1
De vez enquanto me lembro,
Das estórias da minha avó.
Contada sempre á noite,
Bonitas como elas só.
Gritavam todos presentes,
Em espasmos de contentes,
Conte mais uma vovó.
2
Então nossa vó sorria
Mostrando felicidade,
Dizia só amanhã
Conto outra de verdade,
Mas antes têm que estudar,
Que é pra vovó contar,
Histórias pra mocidade.
3
Então na noite seguinte,
Estávamos todos esperando,
Sentados lá na calçada,
Uns cantando outros escutando,
Música que a vovó gostava,
Sabíamos que ela adorava
Ver os netinhos cantando.
4
Quando a coisa estava boa,
É aí que a vovó chegava.
Sentava em uma cadeira,
Que por ela esperava.
Era um silencio total,
Que reinava no local
Então ela assim falava.
5
Hoje vou contar a história
Da princesa pequenina,
O nome dela era Naurora
Que foi sempre uma menina,
Maltratada pelo destino,
Aquele ser pequenino,
Mas de inteligência divina.
6
Esse nome lhe foi dado
Pois ela nasceu com o sol,
Em primeiro de janeiro
Festa no Reino, a maior.
Fio quando nasceu a princesa
De extremosa beleza,
Bonita como ela só.
7
Foi no reino do Trancoso
Que o fato aconteceu.
Passaram-se muitos anos
Nas ninguém nada escreveu.
Quem me contou foi vovó
Que ouvi-o da bisavó,
Verdade do tempo seu.
8
Naurora foi primogênita,
Dos Reis das terras bonitas,
Nesse reino a fantasia
Era a principal das escritas,
Ali reinava a riqueza,
Lá não existia pobreza,
Era uma terra bendita.
9
Criavam-se muitos cavalos
De linhagem superior,
Cavalos de sangue puro
De inigualável valor,
Num estábulo bem guardado,
Só tinha animal alado,
Cavalo, tigre, castor.
10
Esses animais eram vistos
Na data do soberano,
Aniversário do Rei
Primeiro dia do ano.
Foi quando nasceu Naurora
A dona de nossa estórias,
Tudo traçado em um plano.
11
E o tempo foi passando,
Todo reino ia crescendo,
Era um progresso danado
O povo feliz vivendo.
Cinco anos foi passado,
Quando algo deu errado,
E tudo foi decrescendo.
12
A princesa completava
Seus cinco anos de vida,
O Rei mandou preparar
Pra sua filha querida,
Uma festa grandiosa
Para a princesa formosa,
Com muita música e bebida.
13
Mandou convite pra todos
Os reinos de amizades,
Só não mandou para o reino
Dos duendes da maldade.
Foi aí que o Rei errou,
Pois vejam o que se passou,
Pra mim foi fatalidade.
14
Quando chegou o dia
Dos festejos começar,
Quem primeiro apareceu
Foi uma bruxa bem má,
Mandada pelos duendes,
Deles tu não te defendes,
Veio um cavalo comprar.
15
Mandaram a velha bruxa,
De aspecto desumano,
Aquela que tem o nariz
Feito bico de um tucano,
Na ponta umas verruga
O corpo cheio de pulgas,
Usava um chapéu de pano.
16
Chegou em sua vassoura
Pousou na frente da porta.
O pau daquela vassoura
De tanto usar tava torta.
Foi falando entre dentes
Quero falar com o regente.
Pra ele tenho proposta.
17
Sou do reino dos duendes
E vim comprar um cavalo,
O com as asas mais bonitas
Como as penas de um galo,
O Rei quer o mais bonito
Mandou tudo por escrito,
Do meu Rei será vassalo.
18
Quero levar o alado
Com o pelo mais bonito,
O pagamento está na caixa
Com ouro, safiras e granito,
Tragam logo o animal
Senão aqui vai ter pau,
Deixo todos aqui proscritos.
19
Então aparece o Rei
Com a Naurora de lado,
Aquela bela criança
De esplendor imaculado,
A bruxa olha a menina
E fala; que coisa fina,
Essa vai deixar legado.
20
O Rei falou para a bruxa
Daqui não vás levar nada,
E fale para seu Rei
Que a porta aqui tá fechada,
Nada temos pra vender
Nem pra ele ou pra você,
Parta logo em debandada.
21
A bruxa parou um pouco,
E deu uma gargalhada.
