quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

SUA REDE, SUA VIDA

Muito cedo deu seu grito de independência, sabia por extinto que havia chagada a hora de viver sua proporia vida, sem depender de seus pares.
Ainda era bastante jovem, mas havia aprendido tudo que sua mãe havia lhe ensinado, e por certo conseguiria viver, mesmo nos lugares mais estranhos, para isso havia aprendido a arte de confeccionar rede, tirando a matéria prima do que havia de melhor nos arredores do local onde tinha resolvido residir.
Alimentar-se, isso seria no momento seu maior problema, mas tentaria passar a maior parte do tempo, trabalhando ou descansando, e assim pouparia suas forças, para continuar a labuta diária, sabia que jamais receberia da família ajuda, haja vista que com sua saída, seria logo esquecida, e também sabia que estaria correndo risco de vida, se aparecesse novamente na casa de onde havia acabado de sair.
Conformada, porem sem demonstrar nenhum arrependimento, e sem ao menos se voltar para olhar, o lugar onde viveu durante para ela, um longo tempo. Já havia escolhido o lugar onde iria viver, era um local onde durante o dia ela estaria protegida; e a noite? Como seria? É, durante o dia estaria protegida dos malfeitores, e trabalharia para ter sempre seu sustento, à noite, mesmo as mais escuras, estaria atenta para não ser surpreendida, estaria sempre na defesa, mesmo deitada em sua sede, construída de forma esmerada, o que lhe dava muito orgulho.
Sua casa era sua rede, dela, desde que a construiu sabia que estaria dependente, tanto para se alimentar quanto para descansar, (o que fazia na maioria das horas do dia), sabia que em seu caso, havia um ditado popular que definia muito certo sua existência, que era: crias fama e deitas na cama.
Por isso, não precisava trabalhar tanto, apesar de saber que a tarefa de esta sempre aperfeiçoando a forma de fazer redes, era interminável, jamais durante sua existência pararia de confeccioná-las.
Estaria sempre de mudanças, até encontrar um companheiro, que a ajudaria a construir nova família, e sabia também que ele não a ajudaria a criar sua prole, mas mesmo assim a vida tinha que continuar.
E, levando uma vida que para uns era bastante monótona, para ela era bastante sacrificada, e perigosa, pois tinha que se defender de inimigos muitas vezes mais forte que ela, e bem maiores. Mas ela tinha uma defesa que nunca falhava, “sua rede”, construída com os mais fortes fios, tirados de suas entranhas, rede essa tecida de forma perfeita, onde qualquer um que tivesse a desventura, de tentar molestá-la seria sem dúvidas, seu alimento do dia seguinte.
É dessa forma que vivem as tarântulas. Espécie da qual ela se orgulhava de pertencer, seus parceiros só teriam o prazer de tê-la em seus braços apenas uma vez, ela não daria para ele outra chance, e todas as vezes que ela estivesse; “disponível para o amor”, teria uma alimentação dos deuses durante e pós-ato sexual, devoraria com o maior prazer, a cabeça daquele que com ela se entregou, ao ato perfeito de amar, porque ela é uma “viúva negra”.

TRAIÇÃO VIRTUAL


A cada dia nos aparecem casos que não consigo absolver, talvez pela forma que se dão os fatos, ou porque ainda não me adaptei completamente ao mundo virtual.
No caso em tela, poderá até ser um caso real, vai depender apenas da forma de julgamento ao qual o leitor proceda.
É um casal “quase” perfeito, ela, bastante ativa, ele calmo, extrovertido, ela batalhadora, ele de uma inércia de dar dor de cabeça, ela alegre, festiva, ele pacato, moroso, “tímido”, ela uma lagarta taturana, ele uma minhoca da lama, como os opostos se atraem, foi dessa forma que os dois se encontraram.
No inicio, com sua timidez ele não conseguia se aproximar dela, sim estava bastante difícil, afinal ela era a filha do patrão. Ela por sua vez sentia por ele uma forte atração, afinal ele não era “de se jogar fora”, então partiu para o ataque. Vamos nos conhecer melhor, (falou ela), ele assustado ficou na duvida, então, ela pegou em seu braço, olhou no fundo de seus olhos e disse: quero e preciso de você! E estamos conversados! Naquele mesmo dia se amaram, com a maior intensidade que dois amantes possam ter, era suas primeiras vezes.
Casaram mesmo contra a vontade dos pais dela, (ele é um banana, falavam seus irmãos), e ela como adorava frutas, não se importava com os comentários os quais ela chamava de maledicente. Logo vieram os filhos, um a cada ano, no inicio todos da mesma cor, depois do segundo, foram aparecendo variedades de cores, o terceiro, mulato; o quanto cafuzo, mais um, nissei, foi quando ele resolveu parar de fazer filhos, (ele resolveu), e ela? Não sabia, e teve mais uma, com os olhinhos rasgados, perecia uma chinesa.
Passam-se os anos, ela trabalhando, ele tomando conta da casa e das crianças; aos pouco foi se adaptando com a figura de um computador instalado no quarto de trabalho, foi teclando, foi se familiarizado, e em pouco tempo, já estava dominando o PC de forma quase profissional, criou uma pasta exclusiva sua, com senha de acesso, e iniciou uma navegação que para ele era o máximo, conheceu algumas “gatinhas”, e com elas passava os dias à espera da esposa, mas teclando com suas “mulheres”, como ele as classificava, se eu tenho algumas dúvidas quanto a paternidade de meus filhos, porque não trair minha amada virtualmente? Sexo em casa nunca mais.
Todo isso durou pouco tempo, até um dia, inadvertidamente deixou sua pasta exposta a visitação de qualquer um, e a primeira visita foi feita por ela, que quando viu na tela a nova amante do esposo, (mesmo sendo virtual), ela não admitiu, era uma falta de respeito e principalmente de criatividade, por parte dele.
Dele ela admitia tudo, menos traição virtual, até admitiria se tivesse agido como ela, traição real, sem intermediários, sem senhas de acesso, mas, sentado, em frente ao computador, isso para ela era inadmissível, teriam que separarem-se imediatamente. Nunca esperei isso de você! Se ao menos tiveste criatividade em tua traição, até aceitaria, mas fiques sabendo que de mim não restará nem lembranças, retirou de casa todos os móveis e partiu para um bairro bem distante de onde eles moravam.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

