segunda-feira, 22 de julho de 2024

THAINÁ

 


                NIVALDO MELO.
1
Conta uma velha lenda
Que uma índia Tupi
Foi dada em casamente
Para um índio Guarani
Essa é mais um historia
Que passo a contar agora
Nesse momento e aqui.
2
Conta o povo mais antigo
Que na colonização
Os portugueses chegados
Provocavam invasão
Tudo a procura de ouro
Para aumentar seu tesouro
Explorando nosso chão.
3
Naquele tempo o lugar
Ainda não era Brasil
Era terra de quem fosse
O cara mais varonil
Quem tinha arma mandava
E ninguém não contestava,
A lei do velho fuzil.

4

Os grandes desbravadores

Quando chegavam na aldeia

Montavam acampamento

No chão batido de areia

Encontravam com o cacique

Lhes dando presente chique

Ali criavam uma teia.

5

Aqueles índios inocentes

Eram logo conquistados

Não sabiam os grandes chefes

Que estavam sendo enganados

E sem entender quase nada

Tava a tribo conquistada

Servindo de pau-mandado.

6

Naquele tempo era assim

Quem manda quem tem direito

Quem tem juízo obedece

Guardando o velho respeito

Eram as terras de ninguém

E sem se gastar um vintém

Tudo era assim desse jeito.

7

Mas vamos a nossa lenda

Que é o foco principal

Começa aqui nossa história

Dizem que é fato real

Vou lhes contar direitinho

Narrar com todo carinho

O amor entre um casal.

8

Prestem atenção na história

Que agora vamos narrar

É sobra a bela índia Tupi

Conhecida por Thainá,

Filha do cacique Kauê

Chefe da tribo Irerê

Que era a maior do lugar

9

Era costume entre índios

Para selar amizade

Unirem os filhos dos chefes

Formar casal de verdade

Dessa forma era feito

Não havia outro jeito

Pra preservar igualdade.

10

Então nas festas das aldeias

Quando tribos se reuniam

Os caciques e os pajés

Juntos eles discutiam

Até alguém concordar

Quem iria desposar

A índia que escolhiam.

11

E assim aconteceu,

Na terceire lua cheia,

A jovem índia Thainá

A mais bela da aldeia

Escolhida pra casar

Com o jovem Andirá

Estava formada a teia.

12

Mas o jovem Andirá

Não estava ali presente

E a bela Thainá

Não ficou nada contente

Pois queria conhecer

Aquele que iria ser

O seu novo pretendente.

13

Chamou o velho Kauê

O pai cacique da aldeia

E falou para seu pai

Mostrando uma cara feia

Como é que vou casar

Com ele que aqui não está

Já na próxima lua cheia?

14

O velho cacique falou

É coisa de tradição

Unir os filhos dos chefes

Selando uma união

Entre a tibo Guarani

Com a nossa tribo Tupi

Sem a menor discursão.

15

Nessa época na aldeia

Do bom cacique Kauê

Tavam chegado os brancos

Na grande tribo Irerê

Dizendo está de passagem

Só conhecendo a paisagem

Mas sem causar fuzuê. 

16

Quando chegaram na praia

Com trajes de bandeirantes

Os índios ficaram pasmos

Ao verem roupas brilhantes

Estavam boquiabertos

Queriam era ver de perto

Tantos cavaleiros andantes.

17

O grande chefe Kauê

Com sua filha Thainá

Foram dar as boas vindas

Praqueles que iam chegar

Levantando a sua mão

Dando sua aprovação

Sejam bem vindos ao lugar.

18

Entre os desbravadores

Estava o jovem Manoel

De cabelos longos e loiros

Cobertos por um chapéu

Foi o que chamou a atenção

Pois as mulheres da nação

Queriam-no como troféu.

19,

Quando a índia Thainá

Viu aquele jovem louro

Seu coração deu um pulo

Batendo alto em estouro

Ela pôs as mão no peito

Se ajoelhou de um jeito

Ali sobre o logradouro.

20

Todos que estavam presentes

Ficaram sem entender

O que estava ocorrendo

Na grande aldeia Arerê

O que está a se passar

Com minha filha Thainá?

Pergunta o chefe Kauê.

21

Então naquele momento

O belo jovem Manoel

Sai em socorro da índia

De olhos da cor do mel

Ajoelha-se no chão

Da índia pega na mão

E diz um verso em cordel.

22

Que tens bela rapariga

O que se passa com ti?

Venho de terras distante

Ver coisas que nunca vi

E por que estás prostrada

Sobre essa terra molhada

Por favor levanta-te.

