terça-feira, 20 de agosto de 2019

O BAILE DAS FADAS


O BAILE DAS FADAS
Nivaldo Melo
1
No meu tempo de criança,
Sempre ouvi vovó contar,
Histórias muito bonitas,
Logo depois do jantar.
Reuníamos na calçada,
Até quase madrugada,
Bem antes de nos deitar.
2
Eram muito interessantes.
Ouvirmos, todos calados,
Não se ouvia um pio,
Era um silencio danado.
Vovó bem compenetrada,
Ficava muito animada,
Narrando fatos inventados.
3
Por isso estou motivado,
Pra lhes passar mais um fato.
Que por mim foi inventado.
Podem crer, não é boato;
Histórias da carochinha,
Era um dom que vovó tinha,
Herdei dela e lhe sou grato.
4
Vamos ao que interessa.
Quero que prestem atenção,
Leiam com muito carinho,
Sintam se é verdade ou não,
A história aqui contada,
Quero que fique gravada,
Na mente e no coração.
5
Toda noite e madrugada
Havia luz na floresta,
Alguém falava. Deve ser
Os vagalumes em festa,
Muitas músicas se ouvia,
E o som que dali saía,
Parecia de uma orquestra.
6
Era um som maravilhoso.
Nunca alguém foi conferir.
Era um som muito gostoso,
Daqueles que faz dormir,
Se alguém se aproximava
A música logo sessava,
Parava-se logo de ouvir.
7
O som subia e descia,
Embalado pelo vento,
Começava logo cedo,
Não parava um só momento.
E quem morava ali perto,
Queria saber ao certo,
De onde vinha o evento.
8
Um dia, logo à tardinha,
Duas crianças espertas,
Esconderam-se na mata,
Foram, o Luiz e a Roberta.
Queriam descobrir o motivo,
De todo aquele festivo,
E ficaram bem alertas.
9
E na noite da lua nova,
Se esconderiam melhor,
Viram uma arvore bem alta,
A que tinha mais cipó,
Ficariam em segurança,
Amarrados numa trança.
Seria uma noite só.
10
Ficaram ali escondidos.
Sem emitirem um som,
Logo a noite escureceu,
Deixando tudo marrom.
De repente viram tudo,
Deixando os dois quase mudo,
Início de um sonho bom.
11
Viram que mil vagalumes,
Iluminavam o ambiente,
E vultos bem coloridos,
Povoaram de repente.
Desciam todos do céu,
Todos envoltos em véu,
Em um bailar permanente.
12
Começaram a solfejar,
Só musica inebriante,
Deixando os dois abobados,
A partir daquele instante,
Ficaram bocas in abertas,
Com medo da descoberta,
Do povo bem cintilante.
13
Era o início das festa,
Com músicas em tom maior.
E as duas jovens crianças,
Tremiam feito cipó,
Observavam lá do alto,
Vendo aquele fogo fátuo,
Pareciam dois bocó.
14
Ficaram observando,
Tudo que acontecia,
Olhavam aquele balé,
O som subia e descia,
Os vultos ali dançavam,
E nunca eles cansavam,
Todos com muita alegria.
15
Era uma dança bonita,
Nenhum pisava no chão,
Flutuavam tão bonito,
Numa perfeita união.
Terra, água, fogo e ar,
E as figuras a bailar,
Causando grande emoção.
16
E o tempo foi passando,
As crianças nem notaram.
Foram muitas horas ali,
E eles nem se ligaram.
Quando caíram em si,
Não dava mais pra fugir,
Ali mesmo pernoitaram.
17
Mas não dava pra dormir,
Devidos aos sons tão bonitos,
Sentiam-se hipnotizados,
Foi quando ouviram apitos,
Vinha do meio da floresta,
Foi quando acabou a festa,
Então ouviram os gritos.
18
Os gritos diziam assim:
Onde estão Luiz, Roberta?
Sumiram de nosso sítio,
Se embrenharam na floresta.
Crianças muito peraltas,
Vocês fazem muita falta,
Pra nossa gente modesta.
19
Em seguida vinha o silencio,
Não se ouvia viva voz,
As crianças com muito medo,
Sabiam que estavam sós.
Saíram do escondido.
O que tinham visto e ouvido,
Só contariam aos avós.
20
Voltando apenas um pouco,
A um fato que sucedeu,
Com a fuga das crianças,
Fato estranho aconteceu.
O povo tinha esquecido,
Do que tinha acontecido,
Foi aí que apareceu.
21
Por volta das sete horas,
Surge no sítio uma ave,
Com penas bem coloridas,
Gritando: Precisamos de coragem!
Vão procurar as crianças,
Parar com essa lambança,
Antes que a coisa trave.
22
Sou o Papagaio falante,
Da floresta o porta voz,
Vim aqui trazer um recado,
Por isso vim tão veloz.
As crianças curiosas,
Tão botando a vida à prova
Estão num perigo atroz.
23
O Luiz e a Roberta,
