Corupaco Papaco Paco,
É um papagaio louro,
De inteligência rara,
Com fortaleza de touro.
Perspicaz e competente,
Era um louro diferente.
Para seus donos, tesouro.
2
Papagaio poliglota,
Falava bem português,
Dominava o hindi,
Espanhol e o francês,
Conhecia o guarani,
Arranhava no tupi,
Era bom no javanês.
3
Falava fluentemente
A língua dos animais.
Vertebrados, invertebrados,
E com ideias geniais,
Dominava toda gente,
Era muito inteligente,
Educado, mui sagaz.
Se
tornou auto didata,
Falando
o galinhes,
Também
era professor,
De
línguas, como escocês,
Esperanto
e latim,
Era
bom no mandarim,
Falava
até japonês.
5
Quando
os donos viajavam
Par
longe do seu país,
Ele
era o tradutor,
Agia
como um juiz.
Pense
num cara arretado,
Metido,
mas bem educado,
Em
tudo metia o nariz.
6
Nos
conflitos animais
Estava
sempre de frente,
Se
dizia autoridade
Afirmando
ser tenente
Apaziguava
as brigas
Desfazia
as intrigas,
Ele
era boa gente.
7
Discutia com seus donos
Sobre temas variados.
Política e futebol,
Nisso era bem versado.
Mas no tema religião,
Sempre dizia que não,
Há anos tava afastado.
8
As leis do nosso país
Sabia todas de cor.
Nos artigos e parágrafos,
Discutia e dava nó.
Até os grandes juristas,
Com ele baixavam a crista,
Pra não criar quiproquó.
9
Tinha ojeriza a gaiolas,
Adorava a liberdade.
Amigo de pouca amigos,
O seu lema era a verdade.
Amante da natureza,
Sempre alegre, sem tristeza,
Odiava a falsidade.
Sempre
foi independente,
Gostava
de andar sozinho.
De
vez enquanto fugia,
Pra
visitava um vizinho.
Um
solitário senhor,
Que
sempre foi seu mentor,
Ele
o chamava padrinho.
11
Mas
um dia o Corupaco,
Resolveu
ser voarilho.
Sair
por ai voando,
Ia
sem rumo e sem trilho.
Procurar
novas paragens,
Só
com a cara e a coragem,
Conhecer
opaco e brilho.
12
Saiu
sem traçar um rumo,
E
nem onde ia parar.
Viajava
durante o dia,
A
noite pra descansar,
Pousava
na arvore mais alta,
Pra
preparar nova pauta,
Pra onde iria voar.
Foi
assim durante dias,
O
que Corupaco fez.
Voava
sem ter destino,
As
vezes com rapidez,
Em
outra com calmaria,
Mas
só durante o dia,
Agia
como um burguês.
14
Nem
tudo sempre foi flores,
Para
o nosso Corupaco.
Voava
sempre em bons ventos,
Mas
não previa um vácuo.
Desses
que deixam você,
Sem
conseguir entender,
E
cai fundo no buraco.
15
Um
dia o nosso voarilho,
Vislumbrou
uma lourinha,
Dessas
toda espevitada,
Bem-falante
e bonitinha.
Fez
pra ele um carinho,
Deixando
nosso bichinho,
De
asas amarradinhas.
Falava
língua comum
Dessas
de beira de estrada.
O
poliglota coitado,
Não
entendia de nada.
Era
muito palavrão,
E
gíria era de montão.
E
o Corupaco abestado.
17
Achava
muito diferente
Um
novo mundo encantado.
Uma
nova experiência.
Estava
sim deslumbrado.
No
livro das aves falantes,
Há
partir daquele instante,
Ele
estava apaixonado.
18
Foi
um amor entre eles,
Diferente
dos padrões,
Um
puro, todo educado,
Outro
em gíria e palavrões.
Ele
emanava a cultura,
Ela
de vida nada pura,
Não
batia as uniões.
Mas
foi um amor ardente,
Que
viveram aqueles dois.
Nada
convencional,
Nunca
feijão com arroz.
