A PENA E O CAMAFEU
Nivaldo Melo
1
- Uma noite, minha vó
- Reuniu toda moçada,
- Mandou que todos sentassem
- Nas cadeiras da calçada.
- Disse; vou contar uma estória,
- Que está na minha memória
- Desde a última madrugada.
- 2
- Quero que prestem atenção
- E guardem bem na memória
- O que eu vou lhes contar
- Narra uma trajetória
- De um garoto inteligente
- Desses que cativa a gente.
- Vou começar a história.
- 3
- No ano noventa e oito
- Num período muito escuro
- Não sei se foi no presente
- No passado ou no futuro
- Quando uma pena prateado
- Por um menino foi achada
- Em cima de um monturo.
- 4
- A criança só guardou
- Aquela pena bonita
- Colocou em seu bizaco
- Junto com sua marmita
- Continuou seu caminho
- Voltando para seu ninho
- Sua gruta favorita.
- 5
- Dias depois do achado
- Voltou ao mesmo caminho
- Naquele mesmo monturo
- Encontrou um pergaminho
- Nada tinha ali escrito
- Mas tinha algo esquisito.
- Tava cheio de pontinhos.
- 6
- Mesmo sem entender nada
- Coloco-o em seu bizaco
- Revestiu o pergaminho
- Em um pedaço de trapo
- Guardou com muito cuidado
- Para que não fosse rasgado
- Prendeu com esparadrapo.
- 7
- Dias e dias passaram
- Do fato quase irreal
- Encontrar dois objetos
- Não é um caso normal
- Os dois no mesmo lugar
- É coisa de se admirar
- Que causa espanto geral.
- 8
- E o menino traquino
- Esqueceu de seus achados
- Nem se lembrava do local
- Aonde foram encontrados
- Se alguém lhe perguntava
- Ele simplesmente falava
- Eles estão bem guardados.
- 9
- Alguns anos se passaram
- E aquele garoto cresceu
- Já não era mais menino
- Seu corpo desenvolveu
- Agora um jovem rapaz
- Bonito até por demais
- Quando um fato aconteceu.
- 10
- Durante o sono da noite
- Teve um sonho diferente
- Aparecia um garoto
- Maltrapilho em sua frente
- O garoto assim falou
- Volte aonde encontrou
- O que te dei de presente.
- 11
- Leve consigo os presentes
- Do jeito que eles estão
- Faça como estou mandando
- Por favor preste atenção
- Nunca separe os dois
- Não deixe para depois
- Serão nossa salvação.
- 12
- Durante mais três noites
- O sonho se repetiu
- Deixando aquele jovem
- Um tanto quanto febril
- Então ele assim resolveu
- Procurar o que não perdeu
- Após três dias partiu.
- 13
- Foi procurar o monturo
- Onde encontrou os achados
- Foi com toda a certeza
- Jamais seria encontrado
- Faziam mais de dez anos
- Afirmava sem engano
- Tudo lá está mudado.
- 14
- Ao chegar lá no local
- Tudo estava do mesmo jeito
- Nada ali tinha mudado
- Estava tudo perfeito
- Mas ali tinha uma mulher
- Que esperava-o de pé
- Ela espirava respeito
- 15
- O jovem a cumprimentou
- Ela respondeu com aceno
- Imediatamente lhe entregou
- Um vidro muito pequeno
- Ele não creu no que viu
- O vidro estava vazio
- Mas tinha escrito Veneno.
- 16
- Imediatamente ao fato
- Ela sumiu do lugar
- Aconteceu muito rápido
- Nem deu tempo perguntar
- Por que daquele veneno?
- Tentou num gesto estremo
- Do veneno se livrar
- 17
- Foi quando ouviu uma voz
- Sussurrando em seu ouvido
- Tenha calma meu rapaz
- Não fique tão aturdido
- Sente para descansar
- Vou lhe levar a um lugar
- Vás ser mesmo abduzido.
- 18
- E como um passe de mágica
- Em sua frente surgiu
- Uma objeto transparente
- Em formato de funil
- Puxou o jovem pra dentro
- E mais rápido que o vento
- Daquele local sumiu.
- 19
- De dentro do objeto
- Só via o céu e o mar
- Ele tentou ver a terra
- Não conseguiu vislumbrar
- Ficou meio acabrunhado
- Estava meio desolado
- Deu vontade de chorar.
- 20
- O objeto onde estava
- Clareava e escurecia
- Ele então deduziu
- Deve ser noite e dia
- Ele achou que viajava
- Mas não sabia onde estava
- Mas era bonito o que via
- 21
- Aquele funil voador
- Não tinha porta ou janela
- Pra onde ele olhava
- Via apenas uma tela
- Uma tela transparente
- Porém muito resistente
- Tudo via com cautela.
