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Os grandes desbravadores
Quando chegavam na aldeia
Montavam acampamento
No chão batido de areia
Encontravam com o cacique
Lhes dando presente chique
Ali criavam uma teia.
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Aqueles índios inocentes
Eram logo conquistados
Não sabiam os grandes chefes
Que estavam sendo enganados
E sem entender quase nada
Tava a tribo conquistada
Servindo de pau-mandado.
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Naquele tempo era assim
Quem manda quem tem direito
Quem tem juízo obedece
Guardando o velho respeito
Eram as terras de ninguém
E sem se gastar um vintém
Tudo era assim desse jeito.
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Mas vamos a nossa lenda
Que é o foco principal
Começa aqui nossa história
Dizem que é fato real
Vou lhes contar direitinho
Narrar com todo carinho
O amor entre um casal.
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Prestem atenção na história
Que agora vamos narrar
É sobra a bela índia Tupi
Conhecida por Thainá,
Filha do cacique Kauê
Chefe da tribo Irerê
Que era a maior do lugar
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Era costume entre índios
Para selar amizade
Unirem os filhos dos chefes
Formar casal de verdade
Dessa forma era feito
Não havia outro jeito
Pra preservar igualdade.
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Então nas festas das aldeias
Quando tribos se reuniam
Os caciques e os pajés
Juntos eles discutiam
Até alguém concordar
Quem iria desposar
A índia que escolhiam.
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E assim aconteceu,
Na terceire lua cheia,
A jovem índia Thainá
A mais bela da aldeia
Escolhida pra casar
Com o jovem Andirá
Estava formada a teia.
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Mas o jovem Andirá
Não estava ali presente
E a bela Thainá
Não ficou nada contente
Pois queria conhecer
Aquele que iria ser
O seu novo pretendente.
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Chamou o velho Kauê
O pai cacique da aldeia
E falou para seu pai
Mostrando uma cara feia
Como é que vou casar
Com ele que aqui não está
Já na próxima lua cheia?
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O velho cacique falou
É coisa de tradição
Unir os filhos dos chefes
Selando uma união
Entre a tibo Guarani
Com a nossa tribo Tupi
Sem a menor discursão.
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Nessa época na aldeia
Do bom cacique Kauê
Tavam chegado os brancos
Na grande tribo Irerê
Dizendo está de passagem
Só conhecendo a paisagem
Mas sem causar fuzuê.
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Quando chegaram na praia
Com trajes de bandeirantes
Os índios ficaram pasmos
Ao verem roupas brilhantes
Estavam boquiabertos
Queriam era ver de perto
Tantos cavaleiros andantes.
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O grande chefe Kauê
Com sua filha Thainá
Foram dar as boas vindas
Praqueles que iam chegar
Levantando a sua mão
Dando sua aprovação
Sejam bem vindos ao lugar.
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Entre os desbravadores
Estava o jovem Manoel
De cabelos longos e loiros
Cobertos por um chapéu
Foi o que chamou a atenção
Pois as mulheres da nação
Queriam-no como troféu.
19,
Quando a índia Thainá
Viu aquele jovem louro
Seu coração deu um pulo
Batendo alto em estouro
Ela pôs as mão no peito
Se ajoelhou de um jeito
Ali sobre o logradouro.
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Todos que estavam presentes
Ficaram sem entender
O que estava ocorrendo
Na grande aldeia Arerê
O que está a se passar
Com minha filha Thainá?
Pergunta o chefe Kauê.
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Então naquele momento
O belo jovem Manoel
Sai em socorro da índia
De olhos da cor do mel
Ajoelha-se no chão
Da índia pega na mão
E diz um verso em cordel.
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Que tens bela rapariga
O que se passa com ti?
Venho de terras distante
Ver coisas que nunca vi
E por que estás prostrada
Sobre essa terra molhada
Por favor levanta-te.
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E com um gesto fidalgo
Levanta bem devagar
Sempre segurando a mão
Da bela índia Thainá
Ela de olhos para o chão
Só ouvia o seu coração
Querendo do peito pular.
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Ele e ela não entendiam
O que estava se passando
Muito menos o cacique
Que atônito ficou olhando
Vendo toda aquela cena
Entre o loiro e a morena
Quase, quase se beijando.