Um
amor quase selvagem,
Que
merecia filmagem,
Bem
na hora e não depois.
20
Depois
de dois dias a loura,
Pra
o Corupaco falou:
Hoje
a gente se separa,
Eu
já peguei meu andor.
Foi
um amor verdadeiro,
Eu
me entreguei por inteiro,
Foi
bom enquanto durou.
21
Cara,
já está na hora,
De
voltar a realidade.
Você
é muito finesse,
E
eu vivo na maldade,
Sou
uma loura da vida,
Não
quero causar ferida,
É
nosso adeus de verdade.
Esses
dois dias de amor,
Foi
como uma eternidade.
Para
mim e bom ser livre,
Pois
eu amo a liberdade.
Você
siga seu destino,
Pois
o mundo é pequenino,
É
essa a realidade.
23
-
Pode partir minha amada,
Leve
consigo o amor.
Aquele
que nós vivemos,
Com
todo nosso fervor,
Mesmo
ficando carente,
Serás
minha eternamente,
Meu
coração eu te dou.
24
Aprendi
muito contigo,
Vida,
amor e a liberdade.
Levarei
sempre comigo,
Pois
aprendi de verdade,
Foi
tempo suficiente,
Pra
o amor mais ardente,
Na
maior cumplicidade.
Partirei
pra outras terras,
Pois
voarilho eu sou.
Viverei
novas aventuras,
Farei
isso sem temor,
Jamais
te esquecerei,
Pois
com você não errei,
Divulgues
sempre o amor.
26
Então
a loura partiu,
Voando
pra seu destino,
E
o Corupaco ficou,
Triste
como um menino,
Que
perde mais um presente,
Mas
logo ficou contente,
Voou
feliz e sorrindo.
27
Novamente
a solidão
Virou
sua companheira.
Pra
ele era um aprendizado,
Viver
sem eira e sem beira.
Dependia
apenas de si,
Definir
pra onde ir,
Jamais
a vida caseira.
Voando
sempre bem alto,
Admirando
as paisagens,
Cumprimentando
as nuvens,
Adorava
aquelas imagens,
Cabeça
de aventureiro,
Ama
o mundo por inteiro,
Sem
rejeição ou triagem.
29
Então
sobre um campo verde,
Ele
viu um ponto escuro.
Seu
senso de curiosidade,
Ficou
um pouco inseguro.
Mesmo
assim quis saber,
Logo
desceu para ver,
Nem
pouso; era um monturo.
30
Então
ele ouviu um grito,
Mas
na língua bezourêz,
Pousou
para observar
Aquilo
de uma vez.
Então
a voz disse assim;
Que
tenha pena de mim,
Me
tire desse xadrez.
Ele
ficou pensativo,
Será
uma nova jornada?
E
disse; espere um pouco,
Que
vou dar uma ciscada.
Ciscou
pra lá e pra cá,
E
logo pode avistar,
Uma
besoura atolada.
32
Com
muita delicadeza
Usando
seu bico, tirou.
Aquela
besoura aflita,
Que
em prantos lhe falou;
Foste
a minha salvação,
Pra
fugir de um gavião,
Eu
mergulhei no cocô.
33
Ele
riu e se abaixou
Dizendo,
não sinta mágoa.
Eu
vou colocar você
Dentro
de uma poça d’água.
Faça
a limpeza primeiro,
Pra
se livrar do mal cheiro,
Se
cubra com sua anágua.
Depois
você vem comigo
Praquela
arvore frondosa.
Enquanto
você se enxuga,
Nós
vamos ter uma prosa,
Vamos
nos tornar amigos,
Fugir
juntos dos perigos,
Pois
a vida é perigosa.
35
-
Como você conseguiu
Falar
o nosso idioma?
-
Foi na escola da vida,
De
outros tenho diploma.
O
dialeto gavionês
Domino
com altives,
Isso
pra mim muito soma.
36
Converso
com gaviões,
Nosso
papo é bem comum.
