segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

SONETO

SEM SOM MAS COM NETO.

                                     Nivaldo Melo

 

Começo assim meus singelos versos,

Um tanto quanto medíocre para uns,

Que contrariam a opinião de alguns,

Porém para outros com bastante nexo.

 

Não dá pra percorrer e mesma estrada,

Pisando sempre sobre o mesmo rastro.

Isso torna nossas vidas tão mais simples,

E por longos anos e anos ela nunca enfada.

 

Agora pasmem para um novo espanto,

Procurem encontrar em algum canto,

Alguma linha como em um panfleto.

 

Pois se assim a encontrar em formato inato

Está sim, escrito em um contorno exato

Mesmo sem som mas com bastante nêto.


 



 



 


1

De vez enquanto me lembro,

Das estórias da minha avó.

Contada sempre á noite,

Bonitas como elas só.

Gritavam todos presentes,

Em espasmos de contentes,

Conte mais uma vovó.

2

Então nossa vó sorria

Mostrando felicidade,

Dizia só amanhã

Conto outra de verdade,

Mas antes têm que estudar,

Que é pra vovó contar,

Histórias pra mocidade.

3

Então na noite seguinte,

Estávamos todos esperando,

Sentados lá na calçada,

Uns cantando outros escutando,

Música que a vovó gostava,

Sabíamos que ela adorava

Ver os netinhos cantando.

4

Quando a coisa estava boa,

É aí que a vovó chegava.

Sentava em uma cadeira,

Que por ela esperava.

Era um silencio total,

Que reinava no local

Então ela assim falava.

5

Hoje vou contar a história

Da princesa pequenina,

O nome dela era Naurora

Que foi sempre uma menina,

Maltratada pelo destino,

Aquele ser pequenino,

Mas de inteligência divina.

6

Esse nome lhe foi dado

Pois ela nasceu com o sol,

Em primeiro de janeiro

Festa no Reino, a maior

Fio quando nasceu a princesa

De extremosa beleza,

Bonita como ela só.

7

Foi no reino do Trancoso

Que o fato aconteceu.

Passaram-se muitos anos

Nas ninguém nada escreveu.

Quem me contou foi vovó

Que ouvi-o da bisavó,

Verdade do tempo seu.

8

Naurora foi primogênita,

Dos Reis das terras bonitas,

Nesse reino a fantasia

Era a principal das escritas,

Ali reinava a riqueza,

Lá não existia pobreza,

Era uma terra bendita.

9

Criavam-se muitos cavalos

De linhagem superior,

Cavalos de sangue puro

De inigualável valor,

Num estábulo bem guardado,

Só tinha animal alado,

Cavalo, tigre, castor.

10

Esses animais eram vistos

Na data do soberano,

Aniversário do Rei

Primeiro dia do ano.

Foi quando nasceu Naurora

A dona de nossa estórias,

Tudo traçado em um plano.

11

E o tempo foi passando,

Todo reino ia crescendo,

Era um progresso danado

O povo feliz vivendo.

Cinco anos foi passado,

Quando algo deu errado,

E tudo foi decrescendo.

12

A princesa completava

Seus cinco anos de vida,

O Rei mandou preparar

Pra sua filha querida,

Uma festa grandiosa

Para a princesa formosa,

Com muita música e bebida.

13

Mandou convite pra todos

Os reinos de amizades,

Só não mandou para o reino

Dos duendes da maldade.

Foi aí que o Rei errou,

Pois vejam o que se passou,

Pra mim foi fatalidade.

14

Quando chegou o dia

Dos festejos começar,

Quem primeiro apareceu

Foi uma bruxa bem má,

Mandada pelos duendes,

Deles tu não te defendes,

Veio um cavalo comprar.

15

Mandaram a velha bruxa,

De aspecto desumano,

Aquela que tem o nariz

Feito bico de um tucano,

Na ponta umas verruga

O corpo cheio de pulgas,

Usava um chapéu de pano.

16

Chegou em sua vassoura

Pousou na frente da porta.

O pau daquela vassoura

De tanto usar tava torta.

Foi falando entre dentes

Quero falar com o regente.

Pra ele tenho proposta.

17

Sou do reino dos duendes

E vim comprar um cavalo,

O com as asas mais bonitas

Como as penas de um galo,

O Rei quer o mais bonito

Mandou tudo por escrito,

Do meu Rei será vassalo.

18

Quero levar o alado

Com o pelo mais bonito,

O pagamento está na caixa

Com ouro, safiras e granito,

Tragam logo o animal

Senão aqui vai ter pau,

Deixo todos aqui proscritos.

