NIVALDO MELO
1
Mais uma bela história,
contada pela vovó.
É algo tão comovente,
Que a garganta dá nó,
as lágrimas fluem nos olhos,
a mente vira um embrolho,
que nem dar pra chorar só.
2
Lembro como fosse ontem,
quando ouvi essa história,
mais que quisesse esquecer,
nunca saiu da memoria.
Agora vou recontar,
parem um pouco pra escutar
vou começar, logo, agora.
No ano não sei de
quando,
onde tudo começou,
numa noite de inverno,
bem longe, no interior.
Era um frio tão danado,
que até o próprio diabo,
na fogueira, ele entrou.
4
Para alguém sair de casa,
tinha que ter um trenó.
Uma jovem a Bem-me-quer,
morava com sua avó.
Como amigo tinha um gato,
cujo nome era Ingrato,
manhoso como ele só.
A jovem sempre estava,
olhando para a estrada,
quando ouvia um roído,
ficava meio assustada.
Então colocava a mão,
em cima do coração,
e corria pra sacada.
6
Uma noite o Ingrato,
a acordou de madrugada,
puxando sua coberta,
em direção da sacada.
A jovem então levantou,
e da janela avistou,
alguém vinha na estrada.
Era um som diferente,
com certeza era um trenó,
era um velho veículo,
guiado por um homem só.
Puxando, seis pares de cães,
formados por filhos e mães.
- Correu, chamou sua vó.
8
Bem antes da vó chegar,
ele fez uma parada,
e colocou uma cesta,
o umbral, lá da sacada.
saiu bem de mansinho,
devagar, devagarinho,
e fugiu sem dizer nada.
9
Seu companheiro o Ingrato,
foi o primeiro a chegar,
ficou arranhando a porta,
correndo pra lá e pra cá.
Não abra a porta menina,
Vovó disse com voz fina,
deixemos o dia raiar.
10
Mas nenhum som se ouvia,
vindo do lado de fora.
Nós estamos aqui sozinhas,
porque esperar a hora?
Pela fresta eu estou vendo,
tem algo ali se mexendo.
Vou ver o que é, agora.
E rapidamente ela abriu,
aquela porta pesada.
São três horas da manhã,
ainda é madrugada.
- Pegou a sesta e entrou,
sobre a mesa a colocou,
então ficaram abismadas,
12
O vento fechou a porta.
Algo estava acontecendo.
Ingrato com rapidez,
abriu a cesta mordendo.3
Bem-me-quer se espantou,
E com voz trêmula falou:
É isso que estamos vendo?
Então confirmou a vó.
É isso mesmo, netinha,
colocaram uma boneca,
ai dentro da cestinha.
É uma pessoa perfeita,
que se encontra na cesta,
parece uma Princesinha.
14
Vovó levanta o presentem
grita; uma criancinha!
Todos ficaram abismado,
com os trajes que ela tinha.
Roupas feitas com esmero,
vestia seu corpo inteiro,
parecendo uma Rainha.
Então a jovem correu,
direto para a varanda.
Viu ao longe um trenó,
tava virado, de banda.
pensou, estão esperando,
para o local foi andando,
mas lá só tinha a caçamba.
16
Tinham sumido os cães,
e também o condutor.
Restara só a caçamba,
e o rastro que deixou.
Encontrou um bracelete,
usado como enfeite,
- da menina, ela pensou.
Viu as pegadas do homem,
que conduzira o trenó,
marcas de pés, tão grandes,
mas que tinham um dedo só.
Nos pés direito e esquerdo.
Ela sentiu tanto medo,
voltou correndo pra vó.
18
Ingrato, ficou por ali,
cavando, usando seu faro
Logo ele encontrou,
algo que era bem caro.
Um cordão com o pingente,
um camafeu diferente,
de um metal muito raro.
Colocou tudo na boca,
e pra casa regressou,
pegou todo os achados,
sobre a messa colocou;
A vovó achou estranho
coisas daquele tamanho?
Então Bem-me-quer falou.
20
As marcas do condutor,
eram grandes, sem igual,
só podem ter sido feitas,
por um ser bem colossal.
Me deu até muito medo,
cada pé só tinha um dedo
entrando para o matagal.
Agora vamos cuidar,
de nossa bela menina
vamos por um nome nela.
