quarta-feira, 21 de agosto de 2019

VIVA, VIVA O CORONEL!


VIVA,VIVA O CORONEL!
Nivaldo Melo
1
Me convidaram pra festa
Nos confins, do interior
Lá vi muitos advogados
E tinha até um doutor
Pra lhes falar a verdade
Só foi no início da tarde
Que a festa começou
2
Só se falava no churrasco
Da carne do boi mimoso
Para uns era verdade
Para outros era Trancoso
O Bartô, dono da festa
Só passava a mão na testa
Pensava em ficar famoso
3
Quando acenderam o fogo
Foi perto do meio dia
Porque o Biu churrasqueiro
Foi pra uma romaria
E chegou foi atrasado
Pois estava manguaçado
Ele, a mulher e a tia.
4
Que seja feito a justiça.
Comida ali não faltava
Mas estava toda crua
Pois o fogo não pegava
Abana ali sopra aqui
As labaredas há subir
Mas não fazia uma brasa.
5
Sem brasa não tem churrasco
Gritava o Biu churrasqueiro
Vão chamar compadre Beto
Filho de zé carvoeiro
Digam que traga o gás óleo
Derivado do petróleo
Que o fogo vira braseiro.
6
E desse jeito foi feiro
Enquanto o Bartô olhava
Os convidados sentados
Enquanto a barriga roncava
Na festa só se bebia
Pois ali ninguém sabia
Que hora a carne chegava
7
O pai do dono da casa
Um senhor da boa idade
Dizia: eu vou pra casa
Me levem, por caridade
Lá eu como pão com ovo
Que é a comida do povo
Eu sou da antiguidade.
8
De repente ouviu-se um grito
Tá chegando o coronel
Foi um core, corre danado
Eu como bom menestrel
Pedi logo uma caneta
Que é minha escopeta.
Para atirar meu cordel.
9
Olhei para meu relógio
Já era mais de uma hora
Se o churrasco não sai
Garanto-lhes que estou fora
Tomei meu café as sete
Só comi um pão baguete
Valei-me Nossa Senhora!
10
Chegou nosso Coronel
Gritaram lá da calçada
Olhamos na direção
Garanto; ninguém viu nada
Vimos só um cara magro
Com sua esposa de lado.
O Coronel de brigada.
11
As crianças saíram correndo
Pensei, é papai Noel
Foi um tremendo engano
Desse vosso menestrel
Dizendo ho, ho, ho, ho
Com jeito de professor
Era o tal de coronel.
12
Foi quando a coisa mudou
Logo naquele ambiente
Colocaram o coronel
No lugar que era mais quente
Encontraram um guarda sol
Num formato de lençol
Pra proteger o decente.
13
Na mesma hora chegou
Na mesa do coronel
Um litraço de uísque
Um litro de moscatel
Quatro latas de cerveja
Tudinho naquela mesa
Era só pra o coronel.
14
E a coisa foi mudando
O Bartô todo empolgado
E o coronel tinha fama
De ter o cabelo pintado
Tinha como um diferencial
Ter um cabelo anormal
Penteado só pra um lado
15
Respeitavam o coronel
Só por pintar os cabelos
Quando a tinta vadiava
Pintava todos os pelos
Era preto, era azul
Cor de sapo cururu
Era aquele desmantelo.
16
Mas o coronel mandava
Em todo aquele ambiente
Pra onde o coronel olhava
Todos gritavam contentes
Viva nosso coronel
Que desempenha o papel
De grande protetor da gente.
17
O sogro da dona da festa
Que é o velho pai de Bartô
Tava meio sem espaço
Mas ele não reclamou
Ficava chupando o dedo
Meio acanhado, sem medo
Do coronel protetor.
18
Em qual quartel ele serve?
Ele perguntou pra nora
Ele não serve de nada
Do quartel ele tá fora
É que ele é gente fina
Quando pinta aquela crina
A turma acha da hora.
19
O coronel eleva o dedo
Começa chegar comida
Churrasco do boi mimoso
Muita linguiça e bebida
O Bartô seu puxa saco
Demonstra ser cara fraco
Com proteção garantida.
20
Tudo gerava em torno
Do senhor papai Noel
A pobre aniversariante
Perdeu logo seu papel
Pois as atenções agora
Eram para o cara da hora
O garboso coronel.
21
Quem chegou com o coronel
Foi a sua acompanhante
Era muito parecida
Com a aniversariante
Será que eram parentes
Acho que só aderentes
A partir daquele instante.
22
O coronel estava ali
Em cima de seu pedestal
Todo metido a cu doce
Pois se achava o astral
Se colocou de repente
Acima desde toda gente
Era o ator principal.
23
E a aniversariante coitada
Ficou só meio acanhada
Preparou toda comida
Até ata madrugada
Sarapatel, sururu,
Assado de baiacu
Demonstrando está cansada.
24
E a aniversariante do dia?
Foi lhe tirada a atenção
Somente os familiares
Apertavam sua mão
Davam nela um abraço
Pois tinha perdido o espaço
Daquela comemoração.
25
Parecia que o aniversariante
Era o tal do coronel
E eu cá com meus botões
Ela perdeu o papel
De comemorar os cinquenta
Mas acho que ela aguenta
Viver naquele ostracél.
26
Vamos cantar parabéns
A música vai de capela
O coronel então soprou
Foi quem apagou a vela
A pobre aniversariante
Sem ar, naquele instante
Sentiu-se fora da tela.
27
O coronel pega a faca
E corta o bolo no meio
Metade levo pra casa
Faço isso sem receio
Entrego a outra metade
Para assenhora beldade
Mas vou tirar o recheio.
28
Foi com tremenda euforia
Em favor do coronel!
Que é o cara mais folgado
Dentro de nosso plantel.
Ele é um cara batuta.
Ele é um filho da puta
Viva, viva o coronel.

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