23

E com um gesto fidalgo

Levanta bem devagar

Sempre segurando a mão

Da bela índia Thainá

Ela de olhos para o chão

Só ouvia o seu coração

Querendo do peito pular.

24

Ele e ela não entendiam

O que estava se passando

Muito menos o cacique

Que atônito ficou olhando

Vendo toda aquela cena

Entre o loiro e a morena

Quase, quase se beijando.

25

Abá porang aoba berab

Homem bonito roupa brilhante

Pysyk curumim abai Thainá

Levar menina índia Thainá

Grita bem alto o pajé

Kauê grita pra parar

Não vejo nada de mais

Na ação desse rapaz

Por isso vamos voltar.

26

Saíram em comitiva

Em direção da aldeia

Thainá preocupada

Por ter feito coisa feia

O Manoel ao seu lado

Como se fosse um soldado

Protegendo uma sereia.

27

Os dias foram passando

Sem que pudessem se encontrar

O belo e jovem Manoel

Com a princesa Thainá

Ela estava enclausurada

Por estar quase casada

Com o guerreiro Andirá

28

As luas forram passando

A minguante e lua nova

Metade da trajetória

Entra a oca e a alcova

E na próxima lua cheia

Teriam festa na aldeia

Era o final da prova.

29

Na noite da lua nova

Numa escuridão total

Dois vultos se encontravam

Lá dentro do matagal

Eram Thainá e Manoel

Que fugiam do “quartel”

Por um amor marginal.

30

Nem precisaram falar

Fugiram em disparada

Naquela mata escura

Bem por fora da picada

Nem rastro iam deixando

Se tinham iam apagando

Correram até a alvorada.

31

Quando amanheceu o dia

Ambos estavam cansados

Pararam pra descansar

Dentro do mato fechado

Não se escutava um som

Aquele era um lugar bom

Os dois ficaram acordados.

32

Então o Manoel proferiu

As palavras mais bonitas

Que a Thainá já ouviu

Nem em som e nem escrita

Mas ela nada entendia

A língua não conhecia

Era pra ela a desdita.

33

A língua que ele falava

Nem dava pra conferir

Ela só se comunicava

No dialeto Tupi

Mas na linguagem do amor

Ela se comunicou

Os dois ficaram a sorrir. 

34

Nessa hora os dois ouviram

Um som muito diferente

Era o som de muitos trotes

Então ficaram contentes

São cavalos com certeza

E ela com toda destreza

Segurou os dois da frente.

35

Montaram em seus cavalos

E saíram em disparada

Cavalgaram o dia todo

Dentro da mata fechada

Comeram frutos da mata

A água foi da cascata

Pararam de madrugada.

36

Na aldeia foi um tumulto

Após a fuga do casal

O grande chefe Kauê

Chamou todo o pessoal

Tragam de volta os dois

Que o premio vem depois

Pra ele o caso é fatal.

37

Todos guerreiros da tribo

Começaram a caçada

Procuravam dia e noite

Até alta madrugada

Mas deles nem viam rastro

Mas Kauê disse eu acho

Antes do fim da jornada.

38

Faltavam só duas luas

Pra festa do casamento

Que unira duas tribos

Esse era o juramento

Se o caso fosse anulado

Era um bafafá danado

Por falta de entendimento.

39

Tinham que comunicar

Ao grande chefe Lauany

Era assim que se chamava

O cacique Guarani

Pai do guerreiro Andirá

Prometido pra casar

Com a bela índia tupi.

40

Aos três deia de caçada

Encontraram as pegadas

Indo em direção contrária

Bem distante das estradas

Eles estão em dois cavalos

Vai ser difícil encontrá-los

Chegamos ao fim da caçada.

41

Nós temos que procurá-los

Até em baixo da terra

Falou assim o pajé

Senão entramos em guerra

O grande chefe Lauany

Para nós vai exigir

Que exploremos as serras.

42

Enquanto isso o casal

Se dirigiam para o mar

Seguiam por um igarapé

Nem pra traz queriam olhar

Era uma fuga danada

Dia noite madrugada

Mas não podiam parar.

43

Ao longe eles ouviram,

O som de uma cachoeira.

Para lá se dirigiram,

Encontraram uma clareira,

Ficamos nesse lugar

Ninguém vai nos encontrar.

Ali fizeram a fogueira.

