A
MENINA E A PEDRA
Nivaldo Melo
1
Este é mais uma história,
Do povo do interior,
Que dessa vez foi
contada,
Pelo meu velho avô,
Era um velho bem sisudo,
Mas que apesar de tudo,
Nos dava carinho e
amor.
2
Lembro como se fosse
ontem,
Meu avô todo magrinho,
Com seu cachimbo na
boca,
Chegando bem de
mansinho.
Sentava na velha
cadeira,
Gritando em tom de
brincadeira,
Boa noite meus netinhos.
3
Era aquela algazarra,
A garotada em torpor,
Ouvir histórias
contadas,
Por aquele velho senhor,
Era mais que um
privilégio,
Era a vos de um colégio,
Boa noite meu vovô!
4
A vovó vinha chegando,
Muito feliz, bem contente,
Vendo seu velho amado,
Ser menino com a gente.
Pedia a todos silêncio.
Vamos ver o que
Laurêncio.
Vai contar hoje pra
gente.
5
Ele emitia um sorriso,
Que quase ninguém
notava
Bebia um pouco de chá,
Depois que pigarreava.
Dizia, nós vamos nessa,
Pois hoje eu tou com
pressa,
Em seguida começava.
6
“No tempo de
antigamente,
Chamado de rococó,
Quando ainda
namorávamos,
Eu e essa sua velha avó,
Que as coisas
aconteciam,
Mas muitos poucos
sabiam,
E sabiam para si só.
7
Mas desde aqueles
tempos,
Que sentávamos nas
calçadas,
Para ouvir belas
histórias,
Até chegar a madrugada.
Nossos avós nos
contavam,
E todos acreditavam,
Tanto as tristes ou
engraçadas.
8
Essa que aqui vou
contar,
É uma das mais bonitas,
Uma menina, uma pedra,
Mas ela nunca foi
escrita.
Ficou na nossa memória.
Pois é uma bela
história,
Que aqui vai ser
descrita.
9
- Numa casinha de campo,
Morava um belo casal,
Com apenas uma filha,
Uma criança angelical,
De uma beleza rara,
O seu nome era Juçara,
De meiguice sem igual.
10
Todos os dias a menina,
Ia para a escola
estudar,
Tinha apenas um caminho,
Que ela tinha que
passar.
Era um caminho florido,
Todo belo e colorido,
Sempre passava a
cantar.
11
Era um solfejo bonito,
De uma música sem letra,
Daquela que nós ouvimos,
Tocadas só em retreta.
Mas era tudo tão belo,
Um solfejo tão singelo,
Cheinha de filipetas.
12
Quando passava na ponte,
Ela sempre observava,
Uma pedra muito grande,
Parecia que boiava.
Tinha um brilho
diferente,
Dessas que cega a gente,
No sol ela faiscava.
13
Outra coisa
interessante,
Era a presença de um
cão.
Um cachorro muito
grande,
Gordo como um balão,
E quando ela passava,
O rabo ele abanava,
Todo cheio de emoção,
14
E no final da tardinha,
Quando a menina voltava,
O cachorro ia á frente,
E sobre a pedra pulava,
Ela achava esquisito,
Ao mesmo tempo bonito,
E muito feliz ficava.
15
Um dia a bela menina,
Resolveu ali ficar.
Parou para olhar a
pedra,
Sem com nada se
importar.
Foi chegando sem receio,
Mas a pedra foi para o
meio,
Mudou então de lugar.
16
Ela parou de repente,
E resolveu se afastar,
Pensou em sair correndo
Rápido daquele lugar.
Mas algo a impedia,
Nem ela mesmo sabia,
Como iria se safar.
17
De repente ouve uma voz,
Vinda não se sabe
d’onde.
- Não fujas minha
menina,
De mim ninguém se
esconde.
Por mais distante que
vá,
Meu cão ira lhe buscar,
De trem, navio ou de
bonde.
18
A menina quis correr,
Mas ficou paralisada,
Ela não sentia medo,
Estava um pouco
assustada.
Só conseguia dizer,
Por favor quem é você?
Pois estou atrapalhada.
19
- Olhe acima da pedra,
Você vai ver uma luz.
É nosso símbolo sagrado,
Em forma de uma cruz.
Aponte o dedo pra ela,
Vai aparecer a tela,
Cheia de raios azuis.
20
Em seguida você fala
O código, nosso contato,
Se fizer tudo certinho,
Você vai ver seu
retrato,
Quatro palavras apenas,
Pedra, papel, cão e
pena,
Então o nó eu desato.
21
Juçara aponta o dedo,
Direto praquela luz.
Esperou alguns segundos,
Quando apareceu a cruz.
