quarta-feira, 31 de julho de 2024
quarta-feira, 24 de julho de 2024
A MULHER QUE VIROU PEIXE
1
Essa história me foi contada
Quando estava no portão
Daquela casa sombria
Lá no meio do sertão
Nas terras abençoadas
Por pessoas afamadas
Padre Cícero e Lampião
2
É um caso meio estranho
Desse que a gente duvida
Mas que de fato acontece
Ao menos uma vez na vida
Podes assinar lá em baixo
Quem lhe conta é cabra macho
Que não tem medo de intriga.
3
O seu Mané de Sabina
Neto da véia Fulô,
Que era filha de Balbina,
Casada com o pescador.
Mais antigo na cidade
E fala só a verdade
Foi ele que me contou.
4
- Seu moço aqui na cidade,
No sítio do véio Romeu,
Que fica perto do rio;
E foi lá que aconteceu,
Esse causo foi bisonho
Que só conto pra estranho
Porque acredita in neu.
5
Aí pegou seu cachimbo
Deu aquela baforada.
A fumaça cobriu tudo,
Quase saio em disparada,
Que fumaça fedorenta!
Fiquei foi tapando a venta,
Até quase a madrugada.
6
Ele estava estudando
A forma de me contar,
Da mulher que virou peixe,
Difícil de acreditar;
Então pedi direitinho,
Para aquele bom velhinho.
Pode agora começar.
7
Foi ai que começou,
A narrar o ocorrido.
Então baixei a cabeça,
Desentupi o ouvido.
E vou passar pra vocês,
Da forma que ele fez
Tudo cagado e cuspido.
8
- Foi lá pelos anos trinta
Eu era ainda um menino,
Morava com nós uma véia
Que falava muito fino,
Mas a véia era tão véia
A cara cheia de péia,
A raça dela era albino.
9
Todo dia ia à velhinha
Ia pra o rio pescar,
Mas nunca trazia peixe
Coisa de se estranhar
Ela nunca pescou nada
Saia de madrugada
Só lá pra noite voltar.
10
As línguas ferinas falavam:
Nesse causo tem história!
Um dia nós segue a véia
Descobre tudo na hora
Ela vai ficar danada
Mesmo sendo madrugada
Nós bota a véia pra fora.
11
Mas ninguém tinha coragem
De ir com a véia ao rio
Na ida estava escuro
De volta estava sombrio
E a veia era tirana
Braba, feito caninana,
Tanto no calor ou no frio.
12
Se arguem falava com ela,.
Era um deus nos acuda
Botava um olhar vermelho,
Dava medo até na muda,
Depois dizia baixinho:
Dou-te um murro no focinho
Que tu vais ficar papuda.
13
E se você insistir,
A coisa fica pior.
Tú tem que mi respeitar,
Pois tenho idade de vó.
Te dou um tapa nas costas,
Abalo o saco da bosta,
Que rasga teu fiofó.
14
E a coisa era esquisita
Nas noites de lua cheia
Dizem que ia para rio,
Lá a coisa ficava feia
Era uma gritaiada,
Ia até de madrugada
O grito era de sereia.
15
E quem passava no rio
No momento da agonia,
Ficava com muito medo
Porque a água fervia,
Os peixes saiam da água
Então choravam de mágoa
Pense numa bizarria!
16
E lá pela madrugada
Ela deitava na areia,
Ficava se espojando,
Era uma coisa bem feia
E então de pouco a pouco
Te garanto meu caboclo,
Ela virava sereia.
17
Era uma sereia bonita
Calda azul, bem reluzente.
Então entrava no rio
Nadava feito serpente,
Mas ficava muito esperta
Seus olhos ficavam alerta
Só pra ver se vinha gente.
18
E quando ela sentia
Que tava chegando alguém,
Ela saia das águas
Ficava feito refém;
Toda cheia de vergonha
Branca, feito uma cegonha.
Chorava feito um neném.
19
E nas noites de lua nova
A coisa era bem pior,
Como a noite era escura
Ela então saia só;
Escondida e diferente
Então virava serpente.
Era cobra de cipó.
20
Era uma cobra estranha
Como ficava a véia
Tinha os dentes muito grandes
Não tinha escama, só péia.
Andava feito uma cobra
Era feia aquela obra
Era um peixe amoreia.
21
Um dia, oh seu menino,
Arguem disse ao delegado;
O que tava acontecendo
Naquele lugar malfadado,
Então foi verificar
Quando acabou de olhar
Correu feito um veado.
22
Dizendo: Vala-me Deus,
A coisa aqui tá é feia;
E eu que sou da polícia
Não me meto nessa teia.
Jogou logo a farda fora
E está morando agora
Numa sela; na cadeia.
23
Mas um dia meu sinhô,
Numa noite bem bonita;
Deus estava preparado
Pra mudar aquela escrita.
