Nivaldo Melo
1
Passei a noite sonhando,
E em sonho recordando,
o meu tempo de menino.
Era magro, quase fino,
mas bonito, apessoado,
me achava bem dotado,
de amigos e camaradas.
Levantei, dando risadas,
lembrando de uma menina,
a grande amiga IDALINA,
que por ela eu tinha apreço.
Vivíamos colando os beiços
diziam ser farnizim,
na nossa infância era assim.
2
Era pau pra toda obra,
coragem tinha de sobra
e safadeza também.
Não abria nem pra um trem
na hora que ela queria.
Tanto de noite ou de dia,
quando queria ir pra farra.
Então ela me agarrava,
e corríamos para o mato,
grudados como carrapatos,
fazíamos tudo, sem medo.
Naquele momento, sossego,
era o melhor para nós.
pois estávamos ali a sós.
3
Íamos brincar de doutor.
Gemíamos sem sentir dor.
Na hora do vucovuco,
eu ficava tão maluco,
assim, um tanto abestado.
Vou dizer; acabrunhado,
sem dizer uma palavra.
Mas por dentro era só brasa,
queimando, mas sem fumaça,
quando voltava pra a praça.
Alguém gritava: olha os dois,
Então voltávamos depois,
da fuga ser esquecida.
Era essa nossa lida.
4
Eu sisudo e ela rindo.
Tremendo, quase caindo,
a perna bamba sem força,
e aquela menina moça,
falava em meu ouvido.
Disfarce, um pouco querido,
que amanhã vai ter mais.
Eu me sentia um rapaz
que já tinha até bigode.
Um dia a gente explode.
de tanto amor e paixão.
Isso eu chamo união.
Ela dizia assim:
Eu pra tu e tu pra mim.
5
Por dentro, meu coração,
solfejava uma canção,
daquelas bregas demais.
Amanhã vamos ter mais,
momentos só de amor.
Então me vinha um terror,
que me deixava com medo.
Será que naquele enredo,
alguém ia se dar bem?
Quem ama, medo não tem.
Só sente muita ternura
Que tem sabor da doçura
Do gosto do puro mel.
Era só esse o papel.
6
Nós vamos continuar.
Nem víamos o tempo passar.
E a gente foi crescendo,
de vez enquanto, nos vendo,
então voltávamos a farra.
Sempre IDALINA falava:
O nosso amor é eterno,
Já escrevi no caderno
naquele velho diário.
Nada vai dar ao contrário,
e por mais estranho que seja
não tem briga nem peleja.
Tudo isso o que vivemos,
por isso nada tememos.
7
Naquilo que planejei.
sou Rainha tu es Rei,
de nosso reino encantado.
É certo, não é errado,
quando nós estamos juntos.
Pode até virar assunto,
de vizinho fofoqueiro.
Estamos em nosso terreiro,
e não devemos temer,
o que se faz ninguém vê,
Já temos até nosso ninho,
construído com carinho.
Num local, com nossa ação
Será a nossa mansão.
8
Nossa única frustação,
é que a nossa união,
nós praticamos escondidos.
por isso afirmo e digo.
Somos livres feito aves.
O agudo nunca é grave
na vida do ser humano.
nada por baixo do pano,
tudo muito transparente.
Tu es feliz eu contente.
Focamos só no momento,
vamos curtir nosso evento.
Nele, horas são segundos.
Lá moldamos nossos mundos. .
9
Estou um pouco preocupada,
algo vem em nossa estrada,
que eu não posso saber.
Vou deixar acontecer.
No outro dia, minha gente,
muito rápido, de repente,
minha IDALINA sumiu.
Não sei se ela partiu,
pra um lugar diferente.
Perguntei pra muita gente,
que conhecia a família.
Fiquei meses em vigília,
esperando minha amada.
Semanas foram passadas,
10
Meses e anos também,
mas, notícias ninguém tem,
de minha bela IDALINA,
aquela mulher menina,
me deixou sem ter um chão.
Deixando meu coração,
Partido em vários pedaços,
e eu fiquei sem espaço.
e sem mais nada entender.
Como é que vou viver.
sem a mulher de meus sonhos?
Aquele amor tão medonho,
Me deixava sem pensar.
Onde é que vou parar?