A VACA DA ÍNDIA


Em ambientes onde houvesse alegria, por certo lá estaria presente Felícia, sim porque essa jovem como seu nome, era sinônima de alegria, de felicidade; felicidade essa que ela espalhava com sua presença.
Sempre alvo dos comentários de todos seus amigos. Que forma é essa adotada pela “Lili”? Não a encontramos nunca triste, está sempre de bom humor, duvido que alguém e tenham visto chorar, a alegria é seu lema.
Eu sou como a “vaca na Índia”, (afirmava a Felícia), querida por todos, até “adorada” por alguns; tenho livre acesso a locais onde muitos são impedidos de freqüentar, chego à casa dos amigos e não preciso tirar os sapatos para adentrar, às vezes nem preciso me anunciar, vou chegando e entrando.
São esses os motivos, que me permitem, ser feliz trezentos e sessenta e cinco dias por ano, e de quatro em quatro anos me permito ser feliz trezentos e sessenta e seis dias, assim sigo minha vida, procurando sempre dar bom humor as coisas, por mais tristes que possam parecer.
Os jovens gostavam de conversar com a “Lili”, davam a ela carinho maior que davam para as outras jovens da mesma idade, isso porque ela era uma espécie de confidente, e retribuindo, dava pra eles conselhos “sempre bem humorados”, de como poderiam superar aqueles momentos tristes.
Não notava, mas, enquanto suas amigas (que dela não tinham o menor ciúme), namoravam bastante, para ela era raro namorar, nunca deixou de ter sempre alguém que mantivesse por ela uma paixão; paixão essa, que com o passar dos dias ia se transformando em amor fraterno, seus ex-namorados transformavam-se rapidamente em “irmãos”.
E assim foi passando o tempo, horas, dias, meses, anos, décadas e a felicidade d’aquela, agora senhora, permanecia a mesma, as amizades cresceram, as pessoas continuavam, venerando o bom humor da Felícia, e com ele também a sua dona.
Passa o tempo, agora a anciã “Lili”, beira os cem anos, sempre esbanjando humor e felicidade, rodeada permanentemente por amigos, sabia que muito em breve teria de deixá-los, iria se reunir aqueles que já haviam partido, mas sabia encarar a realidade. Temos todo o mesmo destino, a certeza é a morte, mas quando partir, eu quero em minha lápide o seguinte epitáfio:
AQUI SE ENCONTRAM OS RESTOS MORTAIS DE FELICIA ALEGRETE RISO, AQUELA QUE VIVEU COMO AS VACAS NA ÍNDIA, E ASSIM COMO ELAS, “MORREU”.
E justificou: na Índia as vacas são consideradas animais sagrados, portanto morrem de velhas, e ninguém come.

