Acredito que depois de ouvir tantos relados do meu novo amigo pescador, ao certo me tornará um dos melhores contadores de histórias e causos sobre o assunto.
Voltamos a nos encontrar alguns dias depois, dessa vez não praia, foi na praça, estava caminhando quando esbarrei com o meu amigo pescador, que como eu, estava fazendo sua caminhada diária, o sol ainda não tinha estendido seus raios totalmente, era quase madrugada (como definiu meu amigo), e já estamos nos encontrando, isso quer dizer que nosso dia será bastante auspicioso, não acha? Concordei de imediato, e marcamos para o final da tarde, nosso encontro; leve seu gravador que hoje tenho uma surpresa para o amigo. E assim nos despedimos naquela manhã.
Dessa vez quando cheguei ao local de nosso encontra o pescador já estava apostos, me esperando, notei que ele estava com algo que me pareceu a primeira vista uma bengala coberta com uma lona grossa, uma espécie de capa protetora, fiquei curioso, mas nada perguntei, ele sorridente como sempre e me perguntou: o amigo não quer saber o que esta escondido dentro dessa capa? Por certo estou, mas deixo para o amigo solucionar o problema.
Como havia eu falado, estou lhe trazendo a surpresa prometida hoje pela manhã, e retirando com muita tranqüilidade do invólucro, um arpão (que pelo brilho parecia de prata), com uma ponta muito afiada, de mais ou menos 30 cm de comprimento, fiquei olhando aquele instrumento de trabalho do amigo, bastante admirado, isso porque nunca havia visto um arpão com aquela qualidade de confecção, era uma verdadeira obra de arte.
Parece de prata não é? Mas é de aço inoxidável, me foi dado pelo compadre Nilson, (ele é padrinho de meus cinco filhos, depois lhe conto essa estória), só que esse arpão quando me foi entregue era um anzol. Anzol? (repeti admirado), é que ele tem uma história ate chegar a ser arpão, e relatou.
Esse foi um dos melhores presentes que ganhei, fazia parte de um espigão, (conjunto de anzóis que são colocados em uma única linha, com a finalidade de pescar vários peixes ao mesmo tempo), esse era o da ponta, o maior, o mais robusto, nesse espigão tinha 15 anzóis, só esse se destacava, pela sua beleza, e pela qualidade de seu acabamento perfeito, era também meu orgulho, (com é ate hoje).
Trabalhou como anzol apenas uma vez, foi quando eu usei o espigão pela primeira vez, e foi uma pescaria inesquecível.
Como o amigo sabe, eu pesco mergulhando, e precisava de um arpão e não de um anzol, mas aceitei de bom grado o presente de compadre Nilson, e fui imediatamente à pescaria, mergulhei pertos de um banco de corais, isquei o espigão, e amarrei um lado da linha, em uma pedra, bem lá no fundo, e subi para dar um tempo para retirar o espigão, enquanto isso “sonequei”, já que não tinha ninguém para conversar.
O tempo passou, quando acordei, estava justamente na hora de retirar o espigão e ver o resultado da pescaria, então mergulhei, e dei de vara com o espigão com 15 peixes fisgados; presos nos anzóis, apenas no primeiro um peixe muito grande se debatia com tanto vigor que conseguiu desentortar o anzol e fugir com a isca.
Camarada, Deus é tão sábio que fez com que o peixão desentortasse o anzol transformando-o nesse arpão que o amigo esta admirando em suas mãos.
Então; quase sem fala eu disse: o colega deve ter tido um medo maior que o tamanho do peixe, que lhe fez esse favor, presenteando-o, com seu verdadeiro instrumento de trabalho? Não, quem faz pesca submarina está acostumado a ver peixes bem maiores que aquele, pois isso se passa quase todos os dias, vemos isso como mais uma página das nossas vida.
Nada pude dizer, na verdade ele tinha razão, pois essa era de fato mais uma das várias páginas da vida.
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