Dialogo
com cabra, com quati,
Com
vaca, girafa ou mutum,
Falo
qualquer dialeto,
Me
acho quase completo,
Mas
não é pra qualquer um.
Então
a jovem besoura,
Deu
um passo para a frente.
Vou
te dar uma lembrança,
Esse
será meu presente.
Muito
simples e especial,
Por
favor não leve a mal,
É
algo bem diferente.
38
De
baixo das asas grossas,
Tirou
as duas asas finas.
-
Elas vão te proteger,
Contra
aves de rapina.
Te
darão velocidade,
Também
ocultabilidade,
Jamais
estas em ruina.
39
É
algo muito delicado,
Para
você manipular.
Use
bem dentro das penas,
Que
muito elas vão durar.
Receba
as duas sem medo,
Vou
te contar um segredo,
Elas
vão se regenerar.
Como
é que vás voar
Faltando
as duas assas?
-
Nós besouros temos quatro,
Duas
fundas, duas rasas.
As
fundas são pra voar,
As
rasas pra equilibrar,
Com
duas, só nos atrasa.
41
Agora
que vás fazer?
-
Besoura não pode parar,
Voltar
pra minhas flores,
E
lá, vamos polinizar.
E
ver nascer belos frutos,
É
esse nosso atributo,
Isso
nos faz orgulhar.
42
Que
coisa linda besoura,
Orgulho
em ser seu amigo.
Seu
trabalho é fabuloso,
E
deve ser expandido,
Fazes
um trabalho legal,
E
não existe outro igual,
Será por mim difundido.
A
besoura ainda lhe diz:
-
Você é grande pessoa,
Parto
com muita saudade,
Fique
firme e numa boa.
-
Peço que não me abandone
Me
diga ao menos seu nome.
Ela
gritou MAN-GA-GÔA.
44
E
o Corupaco voarilho,
Outra
vez ficava só.
Cabisbaixo
e pensativo,
Na
cabeça havia um nó.
Olhou
as duas asas finas,
Prendeu
sobe sua crina,
Fez
um colar com cipó.
45
No
resto daquele dia
Resolveu
que ia ficar,
Passaria
aquela noite
Pro
noutro dia voar.
Apertava
uma saudade
Dos
amigos da cidade;
Retroceder;
nem pensar.
Então
na manhã seguinte
Comeu
frutos do local,
Pensou
na sua lourinha,
E
na Mangagôa legal.
Então
se sentiu feliz,
Foi
tudo que sempre quis.
Voltara
seu alto astral.
47
E
o grande Corupaco
Continuou
a jornada.
Voando
sem um destino,
E
sem traçar uma estrada.
Ali
não tinha conflito,
Era
tudo tão bonito.
Entardecer,
alvorada.
48
Naquele
seu calendário,
Sem
um dia da semana.
Todos
os dias feriado,
Pense
numa vida bacana.
Mas
par seu desassossego,
Ao
deitar viu um morsego,
Voando
sobre a savana.
Ficou
todo admirado,
Como
pode ele voar?
Não
vejo nenhuma pena.
Será
que ele vai posar?
E
gritou: estou aqui,
E
na hora de dormir,
Você
pode vir pra cá.
50
E
o morcego acenou,
Com
suas asas de couro.
E
disse: eu sou Morcego,
-
Eu Corupaco, um louro.
-
Então vá dormir tranquilo,
Só
durmo quando o brilho,
Do
dia sai como ouro.
51
Quando
ele acordou
O
morcego estava ali.
De
cabeça para baixo,
Olhos
fechados a dormir.
Ele
disse pode falar,
Estou
aqui pra escutar.
O
que o amigo quer ouvir?
Estou
aqui meditando,
Que
tipo de ave é você?
Por
que voa sem ter pena?
Só
isso quero saber.
Estou
aqui abismado,
De
fato, estou abestado,
Sem
nadica entender.
53
Primeiro;
eu não sou ave,
Sou
mamífero voador.
Como
frutos e insetos,
É
esse meu divisor.
