segunda-feira, 20 de julho de 2009

O pequeno príncipe

Todas as tarde naquele campinho de futebol, a garotada do bairro se reunia para a pelada do dia, era um verdadeiro pandemônio, todos queriam jogar ao mesmo tempo, coisa que era impossível, visto que o campo era pequeno demais para a quantidade de garotos que queria jogar.
Apenas um o “ferrugem” tinha lugar garantido em qualquer time, o garoto, magrinho de pernas muito finas, cabelos muito louros, brilhantes, olhinhos verdes muito vivos, e aqueles pontinhos marrons nas bochechas, que lhe deram o apelido. De roupinhas surradas, às vezes um pouco sujas, não escondiam a simpatia que o garoto transmitia.
Era um menino diferente, bem educado, respeitava as pessoas mais velhas que iam assistir a pelada dos garotos da vila caiçara, e sempre se apresentava como ferrugem, pois somente assim o conheciam, ninguém sabia seu nome verdadeiro, nem onde morava, sabia-se que não era da vila, mas isso não tinha a menor importância para os colegas, o que importava de fato era que o ferrugem era querido por todos, seus sapatos eram muito velhos, um tênis antigo, com um buraco no solado que servia de gozação por todos, isso não incomodava o magricela.
Um dia em um bate papo de final de jogo, alguém falou de uma bola que tinham visto na loja de materiais esportivo da cidade, é uma bola oficial, falou o Germano, mas é muito cara e não dar pra gente nem pensar em ter uma aqui no nosso campinho, só se for por milagre retrucou o Marcelinho, todos riram e alguém disse por enquanto vamos ficar com nossa bolinha plástica que é com ela aí que podemos jogar.
Passaram-se os dias e o assunto da bola oficial se tornou conversa diária da turma nos intervalos e finais dos jogos, só o ferrugem não se manifestava sobre o assunto, o dentinho melhor amigo dele perguntou: ferrugem você que é bastante inteligente; quanto tempo vai passar para comprarmos aquela bola, se cada um de nós toda semana colocássemos um Real até juntarmos o suficiente para comprarmos nossa bola oficial? Acho que mais ou menos três meses, ah! Nossa bola não agüenta todo esse tempo falou o Thiago.
Fiquem frios colegas disse o ferrugem, segunda feira aquela bola oficial, toda colorida, estará fazendo parte de nossa pelada, isso eu garanto; (todos caíram na gargalhada, inclusive o ferrugem), e foram todos para casa sem esperança (exceto o ferrugem), de terem sua bola oficial,
Na segunda feira estavam todos como de costume reunidos, para mais uma semana do divertimento de todas as tardes no velho campinho da vila, (exceto ferrugem), que ate aquele momento não tinha dado ar de sua graça, já que ele era um dos primeiros a chegar para jogar. Alguém viu “ferrugem”? Não, falou a Marisa (única garota da turma), parece que ele está doente, pois não o vi este final de semana, então vamos visitá-lo, vamos suspender a pelada de hoje e vamos até a casa dele; onde é? (perguntou a Marisa) Aí se deram conta de que ninguém sabia de fato onde morava o amigo de todos.
Quando de repente aparece vestindo sua roupinha surrada de sempre, calçando seu velho tênis, e trazendo em baixo do braço um embrulho bastante volumoso o ferrugem, todos ficaram admirado com a presença dele fora do horário normal da pelada.
Bem pessoal; como havia prometido; aqui esta o presente para todos nós, a bola oficial, novinha, colorida como nós queríamos. Estamos fora colega, não vamos nos comprometer, ao certo você roubou essa bola da casa de materiais esportivos, você não tem dinheiro para comprar uma bola tão cara, você é um cara muito estranho, ninguém sabe de fato quem você é, nem sabemos onde mora, quem são seus pais, achamos que você roubou essa bola, por isso pode sair do nosso grupo.
Calma pessoal; quero explicar para todos como consegui essa bola, ela é um presente de meu pai, para todos os meus amigos. Eu moro naquele casarão de fica no início da vila, meu pai é dono da fábrica que mandou construir essa vila, eu me apresentava para vocês como pobrezinho para que me aceitassem como amigo, se tivesse me apresentado todo bacana, com certeza seria rejeitado por vocês, assim resolvi me manter como o velho “ferrugem”, e assim desfrutar da amizade de todos vocês, agora espero que todos me aceitem como eu sou, e serei sempre, para todos, o moleque magrinho e todo enferrujado que todos por aqui conhecem.
E assim sem que o garoto soubesse, alguns tinham mudado seu apelido para “ferrugem, o pequeno príncipe”.

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