A mulher foi para o rio
De um jeito bem sombrio
Fez uma prece infinita.
24
Cavou um buraco na areia
Botou folha de palmeira
Tirou toda sua roupa
Acendeu uma fogueira
Pôs o fogo no buraco
Ela enrolou-se em trapo
Aguardou a fumaceira.
25
Então ouviu-se um lamento
Do outro lado do rio
Sumiu estrelas do céu
E soprou um vento frio
No rio surge uma luz
Em formato de uma cruz
E sobre o buraco caiu,
26
A luz clareou e tudo
Ficou parecendo o dia
Quem estava no local
Quis correr mas não podia.
E sobre um monte de areia
Surge uma bela sereia
Esbanjando energia.
27
A sereia abre os braços
Depois põe no coração
Faz uns gestos imprecisos
Ensaiou uma canção
E com um cantar bem lento
Ela fez o seu lamento
Em forma de oração.
28
Quero que tires Senhor
Do meu peito esse vazio
Tenhas de mim piedade
Me tire desse sombrio.
E por favor não me deixe.
Então ela virou peixe
Entrou na água e sumiu.
terça-feira, 23 de julho de 2024
FAVO DE MEL
AS ANDORINHAS
O MATUTO NA NASA
1
Essa história aqui contada
Vem de nossos devaneios
Cartas por nós não escritas
Que nunca foras aos correios
Belezas de nossas mentes
Com narrações diferentes
Contadas, mas sem recheios.
2
Mostramos nesse cordel
Que não existe o impossível
Quando se sonha com medo
O bonito fica horrível
Mas quando o sonho é real
Tudo é muito natural
Ali não existe o sofrível.
3
Vamos direto ao assunto
Contado nesse cordel
Pedido por um amigo
Pra mim que sou menestrel
Saído de sua mente
É um fato diferente
Que ponho nesse papel.
4
Bem no sertão do Nordeste
Nasce um caboclo brejeiro
Forte como um bode brabo
Sai gritando eu vim primeiro
É o pivô de nossa história
E que vou contar agora
Para o povo brasileiro.
5
Nem precisou de parteira
Nasceu de parto normal
Pesando mais de três quilos
Lá no fundo do quintal
Pai e mãe muito contente
Foi um parto diferente
Chão limpo, sem matagal.
6
A mãe coloco-o ao peito
Na mesma hora mamou
Sugou o leite que tinha
Mas a mãe não se importou
Era seu primeiro filho
Que veio cheio de brilho
Papai do céu que mandou.
7
Com menos de sete meses
Começou logo falando
Quem via nem acreditava
Vendo o menino aprontado
Corria, mas não cansava
No fim do dia rezava
Passava a noite sonhando.
8
Sonhava que estava voando
Vendo tudo lá de cima
Casas, riachos e morros
Aumentando a autoestima
Voava em cavalo alado
Sem sela, mas bem guardado
Suas rédeas eram as crinas.
9
Na fase de adolescência
Se mostrava destemido
Falava pra todo mundo
Vou pros Estado unidos
Trabalharei lá na NASA
Fugirei de minha casa
Lá serei bem-sucedido.
10
Falava para seus pais
Que um dia iria voar
Explorar outros planetas
Conhecer outro lugar
Das nuvens iria além
Sozinho ou com alguém
Difícil era acreditar.
11
Um dia o Zé Matuto
Do lugar se escafedeu
Procuraram por todo lado
Ele nunca apareceu
Deram parte na polícia
Mas o maturo era artista
Foi atrás do sonho seu.
12
Ninguém sabe como foi
Mas ele juntou dinheiro
Sem a passagem de ida
Fugiu para o estrangeiro
Com uma malinha de mão
Na bagagem de um avião
Voou todo o dia, inteiro.
13
Quando o avião parou
Ele mudou de lugar
Recolheram a belonave
De volta para o hangar
Ninguém notou o matuto
Muito liso, mas enxuto
Ele conseguiu se mandar.
14
Trocou logo sua roupa
E saiu bem de mansinho
Se esgueirando de cócoras
Encontrou logo um caminho
Heita matuto arretado
Correndo mais que um veado
Conseguiu chegar sozinho.
15
Pra ele foi bem normal
Fazer o que tinha feito
Pois lá no meio do sertão
Corria solto no eito
Plantando e cortando mato
Era trabalho de fato
Torava mata no peito.
16
A NASA fica em Washington
O lugar onde ele chegou
A capital dos Esteites
Foi ali que ele aportou
Só foi andar um pouquinho
E logo cedo, cedinho
No portão ele parou.
17
Ao chegar ficou parado
Admirando o local
Mas foi logo abordado
Por um velho oficial
Que disse logo gritando
Vamos logo circulando
Vaza daqui marginal.
