quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Quem conta um conto!

Em um ambiente que é muito favorável a histórias e estórias, reuniam-se quase todas as tardes e porque não dizer todos os dias, o dia todo, as pessoas que garantiam ser as mais sérias da cidade, tratava-se da barbearia do Sr. Amaury. Velho conhecido de todos; o barbeiro, por sinal o único das redondezas, fazia questão de dizer ser o mais verdadeiro e honesto dos barbeiros do lugar.
Ali em sua barbearia freqüentavam crianças, adultos, velhos e até senhoras que faziam questão de ter seus cabelos cortados pelo velho Amaury, competente e bem falante, não deixava que pessoas tomassem a iniciativa da conversa, era ele quem sempre iniciava o diálogo.
Outra qualidade de barbeiro, era; nunca deixar que qualquer estória que alguém contasse, não tivesse a participação direta do mesmo, e assim em todos os fatos históricos ou não da cidade, se encontrava a figura do respeitado cortador de cabelos.
Uma manhã de sábado estava ele a desbastar a vasta cabeleira de um moço novato na cidade, quando entra em estado eufórico o Matias, parceiro habitual do Amaury, contando um fato que havia ocorrido na noite anterior, dizendo: Imaginem vocês o que ocorreu ontem a noite comigo! Passava eu por volta da meia noite, em frente ao casarão abandonado quando ouvi um gemido muito forte, vindo de traz do muro da velha casa.
Em principio não acreditei e esperei mais um pouco, e não é que o gemido voltou a acontecer, e dessa vez parecia um pedido de socorro, olhei por cima do muro, estava muito escuro, mas a voz parecia a do velho Tenório, o dono do casarão, aí olhei em direção a casa, e, vi que as luzes acenderam todas, menos as do terraço, isso porque pelas vidraças dava perfeitamente para ver que tudo dentro da velha casa estava iluminado. Foi quando vi que alguém estava abrindo a porta, aí não tive coragem de esperar para ver quem estava saindo da casa, saí correndo todo arrepiado. Aquela cada é mal assombrada.
Aí, entrou o barbeiro: mas Matias meu rapaz, você deveria ter esperado para ver quem estava saindo da velha casa, e quem era? (perguntou o Matias). É que quando você correu, eu estava chegando e vi dona Januária, mulher do velho Tenório, de lamparina na mão procurando pelo dono da voz que você ouviu, veio até o portão, olhou para os lados e não vendo ninguém, voltou novamente ao casarão.
Então o cliente que estava cortando o cabelo se manifestou, argumentando: senhores; estou morando por aqui a seis meses, sempre soube que o velho casarão está sem ser habitado a mais de 50 anos, nunca vi muro cercando a velha casa, nem cerca existe mais, naquele tempo não havia luz elétrica por aqui, como é que o Sr. Matias identificou a voz do dono da casa, se não chegou a conhecê-lo? E como as luzes da casa acenderam se não existe nenhuma fiação elétrica que justifique esse fato? E como o Sr. Amaury, conheceu a velha se quando ela morreu tinha apenas 30 anos? E o Sr: nem havia nascido? Então, todos os presentes se olharam, esperando a reação do barbeiro, que não demorou nada para aparecer.
Senhor nem sei quem! Quem é o senhor para desacreditar daquilo que estamos relatando? Tanto eu quanto o amigo Matias somos pessoas de credibilidade real por aqui onde residimos, o Sr: não nos conhece para contestar aquilo que estamos contando, portanto está sendo convidado agora para se retirar imediatamente de meu estabelecimento (e foi tirando a capa que cobria o cliente), deixando o mesmo apenas com metade da intensa cabeleira cortada, houve uma sonora gargalhada que dava fim aquele inusitado fato, nunca ninguém teve coragem de se opor as estórias contadas na barbearia.
Então o Sr: nem sei quem (como fixou conhecido), daquele dia em diante, teve que amargar se deslocar 12 km, toda vez que queria cortar os cabelos, por não saber ficar calado em momentos solenes como aquele.

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