domingo, 6 de dezembro de 2009

Seu Lunga - A galinha e a bacia


Estávamos vivendo momentos de completa calmaria, naquele domingo, ao longe ouvíamos sons diversos, uma música antiga, o ladrar de um cão, ou até a zoada de um motor que passava ao longe, dona Nanci falou: deve ser o carro de dona Odete, esta com o motor um pouco avariado, ela me falou ontem quando nos encontramos na feira, até me ofereceu carona, mas eu rejeitei, porque precisa muita coragem para entrar naquele calhambeque, todos riram com o tom de brincadeira como foi dita a frase.
E aí? Falou o Nivson; os visinhos têm estado sempre presentes? É claro respondeu a dona da casa, nossa vizinhança é bastante unida, e uns ajudam os outros, é uma comunidade bastante agradável de conviver. Às vezes um destoa, saindo das regras, mas nada que venha afetar o restante do pessoal, sabes como é, a convivência onde as pessoas têm quase a mesma idade, cada um vive em sua casa, e conversam sempre no final das tardes, aqui funciona quase como um condomínio fechado.
Nesse instante se ouviu uma gritaria vinda da casa do Amaurycio, eram gritos de raiva, com alguns impropérios, todos os visinhos se dirigiram para frente das casas, para ver o que estava acontecendo, isso porque não eram comuns, esses acontecimentos. Os gritos continuaram e vinham mesmo do quintal da casa do Amaurycio, que de repente aparece com uma bacia na mão, correndo atrás não se sabia de quem, logo atrás vinha a sua esposa, dona Sida, segurando o vestido longo, e pedindo: deixa ela, véio! Deixa ela!
Quem seria “ela”? O muro alto não permitia que víssemos quem era o alvo da fúria do Amaurycio, “corre para lá, corre para cá”, só se via a Sida, pedindo para que não fizesse nada com “ela”.
Foi quando vimos alçando vôo por cima do muro, totalmente desesperada, a peladinha, uma galinha caipira de estimação da Sida, e logo atrás dela voando na mesma altura, mas com velocidade muito maior, a bacia, que o homem até aquele momento tinha mantido nas mãos, como uma arma demolidora.
Mas, a experiente galinha desviou no momento exato que seria atingida, e a bacia novinha, continuou voando, e como um disco voador, posou sobre uma mangueira a metros de distancia da casa do Amaurycio, e em um local onde o velho “Lunga” só poderia alcançar se subisse na arvore (coisa impossível para o ancião Amaurycio), que em seguida apareceu no portão, tentando justificar para a vizinhança seu ato.
Pessoal, imaginem que essa galinha de uns dias para cá, tem ficado muito desobediente, estava ciscando no quintal; eu pedi para ela parar, uma, duas, três vezes, ela não obedeceu, quando eu pedi pela quarta vez, ela ficou zombando de mim, cantando sem parar, quanto mais eu falava mais ela cantava, então não tive outra alternativa senão, dando-lhe uma surra de bacia.
Só que a Sida passou a semana toda chorando, porque a sua galinha de estimação, passou por cima do muro, e continuou em sua fuga salvadora, caindo no quintal não se sabe de quem. Só que na quarta feira, apareceu no lixo da casa do Amaurycio uma sacola com as penas da peladinha, que em sua fuga louca foi parar exatamente no quintal de quem gostava bastante de comer galinha caipira.

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