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Abá porang aoba berab
Homem bonito roupa brilhante
Pysyk curumim abai Thainá
Levar menina índia Thainá
Grita bem alto o pajé
Kauê grita pra parar
Não vejo nada de mais
Na ação desse rapaz
Por isso vamos voltar.
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Saíram em comitiva
Em direção da aldeia
Thainá preocupada
Por ter feito coisa feia
O Manoel ao seu lado
Como se fosse um soldado
Protegendo uma sereia.
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Os dias foram passando
Sem que pudessem se encontrar
O belo e jovem Manoel
Com a princesa Thainá
Ela estava enclausurada
Por estar quase casada
Com o guerreiro Andirá
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As luas forram passando
A minguante e lua nova
Metade da trajetória
Entra a oca e a alcova
E na próxima lua cheia
Teriam festa na aldeia
Era o final da prova.
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Na noite da lua nova
Numa escuridão total
Dois vultos se encontravam
Lá dentro do matagal
Eram Thainá e Manoel
Que fugiam do “quartel”
Por um amor marginal.
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Nem precisaram falar
Fugiram em disparada
Naquela mata escura
Bem por fora da picada
Nem rastro iam deixando
Se tinham iam apagando
Correram até a alvorada.
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Quando amanheceu o dia
Ambos estavam cansados
Pararam pra descansar
Dentro do mato fechado
Não se escutava um som
Aquele era um lugar bom
Os dois ficaram acordados.
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Então o Manoel proferiu
As palavras mais bonitas
Que a Thainá já ouviu
Nem em som e nem escrita
Mas ela nada entendia
A língua não conhecia
Era pra ela a desdita.
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A língua que ele falava
Nem dava pra conferir
Ela só se comunicava
No dialeto Tupi
Mas na linguagem do amor
Ela se comunicou
Os dois ficaram a sorrir.
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Nessa hora os dois ouviram
Um som muito diferente
Era o som de muitos trotes
Então ficaram contentes
São cavalos com certeza
E ela com toda destreza
Segurou os dois da frente.
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Montaram em seus cavalos
E saíram em disparada
Cavalgaram o dia todo
Dentro da mata fechada
Comeram frutos da mata
A água foi da cascata
Pararam de madrugada.
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Na aldeia foi um tumulto
Após a fuga do casal
O grande chefe Kauê
Chamou todo o pessoal
Tragam de volta os dois
Que o premio vem depois
Pra ele o caso é fatal.
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Todos guerreiros da tribo
Começaram a caçada
Procuravam dia e noite
Até alta madrugada
Mas deles nem viam rastro
Mas Kauê disse eu acho
Antes do fim da jornada.
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Faltavam só duas luas
Pra festa do casamento
Que unira duas tribos
Esse era o juramento
Se o caso fosse anulado
Era um bafafá danado
Por falta de entendimento.
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Tinham que comunicar
Ao grande chefe Lauany
Era assim que se chamava
O cacique Guarani
Pai do guerreiro Andirá
Prometido pra casar
Com a bela índia tupi.
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Aos três deia de caçada
Encontraram as pegadas
Indo em direção contrária
Bem distante das estradas
Eles estão em dois cavalos
Vai ser difícil encontrá-los
Chegamos ao fim da caçada.
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Nós temos que procurá-los
Até em baixo da terra
Falou assim o pajé
Senão entramos em guerra
O grande chefe Lauany
Para nós vai exigir
Que exploremos as serras.
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Enquanto isso o casal
Se dirigiam para o mar
Seguiam por um igarapé
Nem pra traz queriam olhar
Era uma fuga danada
Dia noite madrugada
Mas não podiam parar.
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Ao longe eles ouviram,
O som de uma cachoeira.
Para lá se dirigiram,
Encontraram uma clareira,
Ficamos nesse lugar
Ninguém vai nos encontrar.
Ali fizeram a fogueira.
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Se alimentara de caça
Comeram frutas e relvas
Tudo ao pé da fogueira
Feita no meio da selva
Primeira vez se amaram
E ali os dois juraram
Amor na paz e na guerra,
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E naquele paraíso
Fizeram sua morada
Os dois trabalharam duro
Foi cansativa a jornada
Os meses foram passando
E eles sempre se amando
A família estava formada.