domingo, 6 de dezembro de 2009

Seu Lunga - A galinha e a bacia


Estávamos vivendo momentos de completa calmaria, naquele domingo, ao longe ouvíamos sons diversos, uma música antiga, o ladrar de um cão, ou até a zoada de um motor que passava ao longe, dona Nanci falou: deve ser o carro de dona Odete, esta com o motor um pouco avariado, ela me falou ontem quando nos encontramos na feira, até me ofereceu carona, mas eu rejeitei, porque precisa muita coragem para entrar naquele calhambeque, todos riram com o tom de brincadeira como foi dita a frase.
E aí? Falou o Nivson; os visinhos têm estado sempre presentes? É claro respondeu a dona da casa, nossa vizinhança é bastante unida, e uns ajudam os outros, é uma comunidade bastante agradável de conviver. Às vezes um destoa, saindo das regras, mas nada que venha afetar o restante do pessoal, sabes como é, a convivência onde as pessoas têm quase a mesma idade, cada um vive em sua casa, e conversam sempre no final das tardes, aqui funciona quase como um condomínio fechado.
Nesse instante se ouviu uma gritaria vinda da casa do Amaurycio, eram gritos de raiva, com alguns impropérios, todos os visinhos se dirigiram para frente das casas, para ver o que estava acontecendo, isso porque não eram comuns, esses acontecimentos. Os gritos continuaram e vinham mesmo do quintal da casa do Amaurycio, que de repente aparece com uma bacia na mão, correndo atrás não se sabia de quem, logo atrás vinha a sua esposa, dona Sida, segurando o vestido longo, e pedindo: deixa ela, véio! Deixa ela!
Quem seria “ela”? O muro alto não permitia que víssemos quem era o alvo da fúria do Amaurycio, “corre para lá, corre para cá”, só se via a Sida, pedindo para que não fizesse nada com “ela”.
Foi quando vimos alçando vôo por cima do muro, totalmente desesperada, a peladinha, uma galinha caipira de estimação da Sida, e logo atrás dela voando na mesma altura, mas com velocidade muito maior, a bacia, que o homem até aquele momento tinha mantido nas mãos, como uma arma demolidora.
Mas, a experiente galinha desviou no momento exato que seria atingida, e a bacia novinha, continuou voando, e como um disco voador, posou sobre uma mangueira a metros de distancia da casa do Amaurycio, e em um local onde o velho “Lunga” só poderia alcançar se subisse na arvore (coisa impossível para o ancião Amaurycio), que em seguida apareceu no portão, tentando justificar para a vizinhança seu ato.
Pessoal, imaginem que essa galinha de uns dias para cá, tem ficado muito desobediente, estava ciscando no quintal; eu pedi para ela parar, uma, duas, três vezes, ela não obedeceu, quando eu pedi pela quarta vez, ela ficou zombando de mim, cantando sem parar, quanto mais eu falava mais ela cantava, então não tive outra alternativa senão, dando-lhe uma surra de bacia.
Só que a Sida passou a semana toda chorando, porque a sua galinha de estimação, passou por cima do muro, e continuou em sua fuga salvadora, caindo no quintal não se sabe de quem. Só que na quarta feira, apareceu no lixo da casa do Amaurycio uma sacola com as penas da peladinha, que em sua fuga louca foi parar exatamente no quintal de quem gostava bastante de comer galinha caipira.