Eu sugiro; Joia Fina.
Já sei o que vou fazer.
Deixemos Ingrato escolher,
que em baixo a gente assina.
22
Ingrato ficou fofinho;
protagonizava o papel.
Ficou na ponta dos pés,
Miou, falando é MIEL.
Vó e neta se olharam,
e rindo, elas aprovaram.
Seria FAVO DE MEL.
Já passara 15 anos,
ninguém veio procurar.
Vovó tava tão velhinha,
que mal podia andar.
E a jovem Bem-me-quer,
hoje uma bela mulher,
Fina no vestir e falar.
24
Outra vez uma nevasca,
como há 15 anos atrás.
Pela manhã, batem a porta,
Atenderam; era um rapaz.
Falou assim, com timidez,
preciso falar com as três.
sobre fatos bem reais.
Eu vou me apresentar;
meu nome é Wanderlei,
estou aqui em missão,
enviado por meu Rei.
Pra procurar sua filha,
retirada da família
se a encontrar, voltarei.
26
Esse rapto aconteceu,
há quinze anos atrás.
A criança foi roubada,
por um gigante voraz.
Brabo como ele só,
guiando um velho trenó,
astuto e muito sagaz.
- E que reinado é esse,
que nunca ouvimos falar?
- É de um lugar distante,
tem que atravessar o mar.
Foi um ano de viagem
pra chegar nessa paragem,
quase pedi pra voltar.
28
Trago comigo alguns itens,
que podem elucidar,
pra mostrar toda verdade.
umas provas vou mostrar.
As roupinhas da criança,
o camafeu de herança,
e pulseira pra enfeitar.
Então mostrou as réplicas,
de tudo que havia falado,
fez referência ao pingente.
Tava tudo confirmado.
A verdade era cruel,
era bela FAVO DE MEL.
ele a tinha encontrado.
30
- E como chegaste aqui,
já que o mar é distante?
São mais de 200 léguas
e chegaste um instante?
- Em um tapete voador,
que um amigo comprou,
de um cavaleiro andante.
- Como se chama a criança,
desse reino tão distante?
- O nome da mãe é Perola,
o nome do pai Galante.
A Princesa seria Rosa,,
a mais prendada e formosa,
lá do Reino, Fulgurante.
32
- Essas são as minhas netas,
A primeira é Bem-me-quer,
essa belíssima flor,
minha menina mulher.
Uma jovem bem prendada,
tranquila, muito educada
líder da casa ela é.
A segunda é a querida,
que pra nós caiu do céu.
Ela só tem, quinze anos,
seu nome é Favo de Mel.
Ela é quem você procura,
é um anjo de candura,
um verdadeiro troféu.
34
Esse aqui é nosso pajem,
o nome dele é Ingrato.
É o guerreiro mais forte,
aqui disfarçado em gato.
Defende nós, seus parentes,
usando unhas e dentes,
mas não agride, é pacato.
O jovem, recém chegado,
ficou mudo e cabisbacho,
em sua testa morena,
caiam cabelos em cacho.
Seus olhos lagrimejaram,
e seus lábios sussurraram:
Graças a Deus. eu relaxo.
36
Bem-me-quer começa contar,
tudo sobre a Favo de Mel.
O jeito que ela chegou,
em um momento cruel.
O tempo muito nevado,
todo mundo enclausurado;
um verdadeiro escarcéu.
Então o jovem começa,
falar sobre a transferência.
Da jovem Favo de Mel,
tinha de ir com urgência.
A vó e Bem-me-quer falaram,
não somos nada contrario,
mas queremos uma carência.
38
Havia chegado a vez,
De Favo de Mel falar.
- Só saem daqui as quatro,
nisso podes acreditar.
E se houver contestação,
aqui de nosso rincão,
Só você que vai viajar.
Então Ingrato rosnou,
e foi pra cima da mêsa,
Vovó falou para o jovem,
você pode ter certeza,
é que aqui nesse local,
nosso Ingrato é maioral,
sai logo em nossa defesa.
40
O jovem pediu licença,
saiu, mas logo voltou,
trouxe em baixo do braço,
algo feito um cobertor,
- Isto aqui não é enfeite,
lhes apresento o tapete
que um velho amigo doou.
