sexta-feira, 29 de setembro de 2023

A MENINA E A PEDRA


                                                                                       

A MENINA E A PEDRA

               Nivaldo Melo


1

Este é mais uma história,

Do povo do interior,

Que dessa vez foi contada,

Pelo meu velho avô,

Era um velho bem sisudo,

Mas que apesar de tudo,

Nos dava carinho e amor.

2

Lembro como se fosse ontem,

Meu avô todo magrinho,

Com seu cachimbo na boca,

Chegando bem de mansinho.

Sentava na velha cadeira,

Gritando em tom de brincadeira,

Boa noite meus netinhos.

3

Era aquela algazarra,

A garotada em torpor,

Ouvir histórias contadas,

Por aquele velho senhor,

Era mais que um privilégio,

Era a vos de um colégio,

Boa noite meu vovô!

4

A vovó vinha chegando,

Muito feliz, bem contente,

Vendo seu velho amado,

Ser menino com a gente.

Pedia a todos silêncio.

Vamos ver o que Laurêncio.

Vai contar hoje pra gente.

5

Ele emitia um sorriso,

Que quase ninguém notava

Bebia um pouco de chá,

Depois que pigarreava.

Dizia, nós vamos nessa,

Pois hoje eu tou com pressa,

Em seguida começava.

6

“No tempo de antigamente,

Chamado de rococó,

Quando ainda namorávamos,

Eu e essa sua velha avó,

Que as coisas aconteciam,

Mas muitos poucos sabiam,

E sabiam para si só.

7

Mas desde aqueles tempos,

Que sentávamos nas calçadas,

Para ouvir belas histórias,

Até chegar a madrugada.

Nossos avós nos contavam,

E todos acreditavam,

Tanto as tristes ou engraçadas.

8

Essa que aqui vou contar,

É uma das mais bonitas,

Uma menina, uma pedra,

Mas ela nunca foi escrita.

Ficou na nossa memória.

Pois é uma bela história,

Que aqui vai ser descrita.

9

- Numa casinha de campo,

Morava um belo casal,

Com apenas uma filha,

Uma criança angelical,

De uma beleza rara,

O seu nome era Juçara,

De meiguice sem igual.

10

Todos os dias a menina,

Ia para a escola estudar,

Tinha apenas um caminho,

Que ela tinha que passar.

Era um caminho florido,

Todo belo e colorido,

Sempre passava a cantar.

11

Era um solfejo bonito,

De uma música sem letra,

Daquela que nós ouvimos,

Tocadas só em retreta.

Mas era tudo tão belo,

Um solfejo tão singelo,

Cheinha de filipetas.

12

Quando passava na ponte,

Ela sempre observava,

Uma pedra muito grande,

Parecia que boiava.

Tinha um brilho diferente,

Dessas que cega a gente,

No sol ela faiscava.

13

Outra coisa interessante,

Era a presença de um cão.

Um cachorro muito grande,

Gordo como um balão,

E quando ela passava,

O rabo ele abanava,

Todo cheio de emoção,

14

E no final da tardinha,

Quando a menina voltava,

O cachorro ia á frente,

E sobre a pedra pulava,

Ela achava esquisito,

Ao mesmo tempo bonito,

E muito feliz ficava.

15

Um dia a bela menina,

Resolveu ali ficar.

Parou para olhar a pedra,

Sem com nada se importar.

Foi chegando sem receio,

Mas a pedra foi para o meio,

Mudou então de lugar.

16

Ela parou de repente,

E resolveu se afastar,

Pensou em sair correndo

Rápido daquele lugar.

Mas algo a impedia,

Nem ela mesmo sabia,

Como iria se safar.

17

De repente ouve uma voz,

Vinda não se sabe d’onde.

- Não fujas minha menina,

De mim ninguém se esconde.

Por mais distante que vá,

Meu cão ira lhe buscar,

De trem, navio ou de bonde.

18

A menina quis correr,

Mas ficou paralisada,

Ela não sentia medo,

Estava um pouco assustada.

Só conseguia dizer,

Por favor quem é você?

Pois estou atrapalhada.

19

- Olhe acima da pedra,

Você vai ver uma luz.

É nosso símbolo sagrado,

Em forma de uma cruz.

Aponte o dedo pra ela,

Vai aparecer a tela,

Cheia de raios azuis.

20

Em seguida você fala

O código, nosso contato,

Se fizer tudo certinho,

Você vai ver seu retrato,

Quatro palavras apenas,

Pedra, papel, cão e pena,

Então o nó eu desato.

21

Juçara aponta o dedo,

Direto praquela luz.

Esperou alguns segundos,

Quando apareceu a cruz.