UMA FÁBULA - FUGA ESTRATEGICA


Depois de 40 anos de labuta, estava aquele executivo, pronto para sua aposentadoria, trabalhou durante tudo o tempo, sem se importar com esse momento, dizia ser um premio, por ter conseguido se manter no mesmo emprego, e com uma dedicação impar.
É chegado o momento de mais 40 anos apenas no lazer, e sorria feliz; os amigos davam o maior apoio. Pronto chefe: agora esperamos encontrá-lo, sem esse terno quente, vestindo uma roupa esporte e dando suas voltas pela praia, apreciando as belezas da natureza, e das garotas de fio dental, desfilando somente para o senhor, (e todos riam dando tapinhas de carinho nas costas do executivo).
Então chegara o dia tão esperado, sexta feira, 21 de dezembro, final de ano, festas natalinas, confraternização universal, início do verão, tudo contribuindo para que desse certa a nova vida do Dr. Wallace.
Na empresa, prepararam uma festa de despedida, do patrão recebeu de presente, um carro zerinho, e dos companheiros, assinatura anual dos dois maiores jornais da cidade, (esse presente é para que o senhor esteja sempre atualizado), e para não perder o costume que é bastante salutar, (falaram), e nesse clima de total alegria vai para casa, o Dr. Wallace Nunes de Melo, engenheiro e administrador de uma grande empresa.
Final de semana tranqüilo, com os amigos sempre presentes, desejando bons dias futuros para o novo aposentado, quando chega à primeira segunda feira do aposentado. Como de costume, acorda cedinho, toma banho e vai ou quarto por o terno para mais um dia de labuta, quando é surpreendido pela esposa que diz: agora, estás aposentado homem! Põe o short e vá a praia aproveitar teu primeiro dia da aposentadoria, (ele havia esquecido).
Foi para o terraço, leu os dois jornais, tomou um suco trazido pela empregada, chamou a esposa e comunicou: vou fazer uma caminhada, aproveitar o sol que está bastante convidativo. Pôs um tênis, colocou o gorro sobre a cabeça e saiu, algum tempo depois volta, e olhando para o relógio vê que ainda são dez horas da manhã. Senta novamente no terraço, tira os tênis, apanha um dos jornais já lido, abre na página de entretenimentos, faz as palavras cruzadas, volta o olhar para o relógio; 10h30min, (o que fazer)?
Foi nesse exato momento que o seu cão, um perdigueiro “de raça pura”, passa por ele abanando a calda alegremente, quem sabe dando a ele as boas vindas, seria para o cão uma companhia bastante agradável, e para ele, o cão seria de agora em diante sua válvula de escape contra o stress.
Ato contínuo; pôs a coleira no animal, caminhou em direção a torneira do jardim, retirou dos pés o chinelo, apanhou a mangueira e deu “aquele” banho no cachorro, banho com direito a xampu e tudo mais.
- Na terça feira, o mesmo ritual do dia anterior: banho matinal, desjejum, terraço, leitura dos jornais, e inovou. Antes de sair para caminhar, fez as palavras cruzadas, olhou para o relógio, 8h15min, chamou o cachorro, colocou a coleira no animal, e saíram os dois a passear pela praia.
Quando cansou de idas e vindas, tendo sempre ao lado seu companheiro, resolveu voltar para casa; no portão, olha para o relógio, l0h30min, deixa o perdigueiro “de raça pura”, amarrado junto a torneira do jardim, retira o par de tênis, volta e da aquele banho no cachorro, (era dia de natal).
Quarta feira, após uma noite de festa, acordou um pouco mais tarde; antes do banho, sentou no terraço, leu os jornais, voltou ao quarto, tomou banho, sentou-se à mesa para tomar o café da manhã, (estava um pouco ressacado), tomou apenas um suco de laranjas, foi ate a casinha de seu “amigão”, ele não estava, resolveu sair sozinho, comunicou a esposa, e foi fazer uma pequena caminhada, voltou logo em seguida. Como de costume, consultou o relógio para sabes a hora: l0h35min abanou a cabeça e se dirige ao quintal.
Foi até a casinha do velho perdigueiro, não o encontrou, procurou por toda a casa, nada do cão, busca d’ali, busca d’aqui, (nada), foi quando a babá, gritou: ele está aqui em baixo da minha cama, todo amuado, tentei tirá-lo,quis me morder. Deve estar doente; está nada! Ele está com medo de tomar banho, (afirmou o aposentado), mas ele não vai me escapar, gosto de cachorro limpo, e, retirou o animal de baixo da cama, levou-o ate o jardim, e nesse dia caprichou no banho.
Quinta feira, 26 de dezembro, aniversário de seu irmão caçula, hoje teria o dia cheio de “trabalho”, o irmão estava de férias, e tinha solicitado sua ajuda, para organizar a comemoração de logo mais a noite, marcou para se encontrarem às 13h30min. Logo após o desjejum, resolveu que antes de sair para a caminhada, ou ler o jornal, daria logo banho no perdigueiro “de pura raça”, preparou o ambiente, abriu o xampu novo, conferiu o cheiro, e foi em busca de seu “parceiro de caminhadas”, ele o esperava de dentes a amostra, os olhos do animal demonstrava que aquele ritual, não o agradava de forma nenhuma. Banho todos os dias, em um cachorro? A esposa olhava preocupada.
Mas depois de muita luta o homem, totalmente suado, conseguiu retirar o bicho de seu refúgio, e a grandes brigas, deu no animal o banho de todos os dias. Durante o restante do dia ninguém viu mais o cachorro perambulando por dentro de casa. Quase a noite foi visto escondido na área de serviço, por trás da máquina da lavar, (naquele dia ele não comeu nada).
Sexta feira, o aposentado só voltou para casa depois do almoço; quando entrou em casa, foi logo perguntando para a empregada, onde estará aquele vira-latas perdigueiro “de raça pura”? - Esteve por aqui o dia todo (respondeu a mulher), mas, quando ouviu o motor do carro foi direto para o fundo do quintal. Se ele pensa que hoje vai escapar do banho está completamente enganado, (retrucou o dono da casa), e, do jeito que estava vestido, apanhou a coleira e foi buscar o animal, que resignado, e arrastado como se fosse um brinquedo, deixando as marcas de suas paras riscadas no chão, foi conduzido ao jardim, e lá, sem esboçar nenhuma reação, deixou que o aposentado externasse todo seu stress, dando-lhe banho.
Sábado; a Sr. Dr. Wallace Nunes de Melo, (agora apenas um aposentado), resolveu: iria ao shopping comprar presentes para ser distribuídos no ultimo dia do ano. Foi até a garagem, ligou o motor do veículo, acionou o controle remoto, para abrir o portão, foi devagar, movimentando o carro, para fora da casa. Não notou que logo atrás, toda agachada, seguindo o carro, uma figura branca, toda malhada com pontos pretos, e de quatro patas, se esgueirava de mansinho, e num passe de mágica, saiu, em desabalada carreira, no sentido contrário ao do veículo, o senhor voltou a acionar o controle, e o portão se fechou logo em seguida.
Quando de sua volta, procurou “seu amigo” para juntos fazerem sua caminhada (só que naquele dia seria a tarde), não o encontrou dentro e nem fora da casa, apesar de ter percorrido todo o bairro, de pé e de carro, ninguém tinha visto o animal de estimação do casal, Wallace e Lucia Nunes de Melo.
Dois dias depois receberam uma ligação telefônica de um amigo que tinha ido passar o final de ano no estado visinho, afirmando que havia visto o perdigueiro “de raça pura”, e quando ele parou o carro e chamou o animal pelo nome, ele olhou, e sem pensar, entrou no mate em desabalada carreira.
O casal Nunes de Melo, definitivamente, tinha perdido seu animal de estimação.
E como toda fábula tem que terminar com uma frase, que é característica.
Moral da história: Aposentado em casa, nem o cachorro agüenta.

CORDEL MÁXIMO


Agora vou lhes contar
um causo muito importante,
que aconteceu na cidade,
de um lugar muito distante,
quem souber onde ela fica,
é que foi participante
e fez parte da história,
que é muito interessante.