Da boca saiu fumaça
E uma baba bolhada,
Os dentes eram tão escuros
Cheios de limo de muro,
O Rei deu uma recuada.
22
Se não levar o cavalo,
Posso deixar uma praga,
Que vai demorar sanar,
E vai ser a mais
danada.
Vocês é que vão sofre,
Vendo a princesa crescer
Só dessa forma me paga.
23
Montou em sua vassoura
Que tinha o cabo bem torto,
Gritou logo que subiu
Seu reino não será morto,
Porque a princesa Naurora
Qualquer dia qualquer hora,
Vai descobrir o seu horto.
24
O Rei nem se importou,
Com o que previu a bruxa.
Eu mantive meu plantel,
Falava em cima da bucha.
Todos meus cavalos alados
Continuam bem guardados,
Se roubar leva garrucha.
25
Passaram-se mais cinco anos,
Naquele reino bonito.
Mas os súditos nem notaram
Que o que não tava escrito.
Estava se desenvolvendo
O reino todo crescendo
Mas a Naurora “mosquito”.
26
Mosquito porquê e princesa,
Estava no mesmo tamanho,
Que cinco anos atrás,
Era algo muito estranho,
Toda criança crescia
Mas Naurora permanecia
Como um menino tacanho.
27
Naurora era inteligente,
Mas de estatura miúda.
Falava muitos idiomas
Conversava até com muda.
Mas tinha uma frustação
De seu porte de anão
Deixava-a sempre sisuda.
28
Ao completar quinze anos
A princesa se rebelou.
Mandou chamar os seus pais
E pra eles assim falou:
Tenho que pular esse muro
Vou procurar no escuro
O que lá atrás de passou.
29
Os pais ficaram abismados
Com a coragem de Naurora,
Então o Rei lhe falou
Ainda não está na hora,
Aguante mais alguns anos
Não entre em desengano
Que sua vida melhora.
30
Naurora nem respondeu
A proposta de seu pai.
No íntimo o seu destino
Sabe pra onde ela vai,
Se recolhe ao aposento
Em todo seu pensamento
Só vinha o nome Banzai.
31
O banzai é procurar
Por algo de muito distante,
Ela não vai retroceder
Nem ao menos num instante,
Ela tem é que tentar
O mistério desvendar,
Para crescer doravante.
32
E na calada da noite
Naurora foi procurar,
O seu cavalo alado
Para nele cavalgar,
Em busca de seu destino
Que fosse bem pequenino,
Ela iria encontrar.
33
Levou consigo um bizaco
Com coisas bem escolhidas
Colocou seu lenço branco
Mais um pouco de comida
Levou também seu perfume
Que tinha pouco volume
E água para bebida
34
Colocou lá duas pedras
Sem saber porque fazia.
Uma voz dentro de si
Era quem a conduzia,
Colocou um papel fino
Nele escreveu Destino
Três da manhã já partia.
35
E naquela madrugada
Antes do romper da aurora
Em busca de seu destino
Parte a princesa Naurora.
Em busca de seu Banzai
Mesmo escondida do pai
Já tinha chegada a hora.
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Subiu mais alto que pode
Montada em seu alado,
Um belo cavalo branco
Ia esquecer o passado,
Procurar no seu futuro
O que estava obscuro
Além do mais; apagado.
37
Viajou durante horas
Sem olhar nem para traz.
Estavam acima das nuvens
Tudo bonito demais.
Tá na hora de descer
Vamos assim proceder
Estavam cansados demais
38
O belo cavalo alado
Para numa nuvem escura.
Ali estava iniciando
A sua nova aventura.
Naurora apanha o bizaco
De baixo de seu sovaco
Pôs a mão na abertura.
39
Então o cavalo alado,
Falou com toda clareza.
Não abra ainda o bizaco
Espere minha princesa.
Sou seu guia e protetor
Foi assim que o Rei mandou
Aqui não quero fraqueza.
40
A Naurora ficou muda
Ouvindo e vendo-o falar.
Perguntou por qual motivo
Nas nuvens ele foi parar.
É que aqui bem no céu
Vou lhe dizer que papal,
Nós vamos desempenhar.
41
É que aqui sobre as nuvens
Vamos de fato traçar,
O que podemos fazer
Pra tudo desencantar,
O que viemos fazer
Você vai ter que crescer,
Para ver tudo acabar.