- 22
- Voltou então a ouvir
- Aquela voz no ouvido
- O som era tão baixinho
- Que parecia um zumbido
- Procurou ver de onde vinha
- Aquela voz tão fininha
- Deixava-o meio aturdido.
- 23
- Não procure de onde vem
- A voz está em você
- É um som bem penetrante
- Pra você nunca esquecer
- O que aqui vai ser dito
- Nada pode ser escrito
- Somente tu vás saber
- 24
- A pena e o pergaminho
- Que estão contigo guardados
- Ao voltares tem que manter
- Os dois sempre lado a lado
- Eles é que vão te guiar
- Aonde deves chegar
- Por isso te foram dados.
- 25
- Alguns momentos depois
- Aquele objeto parou
- Aquela vos no ouvido
- Assim pra ele falou
- Admire esse lugar
- É aqui que vás ficar
- Prestes atenção por favor.
- 26
- Era um lugar diferente
- Tudo ali era estranho
- Animais plantas e arvores
- Tinham o mesmo tamanho
- A água era reluzente
- De um sabor diferente
- E flores de cheiros estranhos.
- 27
- Tirou pena e pergaminho
- De dentro de seu bizaco
- Coloco-os sobre um tronco
- Naquele momento exato
- A pena então se mexeu
- Naquela hora cresceu
- E mudou o seu formato.
- 28
- Tomou forma de caneta
- E parou sobre o papiro
- Posou em cima de um ponto
- Em seguida deu um giro
- No momento apareceu
- Um pote com um camafeu
- Na imagem um vampiro.
- 29
- Naquele exato momento
- A voz falou pra o rapaz
- Deixe sempre o camafeu
- Com a frente virada pra traz
- Traz consigo o atrasado
- Deve sempre está virado
- E não esqueças jamais.
- 30
- Então naquele momento
- Ouve-se um som bem baixinho
- Era a pena trabalhando
- Em cima do pergaminho
- Rodando do mesmo jeito.
- Surge um
escudoperfeito - Todo cravado de espinhos.
- 31
- Agora já está completa
- Aqui a nossa missão
- Juntemos os objetos
- Façamos essa união
- Pena, veneno, papiro
- Camafeu e escudo no giro
- Tá faltando a decisão.
- 32
- E o que devo fazer?
- Pergunta então o rapaz
- Espera apenas um momento
- Que a resposta terás
- Permaneça ai sentado
- Se olhares ao seu lado
- Algo estranho verás.
- 33
- Então o jovem se vira
- E fica ali abismado
- Ali aparece um velho
- Ao seu lado bem sentado
- Com um olhar diferente
- Com o rosto sorridente
- E foi falando pausado.
- 34
- Neste lugar onde estamos
- É de um reino invisível
- Porque a mais de cem anos
- Aconteceu algo horrível
- No papel está escrito
- Um dia um jovem bonito
- Vai deixar tudo visível.
- 35
- Essa pena escreveu
- Tudo nesse pergaminho
- Cada fato acontecido
- Representa um pontinho
- É só você colocar
- A pena sobre o lugar
- Que saberás direitinho.
- 36
- O jovem põe logo a pena
- Sobre o ponto inicial
- Então ele ouve da voz
- “Estás chegando ao umbral
- Iniciamos a jornada
- Não haverá mais parada
- Só paramos no final”
- 37
- Segues então o caminho
- Que está a tua frente
- Durante a trajetória
- Verás algo diferente
- O mal está escondido
- Mas estás bem protegido
- Pelo escudo e o pingente.
- 38
- O rapaz olha para a pena
- E viu ela caminhando
- Por cima do pergaminho
- E toda história narrando
- De repente tudo escuro
- Ele está frente a um muro
- O seu caminho barrando.
- 39
- Coloca a mão no bizaco
- Sob a orientação da voz
- Retira o vidro vazio
- E num movimento veloz
- Joga o vidro contra o muro
- Se ouve um grito “ESCUNJURO
- ESTÁ CHEGANDO O ALGOZ”.
- 40
- O muro desaparece
- Naquele momento exato
- O jovem apanha o vidro
- Colocando-o no bizaco
- Então paga o camafeu
- Do lugar onde escondeu
- Com o vampiro no retrato.
- 41
- Coloca-o em seu pescoço
- Seu corpo colado atrás
- Sem olhar para a figura
- Parecida com o satanás
- Tudo que estava à frente
- Sumia bem de repente
- Fugindo do ferrabrás
- 42
- A voz sussurra baixinho
- Aqui devemos parar
- E quando chegar à noite
- É que voltamos andar
- Não tema pelo escuro
- Não haverá outro muro
- Que venha nos perturbar.