Fugiram a tardezinha,
E foram lá pra floresta,
Pesquisar o que ali tinha,
Acho que correm perigo,
Na mata não tem abrigo,
Coitadas das pobrezinhas.
24
O som que vem da floresta,
É do encontro das fadas,
Começa logo à noitinha,
Vai às altas madrugadas.
Fadas e Elfos em reunião,
Sua voz viram canção,
Jamais foram observadas.
25
É por isso é lhes peço,
Invadam logo essa mata.
Quem já tentou assistir,
Foi transformado em barata,
E são jogadas ás formigas,
Transforma todos em comida,
E delas ninguém escapa.
26
Foi um tremendo alarido.
Chamem todo povo aqui,
Temos que traçar um plano,
Vamos resgatar os guris.
Como está tudo escuro,
Se fizerem algum barulho,
As Fadas podem fugir.
27
Por favor. Falou a ave:
Não façam nenhum barulho,
Usem somente os apitos,
Pois deles só sai arrulho.
Vão andando devagar,
Pras Fadas não espantar.
Lá por cima eu patrulho.
28
Quem comandou a procura,
Foi o papagaio “Louro”,
Que reuniu seus amigos,
Doninha, abelha besouro,
Fariam uma busca geral,
Pra descobrir o local,
Onde estava o logradouro.
29
As duas crianças amigas,
Reuniram as suas avós,
Contaram tudo que viram,
Naquela noite atroz.
- Sabemos que foi errado,
Olhando por outro lado,
O risco foi só para nós.
30
Depois que ouviram o relato,
As avó estavam chorando,
As crianças espantadas,
Sem falar, ficaram olhando.
- Vocês vão ter que voltar,
Nós queremos estar por lá,
Só nós quatro observando.
33
Mexeram na auto estima.
Do papagaio falante,
Que ficou todo fofado,
A partir daquele instante.
Ele falou; venham comigo,
Vamos procurar um abrigo,
Sigam aqui o comandante.
34
Entraram então na floresta,
Pra assistir ao festival,
O balé daquelas Fadas
Verdadeiro carnaval.
Esconderam-se num buraco,
Todo coberto de mato,
Só pra ver o ritual.
35
Quando tudo começou,
Que iluminaram a floresta,
Chegaram Elfos e Fadas,
Estava começando a festa.
Era um balé tão bonito,
Não dava pra ser escrito,
Viam tudo pela fresta.
36
De repente algo estranho,
Deixou os três sem ação.
Na porta do esconderijo,
Apareceu um anão,
Com roupa toda bordada,
Numa mão uma espada,
Na outra um lampião.
37
Podem sair do buraco,
Vocês já eram esperados,
Os Elfos e nossas Fadas,
Querem vocês confinados,
Presos aqui neste lugar,
Vocês não vão escapar,
Até que sejam julgados.
38
Serão entregues as formigas,
Logo após o julgamento,
Você serão devorados,
De gritar nem vai dar tempo,
Amarraram-nos de cipó,
Levaram ao casal maior,
Os juízes no momento.
39
Fadas e Elfos bem sentados,
Numa vitrine colorida,
Cobertos com véus brilhantes,
Deixam as crianças aturdidas.
Todos de cabeças baixas,
Presos dentro de uma caixa,
Serviriam de comida.
40
Mas quem primeiro falou,
Foi o Papagaio louro.
Que disse assim para os Reis;
Eles dois não são besouro,
São crianças de coragem,
Queriam ver as imagens,
Saídas desse tesouro.
41
Nos desculpem majestades,
São apenas criancinhas,
Dessas que sonham bastante,
Com contos das carochinhas,
O que elas irão contar,
Sabem quem vão divulgar?
Serão suas vovozinhas.
42
Fadas e Elfos no momento
Começaram a gargalhar.
Trouxemos os dois para aqui,
Pra poder lhes convidar,
Participarem com alegria,
Sentirem nossa euforia,
Por viver nesse lugar.
43
As crianças de alegria,
Abraçaram o papagaio,
Que grito: me soltem logo
Senão eu viro lacaio.
Vamos todos aproveitar,
Brincar de roda, dançar,
Aproveitar bem, o ensaio.
44
As crianças se deleitaram
E curtiram a noite inteira,
Comeram manja de mel,
Feito pela feiticeira.
Acharam o melhor do mundo,
Caíram em sono profundo,
Em cima de uma esteira.
45
Então na manhã seguinte
Tiveram um susto medonho,
Dormiram foi na calçada
Era tudo muito estranho,
Algo lhes fez estranhar,
Ninguém lhes foi procurar.
Será que tudo foi sonho?
46
Então tiveram vergonha
De não serem compreendidas.
Dirão que é só devaneios
De mentes bem coloridas.
Mas à noite no sarau,
Transformam o sonho em real,
E foram muito aplaudidas.



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