18
Ele levanta os dois braços
E diz para o oficial
Tenha calma meu amigo
Não sou nenhum marginal
Sou apenas um brasileiro
Que vim para o estrangeiro
Pois aqui é mais legal.
19
O meu sonho sempre foi
Trabalhar aqui na NASA
Para mim esse lugar
É como estar lá em casa
Vim procurar sua ajuda
Espero que me acuda
Pois meu peito está em brasa.
20
Você é bom de conversa
Eu vou tentar te ajudar
Vou te fazer três perguntas
E se você não errar.
Vou te arrumar um emprego
Desses que muitos têm medo
Garanto que vás gostar.
21
Mas se você matutinho
Não souber me responder
Vou te dar um safanão
Quero ver você correr
E se tu aqui voltar
Garanto vás apanhar
E podes até morrer.
22
Vamos logo as perguntas
Apena uma por vez
Com certeza eu respondo
Antes que contes até três
Eu sei tudo sobre a NASA
Nos livros que tenho em casa
Li todos em menos de um mês.
23
O que significa NASA?
- Nati. Aero. Space Admin.
O nome a e a tradução.
Admin. Nacio. Espaço Aéreo.
Está na primeira lição
O
nome tem som de aço
Se errei peço perdão.
24
Conseguistes acertar
Esta primeira pergunta
Só estão faltando duas.
Esta vai ser mais enxuta
Vamos ver se tu acertas
Se tens a cabeça esperta
Vou dizer que és batuta.
25
Vamos direto à segunda
Qual é o lema da NASA?
“For the Benefit
of All"
Foi o que li l
lá em casa
“Para o Benefício de
Todos"
Digo cheio de denodos
Se eu errei, grite vaza!
26
Te saístes muito bem
Nas duas que perguntei
Vou ver sabes a terceira
- Mandes que eu estudei
Decorei virgula e ponto
Esperando esse encontro
Mas eu sei que nada sei.
27
Então o oficial tirou
De seu bolso um livrinho
Abriu na página do meio
Disse algo bem baixinho
Se tua mente é esperta
Quero ver se tu acerta,
Responda bem direitinho.
28
Qual o salário que ganha
Nosso astronauta melhor?
Responda por mês ou ano
- Se ele for o maior
Cem mil dólares por ano
Nada por baixo do pano
Para o astronauta mó.
29
O oficial ficou mui pasmo
Quando ele respondeu
Disse: Cara tu és o cara
Que por aqui apareceu
Volte na próxima semana
Pois um trabalho bacana
Por mim você recebeu.
30
O matutinho saiu
Dalí todo saltitante
Ía conseguir entrar
Naquele lugar brilhante
Era parte se seu sonho
Vindo de um lugar estranho
Realizar num instante.
31
Durante toda semana
Estudava mais e mais
Se viessem outras perguntas
Não ia ficar pra traz
Era muita responsabilidade
Pois sabia que a maldade
Tem na frente o satanás.
32
E na semana seguinte
Na mesma hora e local
Tava o matuto presente
Na frente do general
De gravata e paletó
Era seu terno melhor
Sem parecer marginal.
33
O oficial lhe aparece
Com seu terno camuflado
Cheio de laços de fitas
Estrelas pra todo lado
Os sapatos eram só brilho
Medalhas bem no peitlho
E o Zé matuto abismado.
34
Vamos entrar meu amigo
Te levo ao superior
Ele quer te conhecer
O nome dele é Senhor
Não vai te mostrar a cara
É a figura mais rara
Dentro de nosso setor.
35
Não podes ficar com medo
Na presença do Senhor
Ele é muito imprevisível
Tem diploma de doutor
Física, química, astrologia
Matemática e economia
Em tudo é professor.
36
Tou um pouco acabrunhado
Garanto meu general
Mas pode ficar mui tranquilo
Eu não vou me sair mal
Se a entrevista for boa
Vou sair sorrindo atoa
Quero um emprego legal.
37
Chegaram na portaria
Na frente ele entrou
Bateram muita continência
Por onde ele passou
Prédio bonito, arretado
Com salas pra todo lado
Mas de cem ele contou.
38
Lá no final do trajeto
A sala do maioral
As portas foram abrindo
Ao chegar o General
Era tudo bem vigiado
Olheiros pra todo lado
Dava até pra passar mau.
39
Quando entraram na sala
A penumbra era total
Quase não se via nada
Só a mesa principal
Em cima tinha uma luz
E um cara de capuz
Era o Senhor maioral.
40
Uma voz estranha pergunta;
Quem é você meu rapaz?
Por acaso és espião
Quero ver os teus anais.
Me contes tua história
Já que tens boa memória
Conta da frente pra traz.