A historia aqui contada,
me leiam com atenção,
só quero causar transtorno
a quem ler na contra-mão,
vou começar a narrar,
a historia do Janjão,
morador dessa cidade,
bem no meio do sertão.

João Maria Machado,
filho do velho Zezão,
sujeito bem conhecido,
no meio da multidão,
por ser valente e calado
pra não chamar atenção,
teve apenas um filho,
com Maria Canelão.

A cidade é conhecida
e fica do outro lado
do riacho piancó,
mas tomem muito cuidado.
Os que nascem na cidade,
nascem meio avantajados,
tanto eles quanto elas,
por todos muito invejados.

As mulheres da cidade
se acham boas demais,
pra agüentar os jumentos,
velho, menino ou rapaz,
que já nascem bem dotados,
com bilau grande demais,
elas, bem apessoadas.
E não ficam para traz.

O garoto João Maria,
parecia diferente
dos homens desse lugar,
mas vivia bem contente,
andava bamboleante,
no meio de toda gente,
não ligava pras fofocas,
do povão ou de parente.

As pessoas assim falavam:
prestem atenção minha gente,
as mulheres aqui se queixam,
do que agüentam na frente,
imaginem esse garoto,
de trejeito diferente,
agüentando no traseiro,
a rajada do Vicente.

O Vicente era famoso,
por ser, MUITO, ATÉ DEMAIS,
só quem podia com ele
era Maroca do Brás,
a quenga mais afamada,
da rua dos carcarás,
que é onde fica a zona,
da cidade meu rapaz.


Maroca tinha um parceiro,
o garoto diferente,
que dividia com ela,
os carinhos do Vicente,
semana comia um,
o outro ta no pendente,
nenhum deles reclamava,
pois viviam bem contente.

Alem de tudo o rapaz,
que era bem delicado,
agradava todo mundo,
dentro do povoado,
quem quisesse tinha vez,
menos quem fosse casado,
porque o Janjão falava,
sou homem, não sou viado.

Os homens se reuniram,
mesmo no meio da praça,
do jeito que a coisa vai,
vamos ficar na desgraça,
vamos expulsar o Janjão,
para limpar a nossa raça,
temos que tirá-lo daqui,
nem que seja por pirraça.

Calma, amigos! Por favor,
vamos falar com Zezão,
pai do garoto sapeca,
será que ele sabe ou não?
Se souber vai ser danado,
ele é valente e brigão,
tanto ele quanto a mãe,
a Maria Canelão.

Biu mago formou o grupo,
criaram uma comissão,
foram pra casa do Zé,
parecia procissão,
havia gritos de comando,
nessa organização,
hoje expulsamos a bichinha,
conhecida por Janjão.

Quando chegaram na casa,
o Janjão pulou na frente,
mas me digam por favor,
o que ta havendo, gente?
Você ta dizendo que é homem,
falando feito o tenente,
se puder provar que prove,
ou então saia da frente.

Provo sim, que eu sou homem,
e já vou lhe definindo,
sou homem sim meu senhor,
tanto indo quanto vindo,
que dê um passo a frente,
quem achar que estou mentindo,
que ele agüente chorando,
o que eu agüento sorrindo.

Todos ali se calaram,
e olharam para o chão,
alguém gritou: ta é certo,
a garotinha Janjão,
vamos voltar lá prá praça,
tomar nosso chimarrão,
depois é que vamos ver,
se tem outra solução.

Vamos torná-la mascote,
filha única do Zezão,
propagar por todo canto,
que o nosso garanhão,
não é homem nem mulher,
e diz que é bem machão,
ele anda para traz,
de RÉ, E NA CONTRA MÃO.

E assim ficou definido,
tudo sério e sem graça,
o maior homem do lugar,
é homem de muita rala,
toma cana de cabeça,
não tem medo de cachaça,
vamos homenageá-lo,
com uma estátua na praça.

Cento e trinta e dois


Chegaram os sessenta e seis, / motivo pra me alegrar,/ fizemos muitos amigos,/ e poucos, deixa pra lá, /aqueles que ainda estão, /servem para amenizar,/ os momentos de tristezas,/ o resto da pra agüentar.
Lembro-me quando criança, /brincava muito, e corria, /meus velhos sempre ensinavam,/ande em boa companhia,/com os bons terás o bom,/ com os maus só covardia,/ aqueles que são amigos,/ terás sempre todo dia.
Assim foi passando o tempo,/ até me tornar rapaz,/ jovem, belo e vigoroso,/ fazia o que o jovem faz,/ namorar, dançar, curtir,/ estudar até demais,/ e assim seguia a vida,/ nem olhava para traz.
Com vinte e um me casei,/amava e continuo amar,/ minha eterna namorada,/ carinho demais pra dar,/vivemos muito unidos,/ nada tenho a reclamar,/ se ela não existisse,/ eu mandava fabricar.
É minha melhor amiga,/ uma esposa perfeita,/ dona de casa sem par,/ carinho nunca rejeita,/nos momentos de tristezas,/ transforma tudo e ajeita,/ deixando-me mais seguro,/meu Deus, que mulher porreta.
Fizemos juntos três filhos, /dois homens e uma mulher,/ orgulhos do velho pai,/você sabe como é,/ nos deram mais cinco netos,/fora os de contra pé,/ até bisneto já tenho,/flores lindas alegram nosso sapé.
Alegria é o meu lema./ respeitador com prazer,/ amigo de meus amigos,/ inimigos nem pra ver,/ minha família é meu dia,/ minha noite, o amanhecer,/ minha estrada, meu rumo,/meu destino meu lazer.
Quando olho para traz,/ não vejo missão cumprida,/olho pra frente, e vejo,/ uma estrada bem comprida,/ cheia de altos e baixos,/mas tem que ser percorrida,/ quem quiser aprender muito,/ não tenha medo me siga.
Vou lhes contar um segredo,/ e digo a todos vocês,/ medo da morte não tenho,/ digo isso com altivez,/ sei que vou muito mas longe,/ pra isso me preparei,/ estou na metade da vida,/ tenho mais sessenta e seis.