44

Se alimentara de caça

Comeram frutas e relvas

Tudo ao pé da fogueira

Feita no meio da selva

Primeira vez se amaram

E ali os dois juraram

Amor na paz e na guerra,

45

E naquele paraíso

Fizeram sua morada

Os dois trabalharam duro

Foi cansativa a jornada

Os meses foram passando

E eles sempre se amando

A família estava formada.

46

Thainá muito feliz

Ao lado de seu amor

E no amor entre os dois

Não tinha ódio ou rancor

Curtiam a felicidade

Ali não tinha maldade

Nem aflição e nem dor.

47

À noitinha eles sentavam

Para falar do passado

Falavam de suas infâncias

Sentados ali lado-a-lado

E quando a noite surgia

Os dois logo se recolhiam

Pra dormirem sossegado.

48

E logo quando o sol surgia

Os dois já estavam de pé

E sempre faziam amor

Antes de tomarem café

Então ele ia pra caçar

Ela ficava a arrumar

Sua casa de sapé.

49

Era tudo tão bonito

Para os dois, felicidades

Seus corações eram puros

Sem lugar para a maldades

Uma relação muito pura

Com diferentes culturas

Na maior passividade.

50

O tempo ia passando

Na mais perfeita união

Somente a felicidade

Era a única opção

A Thainá cantava assim

Quero ter um curumim

Quando cantava canção.

51

O Manoel sorridente

Abraçava a Thainá

Todo dia de manhã

Quando ia pra caçar

Voltava ao meio dia

O alimento trazia

Para os dois alimentar.

52

Um dia a bela Thainá

Segreda pra o Manoel

Quero que fiques feliz

Vamos aumentar o plantel

Agora vou te afirmar

Um curumim vai chegar

O chamaremos Miguel.

53

Quando nasce o curumim

Foi quando aumenta a alegria

O Manoel sai gritando

Externando a euforia

É o curumim mais bonito

Eu vou deixar tudo escrito

Para alguém ler algum dia.

54

Dizem que a felicidade

Dura pouco no presente.

Ao nascer do curumim

Chega ao local a “serpente”

De índio fantasiada

Com a cara toda pintada

Aparece de repente.

55

Manoel tinha saído

Bem antes do sol nascer

Ainda era madrugada

Para mais uma caçada

A Thainá se assustou

Quando a porta chegou

E ficou estatelada.

56

Fala assim o mensageiro:

Você tem que ir comigo

Já faz mais de 15 luas

Que guerrilhamos inimigo

Quando da tribo tu fugiu

O teu pretendente exigiu

O escalpo de teu marido.

57

Mas isso é impossível

Falou assim a Thainá

Espere só mais um pouco

Que Manoel vai chegar

Já temos um curumim

Não dá pra voltar assim

Você vai ter que esperar.

58

Então o mensageiro grita

Em direção a floresta

De volta vem algazarra

Que parecia uma festa

Se ouve então um tropel

Na frente vem Manoel

Ferido por uma flecha.

59

A Thainá dá um grito

Corre em direção ao amado

Mas no meio do cominho

Pelo índio foi barrado

Manoel cambaleava

Viu sua face marcada

De sangue toda ensopada.

60

Na mente da bela índia

Nada ficou entendido

Sua cabeça fervilhava

Ao olhar pra seu marido

Vendo todo o sofrimento

Que passava no momento

Seu amor, o seu querido.

61

Para sanar o sofrimento

Daquele homem perfeito

Pegou seu arco de caça

Flechou-o mesmo no peito

Vazando seu coração

Manoel cai sobre ao chão

Chorando, mas satisfeito.

62

A Thainá não se lembra

O que aconteceu em seguida,

Quando ela deu por si

Tava na mata perdida,

Nos braços seu curumim

63,Corria gritando assim

De Tupã sou protegida,

63

Thainá sai dali correndo

E sem saber qual destino,

Seus braços fortes apertavam,

Contra seu peito o menino,

Estava ela em torpor,

Transferindo seu amor

Praquele ser pequenino.,

64

Os índios correm atrás

Da bela índia Tupi

Que queria de certa forma

O seu destino cumprir

Juntar-se ao seu bem-amado

Que atrás ficou postado

Sentindo a vida exaurir.

65

Chegando a cachoeira

Ouvindo o som do tantã

Elevou seu filho ao alto

Sua mente estava sã

Manoel estava ali

Para com eles subir

Aos braços do Deus Tupã.

66

Todo ano há festival,

Nas pedras da cachoeira,

Índios e brancos comungam,

De forma hospitaleira.

Exaltando com muito brilho,

A bela índia e seu filho,

A grande THAINÁ guerreira.





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