11
Sem o meu porto seguro,
meus dias ficaram escuros.
Para mim tudo é um breu,
Onde ele se escondeu?
Só me restava esperar,
sei que um dia vai voltar.
Essa era minha esperança,
eu já não sou mais criança,
vou levantar a cabeça,
até que ela apareça.
e volte pra meu caminho,
vamos andar bem juntinhos,
caminhando sem maldade,
buscando a felicidade.
12
Já estava tudo acertado,
nós tínhamos até marcado,
dia e data da união.
Nós construímos a mansão,
com sala quarto e cozinha,
Até os moveis já tinha.
Mesa com duas cadeiras,
nosso colchão, uma esteira,
um armário com três portas
feito com madeiras tortas,
Já tinha até um sofá,
Só pra ela descansar,
dos momentos de labuta.
eu ficar só de butuca.
13
Nosso fogão de tijolo,
pra cozinhar, fazer bolo.
queimava só os paus secos
ou quando tinha espetos,
espalhados no quintal.
Eu também fiz o varal,
pra estender nossas roupas,
que ficavam muito fofas.
Secavam ao sabor do vento,
era esse nosso intento.
manter tudo direitinho,
colocando só carinho,
Isso pra nós tava escrito.
Pense num sonho bonito!
14
As louças a gente não tinha,
Encomendei pra vizinha
Mulher de um velho artesão.
- Três pratos e um caldeirão,
duas caçarolas com cabos,
nada que fosse macabro,,
ou que fosse corriqueira.
Encomendei a chaleira,
som asa e bico bem grosso,
Só pra evitar o esforço,
quando fazia o café.
Dessa forma é que é.
Tá tudo bem planejado,
nisso estávamos sossegados.
15
Tinha um grande aguedar,
pra nossa roupa lavar.
Encomendei um cuscuzeiro,
sem falar do candeeiro,
que foi feito com capricho.
Tinha a pedra de corisco,
pra segurar nossa porta.
O resto, nada importa.
Se faltar algo pra os dois
A gente compra depois.
O tempo é o melhor remédio
Não existia nem tédio.
Que nos tirasse da linha
Pois muito amor ali tinha.
16
Para mim ou pra IDALINA
aquilo era coisa fina,
como fosse ouro e prata.
Mas IDALINA era ingrata,
demonstrou quando fugiu,
sem dizer nada, sumiu.
Me deixando ali, sem rumo,
foi quando perdi o prumo,
Sem saber qual meu destino,
voltava a ser um menino.
abestado e sem maldade,
essa era a realidade,
que vivia no momento.
Estava ao sabor do vento.
17
Perdido numa estrada,
dia, noite e madrugada,
sem saber pra onde ir.
Pensei também em partir,
para a terra de pés juntos,
queria ser um defunto,
Pra não chorar de saudade.
fui embora pra cidade,
só pra ver se esquecia,
quem meu coração partia.
Mas eu tinha a esperança,
por amor, não por vingança,
de voltar a vê-la um dia.
Só pra ver o que diria.
18
Me fez sofrer por amar,
prometi não entregar,
meu coração pra ninguém.
Um dia vai, outro vem.
Conheci um novo amor
meu coração renovou
as forças quase perdidas.
Dessa forma minha vida,
voltou a tomar um rumo,
então eu disse, assumo.
esse novo caminhar.
Um dia se Deus deixar,
mesmo com uma cicatriz,
vou voltar a ser feliz.
19
Não me sinto um fracassado.
vou apagar do passado,
aquela mulher menina.
que se chamava IDALINA.
Ela, que feriu o meu peito,
de uma forma, um jeito,
que me deixou arrasado.
Agora ela é passado,
ficou lá no esquecimento,
para mim novo momento.
A vida segue adiante
quero marcar nesse instante
momento da liberdade.
E o resto? será saudade.
20
Tenho algo a construir.
minha meta é progredir,
construir nova mansão.
Dessa vez sem ter paixão,
que venha mudar meu destino,
Já não sou mais um menino,
sem nada entender da vida;
Tinha sarado a ferida,
que tanto sangrou meu peito,
tudo vai ser de meu jeito,
de uma forma bem legal.
Vou procurar um local,
Que seja belo, onde vou,
Construir meu bangalô.
