quarta-feira, 10 de junho de 2009

O INCOLOR




Era exatamente assim que ele se sentia. Incolor, não no sentido figurado, mas no sentido real das coisas. Achava que ninguém sabia quem de fato era ele, nunca alguma pessoa parou para cumprimentá-lo, os vizinhos nem olhavam para ele, as crianças não se identificavam com ele, e ele falava para si mesmo que era nas crianças que o governo deveria investir para garanti o futuro do país.
Contudo era incapaz de esboçar um gesto de agressividade para com as pessoas com as quais ele tentava se comunicar.
Vivia uma vidinha simples, tentando a todo custo manter um relacionamento mais demorado com quem quer que seja. Mas nada, tudo era bastante difícil para ele, mas tinha certeza que um dia tudo iria mudar. Isso aconteceria quando ele conseguisse dominar essa timidez que o consumia, será que um dia ele conseguiria transpor essa barreira?
Quando de sua infância na escola ficava sempre isolado, fazia questão se nunca está onde tivesse aglomeração de alunos, então os colegas vendo esse seu modo de agir, procuravam estar sempre longe dele, não por desprezo, mas para satisfazerem sua vontade, o isolamento.
Quando estava no ginásio, manteve o mesmo comportamento. E assim passaram-se os anos e ele permanecia incolor.
Fez concurso e conseguiu um bom emprego, no trabalho, mantinha contato com os colegas sempre em forma de memorandos, ou ofícios, não que não soubesse falar, mas, apenas pela dificuldade de comunicação, adotou esse sistema, e que até o momento estava dando certo. Via seus colegas promovidos e ele sempre permanecia ali, exercendo a mesma função, falava (consigo mesmo), essa translucidez não traz para mim nenhum benefício, e não sei como resolver isso.
Um dia recebeu através de memorando, uma mensagem diferente, (no mínimo curiosa). Estou certo (a) que junto estamos precisando de ajuda, porque não nos ajudarmos mutuamente? E assinava.
Transparente.
Quem seria essa pessoa que estava tentando manter contato? Ou seria mais uma brincadeira de algum colega tentando levá-lo ao ridículo? Ficou aflito, tentando descobrir quem seria a pessoa que tentava tirá-lo do sério?
Dois dias depois, quase no final do expediente, uma nova mensagem, dessa vez mais ousada. Vamos nos encontrar, preciso urgentemente de você, não tenha medo (mas eu estou), vamos vencer essa nossa timidez. Espero por você no estacionamento. E novamente assinava: Transparente.
E assim Incolor quando saiu do trabalho, e se dirigia a seu carro, encontrou a pessoa responsável pelos memorandos; uma linda mulher, que como ele se sentia deslocado, em meio a multidão, pela presença de uma timidez incontrolável.
E assim sempre calados, (mas se amando bastante), Incolor e Transparente, construíram uma família, e em pouco tempo tiveram seu primeiro e único filho, que hoje é conhecido entre as pessoas do lugar pelo nome de Invisível.

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