domingo, 6 de dezembro de 2009
UMA FÁBULA - FUGA ESTRATEGICA
Depois de 40 anos de labuta, estava aquele executivo, pronto para sua aposentadoria, trabalhou durante tudo o tempo, sem se importar com esse momento, dizia ser um premio, por ter conseguido se manter no mesmo emprego, e com uma dedicação impar.
É chegado o momento de mais 40 anos apenas no lazer, e sorria feliz; os amigos davam o maior apoio. Pronto chefe: agora esperamos encontrá-lo, sem esse terno quente, vestindo uma roupa esporte e dando suas voltas pela praia, apreciando as belezas da natureza, e das garotas de fio dental, desfilando somente para o senhor, (e todos riam dando tapinhas de carinho nas costas do executivo).
Então chegara o dia tão esperado, sexta feira, 21 de dezembro, final de ano, festas natalinas, confraternização universal, início do verão, tudo contribuindo para que desse certa a nova vida do Dr. Wallace.
Na empresa, prepararam uma festa de despedida, do patrão recebeu de presente, um carro zerinho, e dos companheiros, assinatura anual dos dois maiores jornais da cidade, (esse presente é para que o senhor esteja sempre atualizado), e para não perder o costume que é bastante salutar, (falaram), e nesse clima de total alegria vai para casa, o Dr. Wallace Nunes de Melo, engenheiro e administrador de uma grande empresa.
Final de semana tranqüilo, com os amigos sempre presentes, desejando bons dias futuros para o novo aposentado, quando chega à primeira segunda feira do aposentado. Como de costume, acorda cedinho, toma banho e vai ou quarto por o terno para mais um dia de labuta, quando é surpreendido pela esposa que diz: agora, estás aposentado homem! Põe o short e vá a praia aproveitar teu primeiro dia da aposentadoria, (ele havia esquecido).
Foi para o terraço, leu os dois jornais, tomou um suco trazido pela empregada, chamou a esposa e comunicou: vou fazer uma caminhada, aproveitar o sol que está bastante convidativo. Pôs um tênis, colocou o gorro sobre a cabeça e saiu, algum tempo depois volta, e olhando para o relógio vê que ainda são dez horas da manhã. Senta novamente no terraço, tira os tênis, apanha um dos jornais já lido, abre na página de entretenimentos, faz as palavras cruzadas, volta o olhar para o relógio; 10h30min, (o que fazer)?
Foi nesse exato momento que o seu cão, um perdigueiro “de raça pura”, passa por ele abanando a calda alegremente, quem sabe dando a ele as boas vindas, seria para o cão uma companhia bastante agradável, e para ele, o cão seria de agora em diante sua válvula de escape contra o stress.
Ato contínuo; pôs a coleira no animal, caminhou em direção a torneira do jardim, retirou dos pés o chinelo, apanhou a mangueira e deu “aquele” banho no cachorro, banho com direito a xampu e tudo mais.
- Na terça feira, o mesmo ritual do dia anterior: banho matinal, desjejum, terraço, leitura dos jornais, e inovou. Antes de sair para caminhar, fez as palavras cruzadas, olhou para o relógio, 8h15min, chamou o cachorro, colocou a coleira no animal, e saíram os dois a passear pela praia.
Quando cansou de idas e vindas, tendo sempre ao lado seu companheiro, resolveu voltar para casa; no portão, olha para o relógio, l0h30min, deixa o perdigueiro “de raça pura”, amarrado junto a torneira do jardim, retira o par de tênis, volta e da aquele banho no cachorro, (era dia de natal).
Quarta feira, após uma noite de festa, acordou um pouco mais tarde; antes do banho, sentou no terraço, leu os jornais, voltou ao quarto, tomou banho, sentou-se à mesa para tomar o café da manhã, (estava um pouco ressacado), tomou apenas um suco de laranjas, foi ate a casinha de seu “amigão”, ele não estava, resolveu sair sozinho, comunicou a esposa, e foi fazer uma pequena caminhada, voltou logo em seguida. Como de costume, consultou o relógio para sabes a hora: l0h35min abanou a cabeça e se dirige ao quintal.