41
Estou aqui meu Senhor
Vim procurar um emprego
Eu nasci lá no meu sertão
De nada eu tenho medo
O meu nome é Zé matuto
Dizem que eu sou astuto
E não estou falando grego.
42
Falaram que sabes tudo
Aqui do nosso setor
Respondeste três perguntas
Todas sem tirar nem pôr,
- É que li muito sobre a NASA
Muitos livros lá em casa
Isso garanto ao Senhor.
43
Me pediram um local
Para você trabalhar,
Por enquanto temos uma vaga
Bem lá dentro do hangar
Limpar peças dos foguetes
Só com panos com azeites
Deixando tudo brilhar.
44
É disso que eu preciso
Trabalhar aqui Senhor
Garanto que meus serviços
Serão feitos com amor
Pois eu amo esse lugar
Muito antes deu falar
Pergunte ao meu professor.
45
Posso fazer umas perguntas?
Perguntou o maioral.
Quero ver e bem conheces
Aqui o nosso local
São dez perguntas somente
Por favor não se apoquente
Não quero que passes mau.
46
É a primeira pergunta:
Que é o NACA, data de fundação.
Comitê Nac. Adm. Aeronautica.
Veio
dela nossa formação
Ano quinze, séculos passados
Disso estou bem informado
Orgulho dessa nação.
47
Vamos a segunda pergunta
Em 72 quantos pisaram a lua?
Doze ali caminharam
Verdade nua e crua
Último voo tripulado
Pense num feito arretado
Parecia estarem na rua.
48
O Senhor ia perguntando
O Zé matuto respondendo
O chefe não acreditava
Naquilo que estava vendo
Um matuto Nordestino
Jogando o seu destino
E seu cartaz só crescendo.
49
Veio a décima pergunta
Essa é difícil demais
A resposta está escondida
Dentro dos nossos anais
Sei que posso responder
Com certeza, podes crer
Eu estudei foi demais.
50
Nos nossos últimos dez anos
Quantos planetas se descobriu?
Foi nesse exato momento
Que o Zé matuto sorriu
Disse já estou no trabalho
Sentando no assoalho
Disse: Puta que pariu!
51
O telescópio sonda Kepler
Em um só dia descobriu
1284 novos planetas
Quem em seu foco surgiu
Descobriu 100 mil estrelas
Queria estar lá pra vê-las
Poucos foram os que viu.
52
Neste momento o Senhor
O Manda-Chuva geral
Levantou de sua poltrona
De disse para o General:
Esse cara é diferente
Tem que trabalhar com a gente
Pra mim ele é surreal.
53
Até aquele momento
O senhor não tinha rosto
Mas quando ele se mostrou
Causou tremendo alvoroço
Não era ele, era ela
A mulher mais linda e bela
Que Deus ali tinha posto.
54
Ninguém vai poder saber
Que o Senhor é senhora
E se alguém comentar
Vai ser posto para fora
E vai ser do pais banido
Sem direito a um abrigo
Sem muletas pra escora.
55
Seguimos com Zé matuto
Motivo de nossa estória
Que consegui seu emprego
Devido sua memória
Trabalhando ali na NASA
Se lembrando da Ceasa
Motivo de muita glória.
56
No trabalho de limpeza
Estava sempre pensando
Como vou chegar na lua
Mesmo acordado, sonhando
Eu vou traçar meu destino
Daqui eu saio fugindo
Mas saio daqui voando.
57
Durante dias e noites
Planejou um meio legal
De fugir dali pilotando
Numa nave espacial
Era um plano muito ousado
Mas se muito bem
planejado
Era um plano genial.
58
Durante o ano seguinte
Limpava bem devagar
Peças da nova
espaçonave
Que logo iriam lançar
Para o espaço sideral
Não seria nada mal
Ele iria pilotar.
59
E no dia planejado
A grande nave partiu
Levando consigo um
matuto
Que ali na NASA surgiu
Cheio de sonhos na vida
Que pra ele bem vivida
Mas o seu plano faliu.
60
Esqueceu alguns
detalhes
Uma falha de instante
A nave por ele
escolhida
Voava sem tripulante
Era uma ida sem volta
Vitória, nunca derrota
Foi um sonho delirante.
61
Depois de atingir
altura
Alguém na NASA só viu
Uma mão de Nordestino
No seu monitor surgiu
Com o polegar arreado
Tava decepcionado
Foi assim que ele
partiu.
62
Dessa forma nosso herói
Não fez parte da
história
Apesar de sonhador
Nunca alcançou a gloria
Seu corpo está no
espaço
Dentro de um tubo de
aço
Onde ficou sua gloria.
63
Mesmo assim o Zé matuto
Chegou onde bem queria
Olhar a terra de cima
Fez tudo com ousadia
Conheceu novos planetas
Viajando em seu cometa
Jamais ele voltaria..
1