domingo, 30 de agosto de 2009

Páginas da Vida IV– Epílogo


Recebi de meu amigo Jonas o pescador, um convite para assistir uma reunião dos pescadores da localidade, eles se reuniam em uma espécie de cooperativa denominada colônia de pesca, me falando no momento que seria para mim de suma importância, visto que estava interessado em conhecer mais estórias de pescador, isso fez com que de fato aguçasse minha curiosidade, em saber o que se conversava em uma reunião onde o número de pescadores fosse maioria.
No dia marcado uma sexta feira, (não poderia ser outro dia) apanhei o Jonas em sua residência e fomos com destino ao evento. No caminho soube que, finda a reunião eles entrariam na fase da confraternização, onde a bebida fazia com que eles soltassem o verbo e cada um que contasse suas aventuras em pescarias, isso me animou bastante, pois assim estaria colhendo subsídio para minhas narrativas; e em um clima de descontração chegamos ao local.
Fui apresentado ao presidente da cooperativa, que demonstrou já saber de minha ida, para observar o comportamento de pescadores em grupos bastante heterogêneos, onde cada um queria contar suas aventuras dando ênfase ao fato de que cada estória se passava sem testemunha, visto que os fatos só ocorriam quando eles estavam em solidão total, tendo apenas o mar como observador do fato.
A reunião propriamente dita não durou mais que 20 minutos, e foi encerrada com o convite a todos de ouvirem as aventuras de quem quisesse expor os fatos em público, e assim regrados a bastante pinga, (aguardente), fomos ouvindo as estórias dos pescadores. Quando alguma era considerada por todos, sem conteúdo, o orador era convidado a encerrar o relato, e assim a noite foi se tornando quase madrugada quando o presidente convidou o Matusalém, pescador mais velho para contar sua estória.
O senhor Matusalém, velhinho de pele bastante curtida pelo sol que durante vários anos queimou sua pele, e pelo sal da água, que juntos formam um fator de envelhecimento muito rápido, os braços do velhinho ainda eram bastante fortes, devido ao arrasto das redes pesadas, que nem sempre vinham carregadas de peixes, cabeleira branquinha que dava a impressão de que havia ali uma peruca feita de algodão, ele narrou a seguinte parada.
Estava eu e nosso velho amigo camarão (que Deus o tenha), pescando em alto mar quando tivemos a necessidade de lançar nossa âncora, para fixarmos a jangada no local onde deveríamos pescar, então quando joguei a âncora ao mar, a corda prendeu em minha perna e desci juntamente com ela até o fundo, (e fez uma pausa), a resposta foi imediata; OHHHHHHH! Que não alterou em nada a narrativa de Matusalém, então com bastante calma esperei até atingir o fundo, e aí comecei a agir, tentando soltar a corda, mas sem conseguir, foi quando surgiram em minha frente quatro peixes meros, comandados por um golfinho, que me apanharam com âncora e tudo e me lavaram até a jangada, me pondo lá são e salvo, meu compadre camarão, (tirou o chapéu em sinal de reverencia), que Deus o tenha (estava ali anulada a testemunha), se encontrava ajoelhado, a espera que o milagre acontecesse, (e aconteceu), ajeitou o botão da camisa muito branca, que vestia e saiu de mansinho sem esperar o resultado que sua narrativa tinha causado nos presentes
O silencio foi o que mais perturbou a todos, e nenhum comentário, (inclusive meu) foi ouvido naquele local, e todos saíram bastante satisfeito e “embriagados” da bebida e da estória contada pelo velho pescador, Matusalém.
Isso é tudo que posso passar para vocês, e caracteriza mais uma das várias páginas da vida.

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