Foi até a casinha do velho perdigueiro, não o encontrou, procurou por toda a casa, nada do cão, busca d’ali, busca d’aqui, (nada), foi quando a babá, gritou: ele está aqui em baixo da minha cama, todo amuado, tentei tirá-lo,quis me morder. Deve estar doente; está nada! Ele está com medo de tomar banho, (afirmou o aposentado), mas ele não vai me escapar, gosto de cachorro limpo, e, retirou o animal de baixo da cama, levou-o ate o jardim, e nesse dia caprichou no banho.
Quinta feira, 26 de dezembro, aniversário de seu irmão caçula, hoje teria o dia cheio de “trabalho”, o irmão estava de férias, e tinha solicitado sua ajuda, para organizar a comemoração de logo mais a noite, marcou para se encontrarem às 13h30min. Logo após o desjejum, resolveu que antes de sair para a caminhada, ou ler o jornal, daria logo banho no perdigueiro “de pura raça”, preparou o ambiente, abriu o xampu novo, conferiu o cheiro, e foi em busca de seu “parceiro de caminhadas”, ele o esperava de dentes a amostra, os olhos do animal demonstrava que aquele ritual, não o agradava de forma nenhuma. Banho todos os dias, em um cachorro? A esposa olhava preocupada.
Mas depois de muita luta o homem, totalmente suado, conseguiu retirar o bicho de seu refúgio, e a grandes brigas, deu no animal o banho de todos os dias. Durante o restante do dia ninguém viu mais o cachorro perambulando por dentro de casa. Quase a noite foi visto escondido na área de serviço, por trás da máquina da lavar, (naquele dia ele não comeu nada).
Sexta feira, o aposentado só voltou para casa depois do almoço; quando entrou em casa, foi logo perguntando para a empregada, onde estará aquele vira-latas perdigueiro “de raça pura”? - Esteve por aqui o dia todo (respondeu a mulher), mas, quando ouviu o motor do carro foi direto para o fundo do quintal. Se ele pensa que hoje vai escapar do banho está completamente enganado, (retrucou o dono da casa), e, do jeito que estava vestido, apanhou a coleira e foi buscar o animal, que resignado, e arrastado como se fosse um brinquedo, deixando as marcas de suas paras riscadas no chão, foi conduzido ao jardim, e lá, sem esboçar nenhuma reação, deixou que o aposentado externasse todo seu stress, dando-lhe banho.
Sábado; a Sr. Dr. Wallace Nunes de Melo, (agora apenas um aposentado), resolveu: iria ao shopping comprar presentes para ser distribuídos no ultimo dia do ano. Foi até a garagem, ligou o motor do veículo, acionou o controle remoto, para abrir o portão, foi devagar, movimentando o carro, para fora da casa. Não notou que logo atrás, toda agachada, seguindo o carro, uma figura branca, toda malhada com pontos pretos, e de quatro patas, se esgueirava de mansinho, e num passe de mágica, saiu, em desabalada carreira, no sentido contrário ao do veículo, o senhor voltou a acionar o controle, e o portão se fechou logo em seguida.
Quando de sua volta, procurou “seu amigo” para juntos fazerem sua caminhada (só que naquele dia seria a tarde), não o encontrou dentro e nem fora da casa, apesar de ter percorrido todo o bairro, de pé e de carro, ninguém tinha visto o animal de estimação do casal, Wallace e Lucia Nunes de Melo.
Dois dias depois receberam uma ligação telefônica de um amigo que tinha ido passar o final de ano no estado visinho, afirmando que havia visto o perdigueiro “de raça pura”, e quando ele parou o carro e chamou o animal pelo nome, ele olhou, e sem pensar, entrou no mate em desabalada carreira.
O casal Nunes de Melo, definitivamente, tinha perdido seu animal de estimação.
E como toda fábula tem que terminar com uma frase, que é característica.
Moral da história: Aposentado em casa, nem o cachorro agüenta.
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