Vou estender sobre o chão,
pra ver se cabem os cinco.
Afastem todos os móveis,
vamos limpar o recinto.
Quando tiver arrumado,
quero que tenham cuidado,
por favor, apertem os cintos.
42
Quando estendeu o tapete,
foi grande a admiração.
O tapete era gigantesco,
parecia uma embarcação.
Com apenas um olhar,
ele se pôs a balançar.
e logo levantou do chão.
43
vou ter que comunicar,
tudo para os meus Reis,
de como aqui vim chagar.
Que já encontrei sua filha,
aquela qua tanto brilha,
e que breve ela vai voltar.
44
Pegaram então uma ave,
chamado Garça real,
era um pássaro correio,
criada lá no quintal.
Depois de tudo escrito,
colocaram em seu bico,
algo em forma de jornal.
Esperaram uma semana,
fazendo os preparativos.
Levariam coisas leves,
alguns móveis exclusivos.
pra elas era um deleite
por tudo sobre o tapete.
E partiram em definitivo.
46
Planando sobre as nuvens,
o tapete ia singrando,
voariam por dez dias,
logo estariam chegando.
Passavas sobre florestas,
no mar, navios de pesca,
rios e montanhas passando.
Tinham levado comidas,
pra consumir na viagem.
Na hora de descansar,
repousavam ali na nave.
Demoravam pra dormir,
a preferencia era curtir,
admirando as paisagens.
48
Ao completar nove dias,
o barco tapete, baixou.
Querias conhecer as terras,
que o Rei Galante herdou,
e as da Rainha Pérola,
muito fértil e muito bela,
que seu pai presenteou.
Voaram durante o dia,
durante a noite também.
No fim do décimo dia,
podiam dizer amém.
- Então veio a decepção,
no lugar da atracação,
não encontraram ninguém.
50
O rapaz ficou constrangido,
Vovó estava arrasada,
Bem-me-quer meio confusa,
Não entendia era nada,
em um canto pesarosa,
Favo de Mel bem dengosa.
Quando ouviram passadas.
Chegaram o Rei e a Rainha,
e mais cinquenta soldados.
Queremos que fiquem quietos,
vocês tão presos e cercados.
Serão levados para o poço,
não façam nem alvoroço,
o de vocês tá guardado.
52
A nossa filha querida,
faz dias foi encontrada.
Ela está lá no castelo,
por soldados bem guardada.
É nossa filha legal,
pois tem a marca real,
bonita e bem preservada.
É disso que estão falando?
Gritou a Favo de Mel.
Mostrando no peito a rosa,
como pedra de um anel.
Se a impostora está ai,
tragam logo ela aqui,
vamos mandala ao bordel.
54
Trouxeram logo a outra,
Nervosa, muito, assustada.
Pediram; mostre a marca,
estava quase apagada.
Era algo sem noção,
um desenho feito a mão.
Ficou desmoralizada.
Os pais pediram desculpas,
por todo constrangimento
- Premiaram o emissário,
custeando o casamento.
Bem-me-quer e Wanderlei,
receberam daquele Rei,
O Reino do Pensamento
56
A vovó de Bem-me-quer,
foi morar no mesmo Reino,
nunca mais se separou,
de seu tapete vermelho.
Logo os bisnetos chegaram,
ficaram sobre seu amparo,
pra eles, era ela o espelho.
O Reino que receberam,
cresceu muito e progrediu,
parecia Reino encantado
como ninguém nunca viu.
Nas ruas era uma euforia,
Bem-me-quer só alegria,
Wanderlei, morreu senil.
58
Favo de Mel com os pais,
para eles assim falou:
Quero casar com Ingrato,
Sempre foi meu protetor.
Mas ingrato não é gente,
deves está fraca da mente.
O monarca assim falou.
59
E apontou para Ingrato,
que estava sobre o sofá.
No local tava um Príncipe,
bonito de se admirar.
Pegou na mão da princesa
e disse: Suas Realezas
com ela quero casar.
60
Festas por quase cem
dias,
pra Ingrato e Favo de Mel.
Bebidas e comidas
grátis,
Os Reis estavam no céu.
Se encontrarem defeito,
Por favor, mostrem
respeito.
E
APLAUDAM MEU CORDEL
.
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