Era uma cruz tão bonita,
Dela saia umas fitas,
Mas todas elas azuis.
22
Ela ficou abismada,
Ao ver aquela beleza.
Quis dizer alguma coisa,
Mas a língua ficou
presa.
disse o código, bem serena.
“Pedra, papel, cão e
pena”
Uma voz chamou; Alteza?
23
- Bom dia, falou a voz,
Como está, sua alteza?
Está é uma bela manhã,
Pra passear, com
certeza.
Trago o cavalo alado,
Que já está arreiado,
Só esperando a
princesa.
24
Juçara muito confusa,
Nada estava entendendo,
Sua cabeça de criança,
Não tava compreendendo.
Ela não era princesa,
Tava faltando clareza,
Praquilo que estava
vendo.
25
Aonde é que estou?
Você pode me informar?
Continuo onde estava,
Sempre no mesmo lugar.
- Pode olhar pra
qualquer lado,
Está num reino
encantado,
Princesa, está no
pomar.
26
E aqui qual é meu nome?
- É a princesa Juçara.
A mais bonita princesa,
Beleza singela é rara.
Parece uma pintura,
Feita com na tela mais
pura,
Pintada por uma Iara.
27
Não devo acreditar,
Apenas em uma voz.
Uma voz vinda do nada,
Me dar um medo atroz,
- Eu estou aqui ao lado,
Sou um duende encantado,
Do reino dos esquimós.
28
Mas se sua alteza
quiser,
Eu posso ficar bem
visível,
Espero que não se
espante,
Tenho uma aparência
horrível.
Então se ouve um estalo,
Surge algo muito
incrível.
29
Era um ser muito
pequeno,
Montado naquele cão.
Com todos aqueles
arreios,
Como um cavalo alazão.
As vestes do pequenino,
Eram do ouro mais fino,
Leves como de algodão.
30
Não dava para
compreender,
Todo aquele
encantamento.
A cabeça não entendia,
Era pra ela um
tormento.
Ela se pôs a chorar,
Tentando identificar,
O porque daquele
evento.
31
Então falou o duende.
- Princesa, monte o
cavalo,
Tente se tranquilizar,
Que no caminho lhe falo,
O que está acontecendo,
E você vai entendendo,
Confie no seu vassalo.
32
Quando montou no cavalo,
Ele logo sai voando,
Ela olhando para o lado,
O cão tava acompanhando.
Era tão bela a paisagem,
Que ela disse de
passagem,
Já estou me acostumando.
33
- A senhora está aqui,
Aonde sempre viveu,
Tudo aqui lhe pertence,
Isto aqui sempre foi
seu.
Floresta, rios e jardim,
Foi por isso que eu vim,
Ao lugar onde cresceu.
34
Do alto ela avistou,
Algo que lhe comoveu,
Ela via exatamente,
O lugar onde nasceu.
O caminho o rio a
escola,
O velho pé de acerola,
Foi aí que ela desceu.
35
Por que desceu
princesinha?
- Eu preciso averiguar,
Porque tudo é tão igual,
E quem é que mora lá?
Apeou de seu alado,
Pisou naquele gramado,
Onde aprendeu andar,
36
Se dirigiu para a casa.
- Não faça isso alteza!
E porque não devo ir?
- É que vai ter uma
surpresa.
Naquele instante
aparece,
O casal que mais
conhece.
Bom dia, bela princesa!
37
Ela quase desmaiou,
Ao ver os pais bem presentes,
Olhou para o seu duende,
Que lhe sorriu entre
dentes.
Princesa vamos sentar,
Eu vou ter que lhe
contar,
Sei que vãs ficar
contente.
38
“Princesa, neste
momento,
Estamos em outra
dimensão.
Aquela pedra do rio,
Ali é nosso portão.
Tínhamos que ir lhe
buscar,
Você é que vai salvar,
A nossa população”.
39
Esse casal são meus
pais.
E com a mesma idade.
Por favor me conte tudo,
Lhe peço por caridade.
Como eu vou poder
salvar,
O povo desse lugar.
Me fale toda verdade.
40
- Nós aqui tamos vivendo,
No tempo do rococó.
Desde muitos anos atrás,
Bem antes da sua avó,
E também do bisavô,
Que aqui tudo mudou,
Foi algo muito pior.
41
Os moradores da casa,
São seus parentes
antigos,
Mais de cem anos atrás,
Do fato ter ocorrido.
Nós vamos retroceder,
A princesa vai entender,
Tudo vai ser resolvido.
42
- Como vamos
retroceder?
- Voltando para o
portal.
Falar as palavras
magicas,
De forma presencial.
Nós vamos ser
transportados.
Para mais longe, no
passado.
Vamos matar todo mal.
43
Vamos pra perto do rio,
Onde está nosso portal.