Réquiem para uma mãe


Amanhece; um sol exuberante ilumina com seus raios tudo que esta ao seu alcance, é de fato algo indescritível; para uns o máximo de exuberância, para outros apenas mais um dia que esta começando.
Será que aquele que vibra com o raiar de mais um dia é alienado, ou apenas uma pessoa, que tem a natureza como um símbolo de beleza? Como vamos identificar quem é ou não seu amante? Muito fácil: quem vibra canta hinos em louvor a mãe suprema é, e quem não, canta o réquiem à mãe natureza.
Como estamos nos comportando, ao certo em breve não conseguiremos mais ver tudo de belo que hoje temos o privilégio de ver, pois somos responsáveis diretos, e estamos assistindo a natureza aos poucos agonizando diante de nossos olhos, sem que tomemos uma atitude para salvar aquela que nos mantém vivos, parece um paradoxo, estamos matando nossa mãe.
Quando o ser humano visa apenas seu bem estar, esquece que sua sobrevivência depende da natureza; o homem sente-se feliz quando em finais de semana junta sua família e se refugia em lugares bucólicos, onde a mãe natureza mostra toda sua exuberância, sem cobrar dele nada, apenas que contribua para preservá-la sempre bela. Logo que se afasta do lugar conta aos amigos sempre vibrando do local onde esteve, mas em seguida começa a destruição, poluindo, degradando o meio ambiente, danificando as paisagens, sem o menor escrúpulo. Mas isso ele não conta para os amigos.
Estamos todos vendo ela aos pouco sendo destruída, sem a menor piedade, as autoridades que deveriam criar leis de preservação, criam leis que favorecem a destruição, o desmatamento.
Onde estão as matas ciliares, que favorecem a preservação das nascentes, a manutenção das margens, protegendo os rios contra o assoreamento.
Temos que tomar imediatamente uma atitude, sob pena de que as gerações futuras não tenham o direito como nós estamos tendo de convivermos e interagirmos com o que existe de mais belo, a natureza.
Estamos caminhando a passos largos, no sentido de não permitirmos que nossos “filhos” sobrevivam, estamos sendo mentores de uma fase em que mata atlântica, nascente de rios, manguezais, caatingas, vales, pantanais, lagos, florestas, geleiras, paraísos naturais e outros, sejam apenas fotos e pinturas expostas em grandes museus, para serem observadas por indivíduos que sejam obrigados a manter sobre seu corpo, tanques ou reservatórias de oxigênio que auxiliem sua respiração, isso porque sem o uso permanente desse apetrecho, os homens estarão condenados a não sobrevivência em um planeta inóspito, e totalmente inviável a sobrevivência do ser humano.
Seremos um planeta onde montanhas de sal serão observadas, por telescópios, super potentes localizados a milhares de quilômetros acima de nossas cabeças, sal esse advindo do sistema de dessalinização dos oceanos, que aos poucos irão sumindo, provocando grandes catástrofes que em progressão geométrica vão eliminando a grande população de um planeta outrora chamado terra.