Era uma cruz tão bonita,

Dela saia umas fitas,

Mas todas elas azuis.

22

Ela ficou abismada,

Ao ver aquela beleza.

Quis dizer alguma coisa,

Mas a língua ficou presa.

disse o código, bem serena.

“Pedra, papel, cão e pena”

Uma voz chamou; Alteza?

23

- Bom dia, falou a voz,

Como está, sua alteza?

Está é uma bela manhã,

Pra passear, com certeza.

Trago o cavalo alado,

Que já está arreiado,

Só esperando a princesa.

24

Juçara muito confusa,

Nada estava entendendo,

Sua cabeça de criança,

Não tava compreendendo.

Ela não era princesa,

Tava faltando clareza,

Praquilo que estava vendo.

25

Aonde é que estou?

Você pode me informar?

Continuo onde estava,

Sempre no mesmo lugar.

- Pode olhar pra qualquer lado,

Está num reino encantado,

Princesa, está no pomar.

26

E aqui qual é meu nome?

- É a princesa Juçara.

A mais bonita princesa,

Beleza singela é rara.

Parece uma pintura,

Feita com na tela mais pura,

Pintada por uma Iara.

27

Não devo acreditar,

Apenas em uma voz.

Uma voz vinda do nada,

Me dar um medo atroz,

- Eu estou aqui ao lado,

Sou um duende encantado,

Do reino dos esquimós.

28

Mas se sua alteza quiser,

Eu posso ficar bem visível,

Espero que não se espante,

Tenho uma aparência horrível.

Então se ouve um estalo,

Surge algo muito incrível.

29

Era um ser muito pequeno,

Montado naquele cão.

Com todos aqueles arreios,

Como um cavalo alazão.

As vestes do pequenino,

Eram do ouro mais fino,

Leves como de algodão.

30

Não dava para compreender,

Todo aquele encantamento.

A cabeça não entendia,

Era pra ela um tormento.

Ela se pôs a chorar,

Tentando identificar,

O porque daquele evento.

31

Então falou o duende.

- Princesa, monte o cavalo,

Tente se tranquilizar,

Que no caminho lhe falo,

O que está acontecendo,

E você vai entendendo,

Confie no seu vassalo.

32

Quando montou no cavalo,

Ele logo sai voando,

Ela olhando para o lado,

O cão tava acompanhando.

Era tão bela a paisagem,

Que ela disse de passagem,

Já estou me acostumando.

33

- A senhora está aqui,

Aonde sempre viveu,

Tudo aqui lhe pertence,

Isto aqui sempre foi seu.

Floresta, rios e jardim,

Foi por isso que eu vim,

Ao lugar onde cresceu.

34

Do alto ela avistou,

Algo que lhe comoveu,

Ela via exatamente,

O lugar onde nasceu.

O caminho o rio a escola,

O velho pé de acerola,

Foi aí que ela desceu.

35

Por que desceu princesinha?

- Eu preciso averiguar,

Porque tudo é tão igual,

E quem é que mora lá?

Apeou de seu alado,

Pisou naquele gramado,

Onde aprendeu andar,

36

Se dirigiu para a casa.

- Não faça isso alteza!

E porque não devo ir?

- É que vai ter uma surpresa.

Naquele instante aparece,

O casal que mais conhece.

Bom dia, bela princesa!

37

Ela quase desmaiou,

Ao ver os pais bem presentes,

Olhou para o seu duende,

Que lhe sorriu entre dentes.

Princesa vamos sentar,

Eu vou ter que lhe contar,

Sei que vãs ficar contente.

38

“Princesa, neste momento,

Estamos em outra dimensão.

Aquela pedra do rio,

Ali é nosso portão.

Tínhamos que ir lhe buscar,

Você é que vai salvar,

A nossa população”.

39

Esse casal são meus pais.

E com a mesma idade.

Por favor me conte tudo,

Lhe peço por caridade.

Como eu vou poder salvar,

O povo desse lugar.

Me fale toda verdade.

40

- Nós aqui tamos vivendo,

No tempo do rococó.

Desde muitos anos atrás,

Bem antes da sua avó,

E também do bisavô,

Que aqui tudo mudou,

Foi algo muito pior.

41

Os moradores da casa,

São seus parentes antigos,

Mais de cem anos atrás,

Do fato ter ocorrido.

Nós vamos retroceder,

A princesa vai entender,

Tudo vai ser resolvido.

42

- Como vamos retroceder?

- Voltando para o portal.

Falar as palavras magicas,

De forma presencial.

Nós vamos ser transportados.

Para mais longe, no passado.

Vamos matar todo mal.