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Thainá muito feliz
Ao lado de seu amor
E no amor entre os dois
Não tinha ódio ou rancor
Curtiam a felicidade
Ali não tinha maldade
Nem aflição e nem dor.
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À noitinha eles sentavam
Para falar do passado
Falavam de suas
infâncias
Sentados ali lado-a-lado
E quando a noite surgia
Os dois logo se
recolhiam
Pra dormirem sossegado.
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E logo quando o sol
surgia
Os dois já estavam de pé
E sempre faziam amor
Antes de tomarem café
Então ele ia pra caçar
Ela ficava a arrumar
Sua casa de sapé.
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Era tudo tão bonito
Para os dois, felicidades
Seus corações eram puros
Sem lugar para a maldades
Uma relação muito pura
Com diferentes culturas
Na maior passividade.
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O tempo ia passando
Na mais perfeita união
Somente a felicidade
Era a única opção
A Thainá cantava assim
Quero ter um curumim
Quando cantava canção.
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O Manoel sorridente
Abraçava a Thainá
Todo dia de manhã
Quando ia pra caçar
Voltava ao meio dia
O alimento trazia
Para os dois alimentar.
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Um dia a bela Thainá
Segreda pra o Manoel
Quero que fiques feliz
Vamos aumentar o plantel
Agora vou te afirmar
Um curumim vai chegar
O chamaremos Miguel.
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Quando nasce o curumim
Foi quando aumenta a
alegria
O Manoel sai gritando
Externando a euforia
É o curumim mais bonito
Eu vou deixar tudo
escrito
Para alguém ler algum
dia.
54
Dizem que a felicidade
Dura pouco no presente.
Ao nascer do curumim
Chega ao local a
“serpente”
De índio fantasiada
Com a cara toda pintada
Aparece de repente.
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Manoel tinha saído
Bem antes do sol nascer
Ainda era madrugada
Para mais uma caçada
A Thainá se assustou
Quando a porta chegou
E ficou estatelada.
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Fala assim o mensageiro:
Você tem que ir comigo
Já faz mais de 15 luas
Que guerrilhamos inimigo
Quando da tribo tu fugiu
O teu pretendente exigiu
O escalpo de teu marido.
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Mas isso é impossível
Falou assim a Thainá
Espere só mais um pouco
Que Manoel vai chegar
Já temos um curumim
Não dá pra voltar assim
Você vai ter que esperar.
58
Então o mensageiro grita
Em direção a floresta
De volta vem algazarra
Que parecia uma festa
Se ouve então um tropel
Na frente vem Manoel
Ferido por uma flecha.
59
A Thainá dá um grito
Corre em direção ao
amado
Mas no meio do cominho
Pelo índio foi barrado
Manoel cambaleava
Viu sua face marcada
De sangue toda ensopada.
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Na mente da bela índia
Nada ficou entendido
Sua cabeça fervilhava
Ao olhar pra seu marido
Vendo todo o sofrimento
Que passava no momento
Seu amor, o seu querido.
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Para sanar o sofrimento
Daquele homem perfeito
Pegou seu arco de caça
Flechou-o mesmo no peito
Vazando seu coração
Manoel cai sobre ao chão
Chorando, mas satisfeito.
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A Thainá não se lembra
O que aconteceu em seguida,
Quando ela deu por si
Tava na mata perdida,
Nos braços seu curumim
63,Corria gritando assim
De Tupã sou protegida,
63
Thainá sai dali correndo
E sem saber qual destino,
Seus braços fortes apertavam,
Contra seu peito o menino,
Estava ela em torpor,
Transferindo seu amor
Praquele ser pequenino.,
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Os índios correm atrás
Da bela índia Tupi
Que queria de certa
forma
O seu destino cumprir
Juntar-se ao seu
bem-amado
Que atrás ficou postado
Sentindo a vida
exaurir.
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Chegando a cachoeira
Ouvindo o som do tantã
Elevou seu filho ao alto
Sua mente estava sã
Manoel estava ali
Para com eles subir
Aos braços do Deus Tupã.
66
Todo ano há festival,
Nas pedras da cachoeira,
Índios e brancos
comungam,
De forma hospitaleira.
Exaltando com muito
brilho,
A bela índia e seu filho,
A grande THAINÁ guerreira.
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