escurece,
Logo depois um clarão
Estava em outro terreiro,
Tendo ao lado um arqueiro,
Seu novo e fiel guardião.
30
Estou aqui pra lhe ajudar,
A encontrar o portal,
Ele deve ser transposto,
Antes do Mês o final,
Estarei sempre ao seu lado,
Como se eu fosse colado,
Sou teu protetor real.
31
Saíram em caminhada,
Em direção da floresta,
Todas as aves cantavam,
Como se fosse uma festa.
A princesa Esperança,
Bailava como criança,
Ao som daquela orquestra.
31
Quase ao final do mês,
Os dois chegam ao portal,
Lugar de rara beleza,
Nunca se viu nada igual.
Unicórnios alados,
Estavam por todo lado,
Admirando o casal.
32
Então ela abre o livro,
E leu lá na página três.
“A dois já é do passado,
Começa tudo outra vez.
Escolha seu unicórnio alado,
Pois tudo já está traçado,
Que Deus protege vocês.
33
Montaram em seus cavalos,
E transpuseram o portal,
Os unicórnios voavam,
Numa leveza total,
Não sabiam onde iam,
Sabiam que chegariam,
Ao seu destino final.
34
Voaram por trinta dias,
Só paravam pra comer,
Dormiam sobre os cavalos,
Acordavam ao amanhecer.
Então os cavalos alados,
Voaram pra outro lado,
Começaram a descer.
35
Desceram numa montanha,
Em um gramado verdinho,
Então ambos abrem o livro,
E leram devagarzinho.
“Já chegaram ao final,
Prestem atenção no local,
Este é um novo caminho.
36
Olhem pra o morro branco,
Todo coberto de neve.
Lá, mora a aranha de ouro,
Entrar lá ninguém se atrevem
Captura-la será a missão,
Tragam-na em suas mãos.
Vão logo que o tempo é breve.
37
Devem ter muito cuidado,
Quando chegarem a caverna,
A aranha tem guardiões,
Na época que ela hiberna.
São todos uns valentões,
Elfos, Duendes e Dragões.
Gostam de briga e baderna.
38
A função dos protetores,
É que não exista zoada,
Que perturbe a bela aranha,
Dia, noite ou madrugada.
Ela não pode acordar.
Si. Logo vai devorar,
Quem tá dentro da morada.
39
Façam o que for preciso,
Pra sequestra a aranha,
Aproveitem o seu sono,
Lá no centro da montanha,
Enfrentem seus guardiões,
Lutem como dois leões,
E prendam a figura estranha.
40
Retirem o do velocino,
Um pouquinho de seu pelo.
Façam dele uma gaiola,
Toda coberta de gelo,
Ponham nela a bela aranha,
Aquela figura estranha,
Não deem ouvido aos apelos”.
41
Mas se quando caminharem,
Algum guardião acordar,
Façam um pouco de barulho,
Eles começas a voltar.
Pra proteger a aranha,
Que é cheia de artimanha,
Pode a todos devorar.
42
Então com muita cautela,
Cruzam o salão principal.
Quando olham para cima,
Tiveram um susto brutal,
No teto dorme o tesouro,
Toda coberta em ouro,
Sobre a teia de cristal.
43
O arqueiro sobe a teia,
Pra sequestrar a rainha,
Leva dentro de um bizaco,
Apenas uma gaiolinha,
Dos pelos do velocino,
Pra completar o destino,
Traçado pra princesinha.
44
Ao chegar pega a aranha,
Que esta adormecida,
Coloca dentro da gaiola,
Começa logo a descida,
Antes de chegar no chão,
Vê a princesa em ação,
Numa verdadeira briga.
45
Ele dá um grito forte,
Levanta então a gaiola,
Os defensores recuam
Um pouco naquela hora.
Então a aranha desperta,
Dando um grito de alerta,
Quero que parem agora.
46
Os guardiões se ajoelham,
E deitam todos de bruços,
Os jovens aproveitam a hora,
E agem com seus impulsos.
Os únicos sons que ouviam,
Eram os poucos que saiam
Da gaiolinha os soluços.
47
Os jovens saem embalados,
Em direção a saída,
Se cobrem com o velocino,
Ficam esperando a partida.
Então tudo escureceu,
Um estrondo aconteceu,
A missão estava cumprida.
48
Aparecem em um vale,
Sentam e abrem o cordel.
Estava escrito bem assim:
“Cumpriram bem o papel,
Chegaram a pagina cinco,
Da gaiola abram o tricô,
Deem pra aranha o mel.
49
Esperem alguns segundos,
E aguardando o resultado,
Fixem os olhos na aranha,
Sem olhar pra outro lado,
Façam isso com destreza,
Então terão uma surpresa,
Trinta dias já é passado.
49
Abrem novamente o livro
Leram lá na página seis.
“Agora em vez de dois
O destino é para os três.
Arqueiro, Princesa, Rainha,
Nenhum dos dois adivinha,
O que o destino lhes fez.
50
Então eles se deram conta,
Do que havia ocorrido,
No lugar da aranha de ouro,
Uma mulher tinha surgido,
Era a rainha Malicia,
Sem os membros da milícia,
Tudo mudava de sentido.
51
A princesa tentou falar,
Pela mãe foi impedida.
Que beija a face da filha,
Dizendo; fui transferida,
Por uma bruxa do mau,
Que me tirou do local,
Mas não me dei por vencida.
52
Antes de ser uma aranha,
Fiz uma prece ao divino.
Pedi que ele ajudasse,
A mudar o teu destino,
Então o livro aparece,
Nele só tinha a prece
Transformada em velocino.
53
Devemos voltar ao reino,
Vamos lutar contra o mau,
Derrotar a velha bruxa,
É o motivo principal.
O quebranto tá acabado,
O reino vai ser salvado,
É esse nosso ideal.
54
Então pergunta a princesa,
Como essa bruxa surgiu?
Foi expulsa de um reino,
Quando a Rainha pariu.
Tirando-me da minha cama,
Me colocando na lama,
Nessa hora o pai me viu.
55
Ao completar trinta anos,
Amei um forte guerreiro,
Que entre todos os soldados,
Ele era sempre o primeiro.
Casamos as escondidas,
Para salvar nossas vidas,
E pra fugir do zombeteiro.
56
Para aquela velha bruxa,
Eu era uma marionete.
Vamos abrir nosso livro,
Leiamos a pagina sete,
“Voem nas asas do vento,
Não esperem um só momento,
Enquanto o reino ainda preste.
57
Então foi no mesmo instante,
Que surge uma ventania,
Carregando os três destinos,
Nos seus últimos trinta dias,
Carregando-os ao seu destino,
Cobertos pelo velocino,
Sem nenhuma acrobacia.
58
A chegada em Escaravelho,
Foi durante a madrugada.
Na hora todo reino ouviu,
Uma estrondosa risada.
Montada em sua vassoura,
A velha bruxa estoura,
Nunca mais foi encontrada.
59
No livro a página oito,
Estava escrito assim:
“Que sejam todos felizes
O bom supera o ruim,
Princesa ama o arqueiro.
Um valoroso guerreiro.
Seu protetor querubim.
60
Tudo isso estava escrito,
Em uns desenhos rupestres,
No vale do catimbau,
Em Buíque, no Nordeste.
Não pensem que sou maluco,
Buíque é me Pernambuco,
Lugar de cabra da peste.