quarta-feira, 8 de julho de 2009

É PRÁ QUE É!


Éramos todos jovens, morávamos em um bairro da periferia, e a coisa na época ocorria de forma muito diferente do que ocorre hoje, quando naquele tempo alguém queria namorar, tinha um ritual que ia desde o romântico, às vezes passando pelo cômico, e em certas ocasiões ia-se até o trágico, o que não era incomum.
Nossa narrativa refere-se a um rapaz, que para alcançar um objetivo, usava métodos não muito convencionais, quando queria conquistar uma jovem, primeiro se esforçava para conquistar a mãe, bem antes fazia a conquista dos irmãos, primos, tios etc. seu método era infalível; em certas ocasiões com pouco tempo de namoro colocava no dedo da “amada” uma aliança prateada para simbolizar um compromisso mais serio. Não era um noivado, era apenas uma forma de fazer com que a mãe, desse o maior apoio ao romance.
Assim era o Newton, jovem de altura mediana, pele morena, cabelos muito pretos, (bem tratados), um topete que dava inveja a muitos de seus amigos, usava sempre óculos escuros, sorriso largo, extrovertido, bastante falante, e muito bom de conquistas, não se gabava por isso, trabalhador competente, muito querido por todos da localidade, por estar sempre disposto a ouvir, e até a aconselhar seus companheiros, tanto de labuta quanto de lazer.
Uma manhã, o Newton, botou os olhos em Maria do Carmo, (Carmita), lourinha, não muito alta, cabelos longos, sempre soltos, olhos verdes, (duas esmeraldas), bem vivos, pernas bem torneadas, rosto comprido, que era disfarçado, pela franja que lhe dava uma aparência de redondo, não era bonita, mas era de uma simpatia sem igual. Era uma incógnita, nunca tinham visto a Carmita com namorado, diziam que era devido à fera que protegia a menina dos predadores, a dona Marta, mãe da ninfeta, (como dizia o Newton).
E assim usando sua tática infalível, o rapaz foi aos pouco se aproximando, não da jovem, mas da mãe, isso através de um tio da jovem que tinha se tornado amigo dele a poucos dias, e aí em pouco tempo estava o Newton, namorando a Carmita, sempre com dona Marta a tira-colo, o jovem reclamava: poxa, não consigo ficar um minutos a sós com minha ninfeta, mas esperem que vou chegar lá, os amigos diziam, camarada ali pegaste em bomba, d’ali não sai nada, a não ser a vigilância da velha, (e todos riam pra valer).
Um dia de sábado, (um dos três dias da semana acertado para namorar), chega à casa da “amada”, o Newton, munido de uma aliança de prata, cravejada de pequenas pedras, que brilhavam até com o reflexo da lâmpada do terraço, onde os pombinhos namoravam, foi uma surpresa e muita alegria, para a não tão velha sogra, e foi dessa maneira que o rapaz conseguiu abrir a guarda da mãe da Carmita.
Aí em vez de três dias, namoravam todos os dias, e sem a presença incomoda de dona Marta, agora ta bom demais, falava o rapaz, todo contente. É colega: diziam os amigos, você venceu! Conseguiu derrubar um muro sem tirar um só tijolo. E assim nesse bem bom, o Newton vinha se deleitando a mais de três meses.
Um domingo, nesses dias que a pessoa tem dor de barriga sem ter comido nada, dona Marta, esperava ansiosa a chegada do quase noivo, debruçada na janela, botando fumaça pelas narinas, como um dragão acuado, uma vassoura esperava tranqüila ao lado da porta, bem perto do terraço, a Carmita toda se tremendo, pedia a mãe, que primeiro ouvisse a versão do seu compromissado, è que tinha chegado aos ouvidos da sogra, as aventuras anteriores de rapaz, evidentemente contadas da forma mais espúrias possíveis, e logo que o rapaz chegou e sentou-se na cadeira de sempre, aparece a agora bem velha sogra, e diz: senhor Newton, seu namoro com minha filha, é pra casar ou prá que é?
O jovem calmamente responde: é prá que é dona Marta.
Quando a transtornada senhora pegou a vassoura, o Newton, já se encontrava, (com aliança e tudo), a mais de 100 metros de distancia do local.
Passou muito tempo sem aparecer naquela rua
E a Carmita devido intransigência da mãe, já está velha e continua solteira até hoje.

Nenhum comentário:

Postar um comentário