21
E nada vai dar errado.
Agora estou calejado
pois vou fugir da rotina,
nem lembro mais IDALINA.
Já tenho uma nova amada,
uma mulher bem prendada,
vai ser minha companheira.
Espero que a vida inteira,
ela estará ao meu lado
só futuro, não passado,
para nós, nova existência,
não quero pedir carência,
tá tudo bem planejado.
Falta esquecer o passado.
22
Mas o destino é cruel,
desempenhou seu papel,
não sei se bom ou ruim.
Foi um choque para mim.
Me transformou em carcaça,
quando passei pela praça.
Quem estava lá? IDALINA!
cabelos soltos, uma crina,
cobrindo as costas nua,
eu parado ali na rua.
admirando a princesa,
Paralisei, com a surpresa.
fiquei, mudo, surde e sego.
Foi desse jeito não nego.
23
Voltei a queimar em brasa.
E quis voltar logo pra casa,
pensando na velha dor.
De repente ela se virou,
e veio ao meu encontro,
será que eu tava pronto?
Não. Eu, estava estatelado.
Imóvel ali, bem parado,
sem embolsar uma ação.
Veio em minha direção.
com aquele sorriso farto,
esboçou dar um abraço,
eu estava sem falar.
Então chegou devagar.
24
E pronunciou bem baixinho:
Estou aqui, menininho,
bem prontinha pra você.
Precisamos só viver,
aquilo que no passado,
que por meus pais foi tirado,
sem dó e sem compaixão.
Rompendo nossa união,
tão bela e sem preconceito,
Hoje temos esse direito.
de retomar nossas vidas,
Que foram interrompidas,
sem que pudéssemos brigar.
Tá na hora da lutar.
25
Durante todo esse tempo,
fiquei presa em um convento.
Ontem, veio a liberdade.
Vim direto pra cidade,
somente pra te encontrar.
Mas se casado está,
eu vou te compreender,
sei que não vou te esquecer,
mas vou cumprir meu destino.
Volto triste meu menino,
pra o lugar de onde vim.
Vai ser difícil pra mim.
Vou direto pra clausura,
Vou enfrentar vida dura,
26
- Falei com a voz embargada,
te procurei nas estadas,
sem saber notícias tuas,
perambulei pelas ruas,
sem rumo e sem direção,
Até o meu coração,
perdeu o jeito de amar,
por isso vou te falar.
Hoje estou quase casado,
quero amar e ser amado.
Se isso me ofereces
Meu coração só floresce,
e volta a bater mais forte.
Me afastando da morte.
27
Foi um momento gostoso,
E um beijo bem fervoroso,
selou nossa união.
Era amor, não paixão,
estava ali confirmado,
íamos voltar ao passado,
voltar pra nossa mansão.
Tava lá, nosso quinhão.
Lá tava a felicidade,
Garanto, vai ser verdade.
Nosso amor está bem novo
Cupido, nos deu socorro.,
Amarmos a todo momento,
com o amor mais intenso.
28
Mas antes da gente partir,
uma missão vou cumprir.
Vou contar toda verdade,
não quero fazer a maldade
que os teus pais nos fizeram.
Quero ser o mais sincero
com a minha noiva atual,
pois não sou um cara mal,
vou deixar bem resolvido,
o que está já definido.
Espero que ela entenda,
não quero abrir uma fenda,
no coração de ninguém.
E comigo você vem.
29
Chamamos a noiva Margor.
Ela entendeu sem furor,
A nossa situação,
nos estendeu sua mão.
desejou felicidades.
Nós partimos da cidade,
em direção ao destino,
viver nosso amor, mais fino,
um amor, sem preconceito
pois, esse é nosso direito.
de termos felicidade,
pois agimos sem maldade,
e perdoamos seus pais.
Perseguição, nunca mais.
30
Trocamos nossas mobílias,
construímos uma família,
cheia de gente bonita.
Nossa união tava escrita
naquele Livro Sagrado,
e que foi sacramentado,
pelo poder do destino.
Aquele livro é Divino,
cujas letras são em ouro.
Quem o ler acha um tesouro,
entra num reino encantado.
foi muito bem editado.
É nosso Pai o autor,
do livro chamado AMOR.
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