- 43
- Logo que chegou a noite
- Ao longe viu um clarão
- Iniciou a jornada
- Indo naquela direção
- Não demorou muito tempo
- Os seus olhos muito atentos
- Vislumbrou uma mansão.
- 44
- Na porta da construção
- Estava escrito assim
- “Essa é a minha casa,
- A casa da coisa ruim
- E se você quer viver
- Eu quero logo dizer
- Saia correndo daqui”.
- 45
- Ele empurra a porta
- Lá dentro, escuridão
- Apenas a parte de fora
- Tinha iluminação
- O jovem fica parado
- Sem saber para que lado
- Era sua direção.
- 46
- Então a voz sussurro
- Aperte no camafeu
- O jovem sem contestar
- A voz ele obedeceu
- Vampiro vê no escuro
- Com ele estarás seguro
- Foi quando luz acendeu.
- 47
- A luz apenas acendeu
- Pra iluminar o caminho
- Para que fosse percorrido
- Em passos muito mansinhos
- Fique atento meu rapaz
- Bem há frente encontrarás
- Bem forjado um ancinho.
- 48
- Quando o jovem pega o a peça
- Ali perto alguém gritou
- Por favor se identifique
- Você que aqui chegou
- Eu chego de outras terras
- Para acabar com a guerra
- Apareça meu senhor!
- 49
- Apareceu um pavão
- Mais alto que o rapaz
- Mostrando seu esplendor
- Demonstrando muita paz
- Vou ter que te proteger
- Assim devo proceder
- Pra matar o ferrabrás.
- 50
- Orientado pela voz
- O jovem pega o escudo
- E entrega para o pavão
- Recebe de volta um canudo
- Só abra quando acabar
- Depois de nós despachar
- De nossa terra o galhudo.
- 51
- O pavão logo se baixa
- Põe no seu dorso o rapaz
- E com um voo rasante
- Vai para a parte de traz
- Lá é um campo aberto
- Nossa floresta deserto
- Pra enfrentar ferrabrás
- 52
- De repente aparece
- A figura do galhudo
- Botando fogo e gritando
- Com um som muito agudo
- Saia de volta oh rapaz
- Sou filho do ferrabrás
- E vou acabar contudo.
- 53
- Neste momento o jovem
- Segura forte o ancinho
- E joga como uma flecha
- Em direção ao daninho
- Que pula para o lado
- E grita: tá engraçado
- Lutar contra um menininho.
- 54
- Então o nosso rapaz
- Pega o vidro de veneno
- E com um esforço voraz
- Em formato de aceno
- Joga sobre o opressor
- Que grita sentindo dor
- E cai ali no terreno.
- 55
- Pega então o camafeu
- Joga sobre o perdedor
- Então se ouve um estouro
- Tudo ali se iluminou
- O deserto vira floresta
- Ia começar a festa
- Quando a voz assim falou:
- 56
- Coloque logo a pena
- Na cabeça do pavão
- O rapaz obedeceu
- Então se ouve a explosão
- Tudo ali foi transformado
- Era um reino encantado
- Retornando a ser nação.
- 57
- O pavão era a Rainha
- Que era o astro principal
- O ancinho era o Rei
- Camafeu o General
- O vidrinho era Princesa
- Mostrando toda beleza
- Com seu vestido cristal.
- 58
- O jovem abre o canudo
- Recebido do pavão
- Nele continha a história
- Toda escrita à mão
- Sobre todo o acontecido
- Naquele reino esquecido
- Quando houve a maldição.
- 59
- O Rei quis presentear
- Cobrindo o rapaz com ouro
- O jovem então recusou
- Dizendo que o seu tesouro
- Era a coragem e o amor
- E também seu destemor
- Lutando como um touro.
- 60
- Porque eu fui convocado
- Pergunta ele a Rainha
- Ela com gesto fidalgo
- Disse tá escrito na linha
- Na linha do pensamento
- Foi escrito a muito tempo
- No tempo da carochinha.
- 61
- Pois daqui há muitos anos
- A história vai ser narrada
- Por uma senhora bonita
- Avó de uma rapaziada
- Contadora de histórias
- Criadas por sua memória
- Depois será transformada.
- 62
- Seu neto vai escreve-la
- Em formato de cordel
- E vai eternizar a história
- Deixando tudo no papel
- É Nivaldo de Oliveira
- Que afirmo sem asneira
- Que é um grande Menestrel.
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