43

Vamos pra perto do rio,

Onde está nosso portal.

Aquela suposta pedra,

É algo tão colossal.

Quando a princesa entrar,

Você vai se deslumbrar,

Pensar que é irreal”.

44

Chegaram a beira do rio,

Tava tudo do mesmo jeito.

A pedra, a ponte o caminho,

Era tudo muito perfeito,

Gritou de fora bem serena:

Pedra, papel, cão e pena.

- Se abre um caminho estreito.

45

Seguiram aquele caminho,

E entraram no portal.

As paredes eram de ouro,

Diamantes e cristal.

Ela ficou deslumbrada,

Com a beleza encontrada.

Realmente, é colossal!

46

Ao saírem do portal,

Encontraram outro mundo.

As pessoas cabisbaixas,

Quase mortos, moribundos.

Estavam muito abatidas,

Em ambiente já sem vidas,

Malvestidos, até imundos.

47

- Mas, que lugar é esse?

Perguntou para o duende.

- Estamos no mesmo lugar,

Mas tem algo que nos prende.

Por isto fomos lhe buscar,

E você vai nos salvar,

Pra saímos do perrengue.

48

O céu está muito escuro,

Não se vê a luz do sol.

Aqui sempre é de noite,

Não temos mas arrebol.

O dia nunca amanhece,

Tudo pra nós só parece,

Um negro e sujo lençol

49

Vamos ter que procurar,

O ponto fraco de mal.

Tentar trazê-lo para o bem,

É o ponto principal.

E dessa forma que vou,

Trocar o mal em amor,

E transformar esse astral.

50

Montou seu cavalo alado,

Suba o mais que você  pode,

Vamos procurar o local,

Que ele mais se incomode.

Ai daremos um jeito,

Pra deixar tudo perfeito,

Dessa forma o mal se explode.

51

Voaram por muitas horas,

Procurando um local,

Que fosse mais vulnerável,

Para acabar com o mal.

Ao longe um pontinho branco,

Deve ser naquele canto,

Nevrálgico do marginal.

52

No lugar tinha uma placa,

Que tava escrito SOU TERROR.

Ela leu o que estava escrito,

Com seu manto ela apagou.

E sobre a placa escreveu,

Com todo carinho seu.

AGORA EU SOU O AMOR.

53

Novamente ela monta,

Em seu cavalo alado,

Imediatamente ela desce,

Encontra o amigo sentado.

- Vamos dar tempo ao tempo,

Esperar só um momento,

Pra tudo ser acabado.

54

O que fez minha princesa,

Pra ter certeza assim?

- Vocês foram me buscar,

Porque confiaram a mim,

A missão de resolver,

Foi isso que vim fazer,

Logo isto vai ter fim.

55

Quando ela disse FIM,

Houve tremenda explosão,

Todos que estavam por ali,

Ficam postados no chão.

E aquela nuvem escura,

Se transformou em brancura,

Surge um tremendo clarão.

56

Tudo que estava escuro,

Logo voltou a brilhar.

As flores que estavam murchas,

Começam logo a brotar.

Surgiram ali muitas aves,

Que saíram de um conclave,

Começaram a gorjear.

57

As aguas ficaram límpidas,

Que podia ser bebida,

As mesas que estavam limpas,

Tavam com fartas e comida.

E povo triste d’ali,

Todos voltam a sorrir,

E festejando a vida.

58

A princesa fecha os olhos,

E faz a sua oração.

Dando graças por ter salvo,

Aquela população.

Que eram do seu passado.

E com o peito aliviado,

Ela solfeja a canção.

59

Era um solfejo bonito,

Aquela música sem letra,

A música que só ouvimos,

Quando ouvimos a retreta.

Mas era tudo tão belo,

Um solfejo tão singelo,

Vindo de outro planeta.

60

Quando ela abre os olhos,

Estava no mesmo lugar.

Bem próxima daquela pedra,

Bonita de admirar.

Será quando adulta eu lembro?

D’ali ela sai correndo.

E vai pra escola estudar.

61

Então meu avô pergunta,

O que acharam meninos?

Alguns estavam em lágrimas,

Outros estavam sem tino.

Era muita emoção,

Vovó solfeja a canção,

Verdadeiro som divino.

62

Em mim surgiu uma dúvida.

Quem seria a nossa avó?

Seria aquela menina,

Do tempo do rococó?

A cabeça não entende,

Será nosso avô o duende,

Do reino do esquimó?

63

Até hoje ainda acho,

Aquela história bonita.

Vovó e vovô fizeram,

Parte daquela escrita.

É muita felicidade,

Já estou com muita idade,

Mas sou criança, infinita.

 

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