42
O que tens nesse bizaco
Nós vamos usar legal,
São peças para defesa
Para lutar contra o mal,
Devemos estar sempre alerta
Pra usadas na hora certa
Quando chegar no umbral.
43
Umbral de onde, pergunta
A Naurora muito aflita,
Eu explico minha princesa
Vamos a terra maldita,
Para quebrar o encanto
Que está em baixo do manto,
Fechado numa marmita.
44
Numa marmita? Pergunta
Sorrindo nossa princesa,
Marmita em baixo do manto
E não em cima da mesa?
Como vou acreditar
Que isso vai nos livrar
De toda minha tristeza?
45
O cavalo assim falou:
Volte agora a me montar
Que logo vamos partir
E antes do sol raiar,
Chegaremos ao destino
E esse meu ser pequenino
Vai começar a lutar.
46
Antes do nascer do sol
Com os raios da aurora,
Montada em seu alado
Surge a princesa Naurora,
Vestido seu elmo branco
Para acabar o quebranto
Pois tinha chegado a hora.
47
Chegaram a um velho templo
Bem na porta principal,
Naurora apeia o cavalo
Fica em baixo do umbral,
Da sela tira um escudo
Com ferros pontiagudos
Entra naquele local.
48
Leva consigo o bizaco
Que pegou lá na saída,
Coloca a mão dentro dele
Tira um pouco de comida,
Joga dentro do salão
Foi tremenda a confusão
Gritos pedindo bebida.
49
Coloca agua pra eles,
Gritou lá fora o cavalo.
Então tudo se ilumina
De dentes se ouve estalos
Era um bocado de homem,
Que Naurora mata a fome,
Que se tornaram vassalos.
50
Eram todos prisioneiros,
Dos duendes da maldade.
Estavam ali há uns anos
Sem direito a claridade,
Quando a Naurora chegou
Todos ela libertou
Disseminando a bondade.
51
Dentro do templo a princesa
Continuou procurando
Onde estava a velha bruxa,
E ia se aprofundando
De repente em sua frente
Aparece uma serpente
Com veneno ameaçando.
52
Naurora pega o escudo
Cheio de pontas bem finas,
Crava eles e a serpente
Vira ave de rapina,
A pedra grita o alado,
Jogue uma no safado
Que ela vai virar salina.
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Então com seu lenço branco
A princesa apanha o sal.
Ele iria lhe servir
Para dizimar o mal,
Tudo aquilo estava escrito
Num livro lá no infinito
No fundo de um lamaçal.
54
Foi quando aparece o manto
Bem logo ali ao seu lado,
Em baixo tava a marmita
Com o segredo guardado,
Para acabar o quebrando
Ela tira o papel brando
E tudo foi revelado.
55
Ela coloca o papel
Por sobre aquela marmita,
Derrama ali seu perfume
Pra completar a escrita.
Então a marmita ela abre
Assim espera que acabe
Toda a sua desdita.
56
Preza dentro da marmita,
Estava a bruxa do mal
A que deixo aquela praga,
Naquele dia fatal,
Aquela bruxa chorava
E de joelhos implorava,
Perdão por ser marginal.
57
Naurora pega a outra pedra
Na bruxa ela põe na mão,
Então se ouve um barulho
Uma tremenda explosão.
Naurora volta a crescer
A bruxa vai se esconder
Lá no fundo do porão.
58
Então ela pega o papel
Que estava escrito destino
Coloca lá no bizaco
De fininho vai saindo
A princesa pega o sal
Derrama lá no umbral
Tudo fica cristalino.
59
Três anos tinham passado
Quando Naurora fugiu
Agora estava de volta
Feliz como nunca viu.
Agora era uma princesa
Pertencia a realeza,
A mais bela no perfil.
60
Aquele cavalo alado
Que foi o seu protetor,
Era de fato um príncipe
Que Naurora desposou,
Estava tudo perfeito
O povo bem satisfeito,
Quando o Rei abdicou.
61
Estava se iniciando
Ali uma nova história,
O reinado da mais bela
A princesinha Naurora,
Que junta com seu esposo
Dariam um traçado novo
Sem esquecer o de outrora.
62
Então vovó encerrava
Mais uma de seu plantel,
Eu como bom escritor,
Coloquei tudo em papel.
Afinal meus bons amigos
Afirmo aquilo que digo
Sou o melhor menestrel.
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