19

Então aparece o Rei

Com a Naurora de lado,

Aquela bela criança

De esplendor imaculado,

A bruxa olha a menina

E fala; que coisa fina,

Essa vai deixar legado.

20

O Rei falou para a bruxa

Daqui não vás levar nada,

E fale para seu Rei

Que a porta aqui tá fechada,

Nada temos pra vender

Nem pra ele ou pra você,

Parta logo em debandada.

21

A bruxa parou um pouco,

E deu uma gargalhada.

Da boca saiu fumaça

E uma baba bolhada,

Os dentes eram tão escuros

Cheios de limo de muro,

O Rei deu uma recuada.

22

Se não levar o cavalo,

Posso deixar uma praga,

Que vai demorar sanar,

E vai ser a mais danada.

Vocês é que vão sofre,

Vendo a princesa crescer

Só dessa forma me paga.

23

Montou em sua vassoura

Que tinha o cabo bem torto,

Gritou logo que subiu

Seu reino não será morto,

Porque a princesa Naurora

Qualquer dia qualquer hora,

Vai descobrir o seu horto.

24

O Rei nem se importou,

Com o que previu a bruxa.

Eu mantive meu plantel,

Falava em cima da bucha.

Todos meus cavalos alados

Continuam bem guardados,

Se roubar leva garrucha.

25

Passaram-se mais cinco anos,

Naquele reino bonito.

Mas os súditos nem notaram

Que o que não tava escrito.

Estava se desenvolvendo

O reino todo crescendo

Mas a Naurora “mosquito”.

26

Mosquito porquê e princesa,

Estava no mesmo tamanho,

Que cinco anos atrás,

Era algo muito estranho,

Toda criança crescia

Mas Naurora permanecia

Como um menino tacanho.

27

Naurora era inteligente,

Mas de estatura miúda.

Falava muitos idiomas

Conversava até com muda.

Mas tinha uma frustação

De seu porte de anão

Deixava-a sempre sisuda.

28

Ao completar quinze anos

A princesa se rebelou.

Mandou chamar os seus pais

E pra eles assim falou:

Tenho que pular esse muro

Vou procurar no escuro

O que lá atrás de passou.

29

Os pais ficaram abismados

Com a coragem de Naurora,

Então o Rei lhe falou

Ainda não está na hora,

Aguante mais alguns anos

Não entre em desengano

Que sua vida melhora.

30

Naurora nem respondeu

A proposta de seu pai.

No íntimo o seu destino

Sabe pra onde ela vai,

Se recolhe ao aposento

Em todo seu pensamento

Só vinha o nome Banzai.

31

O banzai é procurar

Por algo de muito distante,

Ela não vai retroceder

Nem ao menos num instante,

Ela tem é que tentar

O mistério desvendar,

Para crescer doravante.

32

E na calada da noite

Naurora foi procurar,

O seu cavalo alado

Para nele cavalgar,

Em busca de seu destino

Que fosse bem pequenino,

Ela iria encontrar.

33

Levou consigo um bizaco

Com coisas bem escolhidas

Colocou seu lenço branco

Mais um pouco de comida

Levou também seu perfume

Que tinha pouco volume

E água para bebida

34

Colocou lá duas pedras

Sem saber porque fazia.

Uma voz dentro de si

Era quem a conduzia,

Colocou um papel fino

Nele escreveu Destino

Três da manhã já partia.

35

E naquela madrugada

Antes do romper da aurora

Em busca de seu destino

Parte a princesa Naurora.

Em busca de seu Banzai

Mesmo escondida do pai

Já tinha chegada a hora.

36

Subiu mais alto que pode

Montada em seu alado,

Um belo cavalo branco

Ia esquecer o passado,

Procurar no seu futuro

O que estava obscuro

Além do mais; apagado.

37

Viajou durante horas

Sem olhar nem para traz.

Estavam acima das nuvens

Tudo bonito demais.

Tá na hora de descer

Vamos assim proceder

Estavam cansados demais

38

O belo cavalo alado

Para numa nuvem escura.

Ali estava iniciando

A sua nova aventura.

Naurora apanha o bizaco

De baixo de seu sovaco

Pôs a mão na abertura.

39

Então o cavalo alado,

Falou com toda clareza.

Não abra ainda o bizaco

Espere minha princesa.

Sou seu guia e protetor

Foi assim que o Rei mandou

Aqui não quero fraqueza.

40

A Naurora ficou muda

Ouvindo e vendo-o falar.

Perguntou por qual motivo

Nas nuvens ele foi parar.

É que aqui bem no céu

Vou lhe dizer que papal,

Nós vamos desempenhar.