Um perfume para Gardeania


1
Esse causo, não é causo,
lhes conto com emoção,
quero que todos entendam.
e prestem bem atenção,
é fato bem verdadeiro,
que aconteceu no sertão,
por volta do mês de junho,
pós festa de são João,
2
Os garotos festejavam,
e comiam pra valer,
de tudo comiam um pouco,
canjica, pamonha, pavê,
bacalhau feito na panela,
com azeite de dendê,
o Cardoso comeu tanto,
que chegou adoecer.
3
No dia seguinte Cardoso,
teve que ir trabalhar,
pois tinha serviço certo,
e tinha que entregar,
senão perdia o contrato,
e não podia falhar,
desse, viriam mais outros,
e grana para comprar,
4
sapato e vestido novo,
pra mais bela do lugar,
sua amada , namorada,
a Gardeania Guaraná,
irmã do Zeca paçoca,
empresário popular,
que fabricava bonecos,
pro povo mamulengar.
5
0 Zeca olhava Cardoso,
de um jeito diferente,
o Cardoso era gordinho,
mas um cara boa gente,
namorava a sua mana,
ele ficava contente,
sabia que era a chance,
dela não virar semente.
6
Mas vamos voltar ao Cardoso,
com sua barriga inchada,
ele peidava demais,
mesmo estando na calçada,
os colegas reclamavam,
manda o Cardoso pra casa,
e o Cardoso respondia,
parece que comi brasa
7
O gorducho procurou,
o banheiro no quintal,
mas ele estava ocupado,
pelo famoso Pascoal,
que esteve também a noite,
na festa do arraial,
foi cagar dentro da lata,
tapem a venta pessoal!
8
E dessa forma foi feito,
o despacho do Cardoso,
cagou tudo numa lata,
e não pediu nem socorro,
pois estava aliviado,
de todo aquele transtorno,
depois do serviço feito,
limpou o “seu” com o gorro.
9
Cardoso fechou a lata,
tampando bem direitinho,
colocou atrás do muro,
e saiu bem de mansinho,
amanhã eu volto aqui,
deixo tudo bem limpinho,
agora volto ao trabalho,
terminar meu bonequinho.
10
Os dias foram passando,
sem o Cardoso lembrar,
do que estava na lata,
que ele tinha de limpar,
7 dias se passaram,
ele lembrou e foi lá,
quando olhou para a lata,
disse ela vai é estourar.
11
Mal ele saiu d’ali,
um estrondo aconteceu,
e quem estava na rua,
pra casa logo correu,
parece que é trovão,
mas a chuva não choveu,
em vez de cair água,
só mal cheiro aconteceu.
12
Durante mais de 10 dias,
a catinga foi geral,
fedia em todo o bairro,
fedia na capital,
mandem chamar o bombeiro,
gritava o pessoal,
já localizamos a fonte,
ta no fundo do quintal.
13
O Cardoso todo sem graça,
só fazia comentar,
quem terá sido o artista,
que não quer se identificar,
vamos dar a ele um premio,
como o primeiro lugar,
inventor dessa aroma,
a qual vamos batizar.
14
E foi assim dessa forma,
que surgiu novo perfume,
o perfume de Gardeania,
feito com um bom estrume,
do Cardoso tocador,
que não tinha nem ciúme,
por isso ficou feliz,
pois saiu dessa impune.
15
Parece que era segredo,
a historia aqui contada,
fiquem certo que a verdade,
um dia é revelada,
mesmo sendo do Nordeste,
o autor dessa jornada,
que revelou o segredo,
do Cardoso camarada.
16
Jovens, prestem atenção,
O que passou ta passado,
Tamos só de brincadeira,
Agora é ele afamado,
Conhecido no lugar,
Eita cabra arretado,
Seu nome esta bem acima,
E muito bem revelado.

Angu sem Caroço


Quando o Cabral que era Pedro,/ quis descobrir o Brasil,/ escolheu um dia bom,/ era primeiro de abril,/ saiu de Lisboa manguaçado,/ assim mesmo conseguiu,/ em sua jangada tosca,/ formar um bom pastoril.

Chamou Dom Pedro segundo,/ pra tocar seu violão,/ pediu a dona Izabel,/ segura meu rabecão,/ que hoje aqui vai ter festa,/ brincadeira de salão,/ seu par vai ser Tiradentes,/ o Sardinha, capelão.

Oh Pero! Vás, com a minha,/ lá pro fundo do quintal,/ avisa que o Conde deu,/ a guitarra e o berimbau,/ pro Padre Feijó, sem saia,/ que escondia o bilál,/ fantasiado de Adão,/ pra brincar no carnaval.

Escreve aí, Deodoro,/ o que vamos descobrir,/ começamos na Bahia,/ e vamos pro Piauí,/ piar de ponta cabeça,/ correr, trepar, e subir,/ no pau de sebo da praça,/ beber, pagar, e sair.

Dom João Sexto olhava o Quinto,/ olhava e não via nada,/ tinha perdido os óculos,/ na festa da madrugada,/ a carraspana foi boa,/ com cana bem preparada,/ pelo Getulio, o Vargas,/ o melhor da cachaçada.

A frota foi preparada,/ com três jangadas bonitas,/ Maria, Pinta e Nina,/ de velas muito esquisitas,/ feitas com rede de pesca,/ e enroladas com fitas,/
bordadas com lantejoulas,/ construídas por Anita.

O Luiz, que é bom de tapa,/ conhecido Por Caxia,/ gritava, todos a bordo,/ a jornada se inicia,/ vamos atravessar o mangue,/ cantando a Ave Maria,/ não tenham medo do vento,/ aqui tudo é calmaria.

Viajaram por três dias,/ e foi assim pessoal,/ que durante essa viagem,/ de festança e bacanal,/ que os índios brasileiros,/ com suas nudez total,/ criaram o Pierro ut,/ inventaram o carnaval.

Quando chegaram; a praia/ estava quase um deserto,/ desceram de seu transporte,/ que já estava repleto,/ de presentes e bugigangas,/ distribuídos correto,/ com os farofeiros na areia,/ que protestavam, por certo.

Cabral ficou arretado,/ gritava: assim não vai dar!/ Vamos formar uma fila,/ temos que organizar,/ primeiro chamem o Lula,/ que gosta de enrolar,/ o povo besta e pacato,/ deste país popular.

No Lula faltava o dedo,/ mindinho em uma mão,/ quem foi que comeu o dedo?/ O Felipe Camarão,/ queria comer Lula todo,/ mas ele deu um puxão,/ deu um pulo do riacho,/ tu vai é comer é o cão.