Aquela suposta pedra,
É algo tão colossal.
Quando a princesa
entrar,
Você vai se deslumbrar,
Pensar que é irreal”.
44
Chegaram a beira do rio,
Tava tudo do mesmo
jeito.
A pedra, a ponte o
caminho,
Era tudo muito perfeito,
Gritou de fora bem
serena:
Pedra, papel, cão e
pena.
- Se abre um caminho
estreito.
45
Seguiram aquele caminho,
E entraram no portal.
As paredes eram de ouro,
Diamantes e cristal.
Ela ficou deslumbrada,
Com a beleza encontrada.
Realmente, é colossal!
46
Ao saírem do portal,
Encontraram outro mundo.
As pessoas cabisbaixas,
Quase mortos,
moribundos.
Estavam muito abatidas,
Em ambiente já sem vidas,
Malvestidos, até
imundos.
47
- Mas, que lugar é
esse?
Perguntou para o duende.
- Estamos no mesmo
lugar,
Mas tem algo que nos
prende.
Por isto fomos lhe
buscar,
E você vai nos salvar,
Pra saímos do
perrengue.
48
O céu está muito escuro,
Não se vê a luz do sol.
Aqui sempre é de noite,
Não temos mas arrebol.
O dia nunca amanhece,
Tudo pra nós só parece,
Um negro e sujo lençol
49
Vamos ter que procurar,
O ponto fraco de mal.
Tentar trazê-lo para o
bem,
É o ponto principal.
E dessa forma que vou,
Trocar o mal em amor,
E transformar esse
astral.
50
Montou seu cavalo alado,
Suba o mais que você pode,
Vamos procurar o local,
Que ele mais se
incomode.
Ai daremos um jeito,
Pra deixar tudo
perfeito,
Dessa forma o mal se
explode.
51
Voaram por muitas horas,
Procurando um local,
Que fosse mais
vulnerável,
Para acabar com o mal.
Ao longe um pontinho
branco,
Deve ser naquele canto,
Nevrálgico do marginal.
52
No lugar tinha uma
placa,
Que tava escrito SOU
TERROR.
Ela leu o que estava
escrito,
Com seu manto ela apagou.
E sobre a placa
escreveu,
Com todo carinho seu.
AGORA EU SOU O AMOR.
53
Novamente ela monta,
Em seu cavalo alado,
Imediatamente ela desce,
Encontra o amigo
sentado.
- Vamos dar tempo ao
tempo,
Esperar só um momento,
Pra tudo ser acabado.
54
O que fez minha
princesa,
Pra ter certeza assim?
- Vocês foram me buscar,
Porque confiaram a mim,
A missão de resolver,
Foi isso que vim fazer,
Logo isto vai ter fim.
55
Quando ela disse FIM,
Houve tremenda explosão,
Todos que estavam por
ali,
Ficam postados no chão.
E aquela nuvem escura,
Se transformou em
brancura,
Surge um tremendo
clarão.
56
Tudo que estava escuro,
Logo voltou a brilhar.
As flores que estavam
murchas,
Começam logo a brotar.
Surgiram ali muitas
aves,
Que saíram de um
conclave,
Começaram a gorjear.
57
As aguas ficaram
límpidas,
Que podia ser bebida,
As mesas que estavam
limpas,
Tavam com fartas e comida.
E povo triste d’ali,
Todos voltam a sorrir,
E festejando a vida.
58
A princesa fecha os
olhos,
E faz a sua oração.
Dando graças por ter
salvo,
Aquela população.
Que eram do seu passado.
E com o peito aliviado,
Ela solfeja a canção.
59
Era um solfejo bonito,
Aquela música sem letra,
A música que só ouvimos,
Quando ouvimos a
retreta.
Mas era tudo tão belo,
Um solfejo tão singelo,
Vindo de outro planeta.
60
Quando ela abre os
olhos,
Estava no mesmo lugar.
Bem próxima daquela
pedra,
Bonita de admirar.
Será quando adulta eu
lembro?
D’ali ela sai correndo.
E vai pra escola
estudar.
61
Então meu avô pergunta,
O que acharam meninos?
Alguns estavam em
lágrimas,
Outros estavam sem tino.
Era muita emoção,
Vovó solfeja a canção,
Verdadeiro som divino.
62
Em mim surgiu uma
dúvida.
Quem seria a nossa avó?
Seria aquela menina,
Do tempo do rococó?
A cabeça não entende,
Será nosso avô o duende,
Do reino do esquimó?
63
Até hoje ainda acho,
Aquela história bonita.
Vovó e vovô fizeram,
Parte daquela escrita.
É muita felicidade,
Já estou com muita
idade,
Mas sou criança, infinita.
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