41

É que aqui sobre as nuvens

Vamos de fato traçar,

O que podemos fazer

Pra tudo desencantar,

O que viemos fazer

Você vai ter que crescer,

Para ver tudo acabar.

42

O que tens nesse bizaco

Nós vamos usar legal,

São peças para defesa

Para lutar contra o mal,

Devemos estar sempre alerta

Pra usadas na hora certa

Quando chegar no umbral.

43

Umbral de onde, pergunta

A Naurora muito aflita,

Eu explico minha princesa

Vamos a terra maldita,

Para quebrar o encanto

Que está em baixo do manto,

Fechado numa marmita.

44

Numa marmita? Pergunta

Sorrindo nossa princesa,

Marmita em baixo do manto

E não em cima da mesa?

Como vou acreditar

Que isso vai nos livrar

De toda minha tristeza?

45

O cavalo assim falou:

Volte agora a me montar

Que logo vamos partir

E antes do sol raiar,

Chegaremos ao destino

E esse meu ser pequenino

Vai começar a lutar.

46

Antes do nascer do sol

Com os raios da aurora,

Montada em seu alado

Surge a princesa Naurora,

Vestido seu elmo branco

Para acabar o quebranto

Pois tinha chegado a hora.

47

Chegaram a um velho templo

Bem na porta principal,

Naurora apeia o cavalo

Fica em baixo do umbral,

Da sela tira um escudo

Com ferros pontiagudos

Entra naquele local.

48

Leva consigo o bizaco

Que pegou lá na saída,

Coloca a mão dentro dele

Tira um pouco de comida,

Joga dentro do salão

Foi tremenda a confusão

Gritos pedindo bebida.

49

Coloca agua pra eles,

Gritou lá fora o cavalo.

Então tudo se ilumina

De dentes se ouve estalos

Era um bocado de homem,

Que Naurora mata a fome,

Que se tornaram vassalos.

50

Eram todos prisioneiros,

Dos duendes da maldade.

Estavam ali há uns anos

Sem direito a claridade,

Quando a Naurora chegou

Todos ela libertou

Disseminando a bondade.

51

Dentro do templo a princesa

Continuou procurando

Onde estava a velha bruxa,

E ia se aprofundando

De repente em sua frente

Aparece uma serpente

Com veneno ameaçando.

52

Naurora pega o escudo

Cheio de pontas bem finas,

Crava eles e a serpente

Vira ave de rapina,

A pedra grita o alado,

Jogue uma no safado

Que ela vai virar salina.

53

Então com seu lenço branco

A princesa apanha o sal.

Ele iria lhe servir

Para dizimar o mal,

Tudo aquilo estava escrito

Num livro lá no infinito

No fundo de um lamaçal.

54

Foi quando aparece o manto

Bem logo ali ao seu lado,

Em baixo tava a marmita

Com o segredo guardado,

Para acabar o quebrando

Ela tira o papel brando

E tudo foi revelado.

55

Ela coloca o papel

Por sobre aquela marmita,

Derrama ali seu perfume

Pra completar a escrita.

Então a marmita ela abre

Assim espera que acabe

Toda a sua desdita.

56

Preza dentro da marmita,

Estava a bruxa do mal

A que deixo aquela praga,

Naquele dia fatal,

Aquela bruxa chorava

E de joelhos implorava,

Perdão por ser marginal.

57

Naurora pega a outra pedra

Na bruxa ela põe na mão,

Então se ouve um barulho

Uma tremenda explosão.

Naurora volta a crescer

A bruxa vai se esconder

Lá no fundo do porão.

58

Então ela pega o papel

Que estava escrito destino

Coloca lá no bizaco

De fininho vai saindo

A princesa pega o sal

Derrama lá no umbral

Tudo fica cristalino.

59

Três anos tinham passado

Quando Naurora fugiu

Agora estava de volta

Feliz como nunca viu.

Agora era uma princesa

Pertencia a realeza,

A mais bela no perfil.

60

Aquele cavalo alado

Que foi o seu protetor,

Era de fato um príncipe

Que Naurora desposou,

Estava tudo perfeito

O povo bem satisfeito,

Quando o Rei abdicou.

61

Estava se iniciando

Ali uma nova história,

O reinado da mais bela

A princesinha Naurora,

Que junta com seu esposo

Dariam um traçado novo

Sem esquecer o de outrora.

62

Então vovó encerrava

Mais uma de seu plantel,

Eu como bom escritor,

Coloquei tudo em papel.

Afinal meus bons amigos

Afirmo aquilo que digo

Sou o melhor menestrel.