Deodoro deu um grito./ INDEPENDÊNCIA OU MORTE!/ Se alguém escapar dessa,/ é que vai ter muita sorte,/ sorte ali e pegue aqui,/ quero fugir desse corte,/ depois de toda essa trama,/ não tem pau que não entorte.

Os Conselhos do Antonio,/ era para apaziguar,/ os ânimos que no momento,/ estavam pra estourar,/ tira d’alí, e põe aqui,/ todos queriam enricar,/ o ouro corria solto,/ se roubam, vamos negar.

O Dom João tomou ciência,/ do que estava acontecendo,/ chamou logo o Calabar,/ e foi logo lhe dizendo,/ vá direto pro Brasil,/ e logo vás escrevendo,/ me diz tudo direitinho,/ como eles estão procedendo.

Cala; cala, esse safado,/ gritou alguém na retreta,/ cortemos a perna dele,/ ela vai ficar perneta,/ leva ele lá pra mata,/ só com a perna direita,/ será o Saci agora,/ do folclore, um capeta.

De repente fez-se silêncio./ era Mauricio, o Nassau,/ que chegou de bicicleta,/ com sua perna de páu,/ trazia junto o Pereira,/ que Duarte pega mal,/ com todas as prostitutas,/ vindas lá de Portugal.

O frade foi pro convento,/ que fica lá na charneca,/ e foi se infiltrar na turma,/ conhecida por careca,/ se escondeu da batalha,/ feita com arco e fecha,/ quando o povo o encontrou,/ botaram o Frei na Caneca.

Estava desorganizado/ alguém tem que organizar,/ chamemos o Borba Gato,/ ele é quem vai desbravar,/ do Oiapoque ao Chuí,/ teremos que conquistar,/ são as ordens do monarca./ nosso rei, mas popular.

O Barba, Sena e Quina,/ que jogava dominó,/ pegou, três índias novinhas,/ enroladas com cipó,/ dizia ninguém encosta,/ se chegar vai ter nopró,/ não tirem minhas meninas,/ essas são de um cara só.

Tentaram, fazer chantagem,/ o Barba não consentiu,/ armaram ate cilada,/ mas o Barba não caiu,/ olhava só de relance,/ lá para a beira do rio,/ quando tentaram lhe roubar,/ pegou as índias e fugiu.

Quando Dona Leopoldina,/ chegou naquela estação,/ já estavam lhe esperando,/ João Cabral, o Neto do escrivão,/ dona Beija a beijoqueira,/ que cantava o capitão,/ conhecido por Bondoso,/ Virgolino o Lampião.

J K, plantava as arvores,/ que chegavam de Natal,/ capital da Paraíba,/ rainha do laranjal,/ local onde um boi voava,/ bem na beira do canal,/ puxado por uma corda,/ por Mauricio de Nassau.

Onde esta o presidente?/ perguntaram abismado,/ ele deve estar voando,/ como? Se ele não é alado!/ Mas ele nunca trabalha!/Assim mesmo ele é amado,/ quem trabalha não tem tempo,/ de ficar, rico abastado.

Quando aportaram em Minas,/ no meio de matagal,/ chamaram o comandante,/ o Pedro Álvares Cabral,/ aqui estamos no centro,/ desse país colossal,/ que vamos fazer agora?/ Construir a capital!

Vamos chamar de Brasília,/ será um lugar bonito,/ sem cruzamentos de vias,/ quero deixar tudo escrito,/ construiremos o Congresso,/ esplanada pra ministro,/ um palácio pra ex operário,/ que é pra ele ficar rico.

Vamos construir um lago,/ cheio de caldo de cana,/ onde todos os trambiqueiros,/ lavarão, a sua grana,/ ganhas de forma espúrias,/ mas serão só os bacanas,/ os pobres ficam de fora,/ tomando banho na lama.

Será um país bonito,/ com praias de norte a sul,/ sol durante o ano todo,/ e não haverá buruçu,/ mesmo os grandes roubando,/ não querem fazer zunzum,/ os ladrões estão é certos,/ prisão? Não sai pra nenhum.

É assim meu pessoal,/ que formaram nosso país,/ que lá fora é conhecido,/ como lar dos cariris,/ que furtam em todos os estágios,/ larápios, que assalta em xis,/ quem observa de longe,/ vê que somos dois Brasis.

Um que muitos só trabalham,/ outro pra poucos ganhar,/ um onde o povo sofre,/ com impostos pra pagar,/ no outro ficam com tudo,/ com políticos a gargalhar,/ ficando com toda a grana,/ mas se elegem sem parar.

É assim que funciona,/ 509 anos de carnaval,/ o povo, todos, palhaços,/ políticos, cara-de-pau,/ porta bandeira sem dedo,/ politicagem total,/ a música em forma de frevo,/ é o Hino Nacional.

De escrever essa história,/ fiquei com dor no pescoço,/ dizem que é torcicolo,/ quem diz é doutor de osso,/ mas essa dor não é dor,/ de certa forma, é o esforço,/ de mexer essa panela,/ com nosso ANGU SEM CAROÇO.