De
visão sou quase cego,
Se
perguntam, eu não nego,
Tenho
um radar protetor.
54
Não
precisamos de penas,
Pra
gente poder voar.
Nossas
asas são membranas,
Que
dificultam o andar.
Por
isso meu camarada,
Dormimos
de forma errada,
Mas
facilitam o largar,
Nossos
hábitos são noturnos,
Já
criamos até floresta,
Excretando
as sementes,
Vê-las
nascer é uma festa.
Somos
feios com certeza,
Mas
nossa mãe natureza,
Nossa
ação nunca contesta.
56
Nos
reunimos em bando,
Com
mais de cem elementos.
Dormimos
bem nas cavernas,
Que
nos protegem dos ventos.
Agrupamos
sem vazios,
Para
fugirmos dos frios.
Dizem
que somos agourentos.
57
Mesmo
assim tem predadores,
Que
vivem a lhes perseguir?
-
Tem. Os gaviões e as corujas,
Dos
quais temos que fugir.
Você
deve ter cuidado,
Podes
ser por eles achado,
E
podes até sucumbir.
Fique
tranquilo, morcego,
Amanheceu,
vou partir.
Vou
deixa-lo sossegado,
Você
já pode dormir.
Vou
continuar a escalada,
Pego
de novo a “estrada”,
Foi
bom o que aprendi.
59
Voou
por sobre a savana,
Em
baixo muito vazio.
Vislumbrou
algumas arvores,
Próxima
a beira de um rio.
Mas
era apenas um riacho,
Que
pedras tinha de cacho,
Lá
ele viu um sombrio.
60
Vou
fazer uma parada,
Ali
dá pra descansar.
Bebeu
um pouco d’água,,
Quando
ouviu um coaxa.
É
um sapo pequenino,
Parece
ser um menino,
Chamo-o
pra conversar.
Venha
cá pequeno sapo,
Precisas
de companhia?
-
Devo ficar onde estou,
Não
gosto der covardia.
-
Não tenha medo meu filho,
Sou
apenas um voarilho,
Pra
mim vai ser alegria.
62
O
pequeno sapo saiu,
E
estendeu-lhe a mão.
Foi
aí que ele notou,
O
sapo era um anão.
De
idade muito avançada,
Já
com pele esbranquiçada,
Corupaco
disse; perdão.
63
Peço
perdão pela gafe,
Pode
voltar pra seu ninho.
-
Mas isso é muito normal,
Bem
sei que não é adivinho.
-
Meu erro só me consome,
Ao
menos diga seu nome.
-
Me chamo CURURINHO.
Volto
pra minha jornada,
Sem
lugar e sem destino,
Garimpo
conhecimento,
Do
mais pobre ao mais fino.
E
um dia se eu voltar,
Vou
para o mundo espalhar,
Se
eu puder eu ensino.
65
E
bem alto sai voando,
Viu
de cima um vilarejo.
Ouviu
muito bem tocado,
O
som de um realejo.
Vem
de lá do manguezal,
Eu
nunca vi som igual
Vou
lá tentar um solfejo.
66
Bem
de longe ele avistou,
Uma
linda jovem tocando,
Bem
na frente ele pousou,
Ficou
só observando.
A
jovem nem se abalou,
Do
mesmo jeito ficou,
Nem
pra ele estava olhando.
-
Bom dia linda donzela,
Por
que não olhas pra mim?
-
Não vejo quem está falando,
Vivo
neste mundo assim.
-
Tocas tão bem o instrumento,
-
Ele é o meu alento,
Não
tenhas pena de mim.
68
-
Por que eu sentiria pena,
Da
qualidade em solfejo?
-
Pra mim não existem cores,
Nada
do mundo eu vejo.
-
Eu posso ver por você,
Basta
que exista querer.
-
É isso que mais almejo.
69
Dessa
forma o voarilho,
Chegara
ao fim da estrada.
Seria
os olhos da beleza,
Dia
noite ou madrugada.
E
ao lindo som do realejo
Realizou
seu desejo,
Cantando
ao fim da jornada.
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