quinta-feira, 22 de agosto de 2019

A ESPADA DOURADA



A ESPADA DOURADA
Nivaldo Melo.
1
Mais um caso interessante
Contado por vovozinha,
Numa noite de lua cheia
Na casa de uma vizinha.
Reuniam a meninada,
Todos iam pra calçada
Só pra ouvir a velhinha.
2
Era um tremendo respeito,
Ouvíamos tudo calado.
Até quem morava longe
Também tava ali sentado,
Só pra ouvir as historias
Contadas pelas senhoras,
De Duendes, Fadas e Reinados.
3
E foi numa dessas noites
Que não esqueço jamais,
Vovó contou essa história,
Que constava em seus anais.
Foi uma das mais bonitas
Nunca antes foi escrita,
Quem ouvi não esquece mais.
4
Foi nas terras do sem fim
No século toro totó.
Era assim que iniciava
Toda história, a minha vó.
Prestem bastante atenção,
Para a minha narração,
Que eu conto um vez só.
5
Apareceu em um povoado
Um rapaz muito estranho,
Era bem apessoado,
Seus olhos eram castanhos,
Vestia sempre uma roupa,
Feita de pano de estopa.
Diferentes no tamanho.
6
Não sabiam onde morava,
Nunca alguém o perguntou.
Sentiam sempre receio,
Pois ele nunca falou.
Um dia um homem afamado
Jogou o medo pra o lado,
E o rapaz abordou.
7
Quem é você meu rapaz?
Que fazes por esses lado?
Estas sempre aqui na praça,
Esperando alguém sentado.
Onde é que o amigo mora?
Diga por nossa Senhora,
Deixe o povo descansado.
8
Eu moro lá na montanha,
Dentro de uma caverna.
Não conheço nada aqui,
E não gosto de baderna,
Estou aqui pra provar,
Que aqui nesse lugar,
Tá o coração da terra.
9
Eu vim mandado para aqui
Depois de um sonho real.
Procurar uma espada
De brilho descomunal.
Se alguém viu essa estada,
Por mim deve ser guardada.
Pra salvar esse local.
10
Então o homem afamado,
Pôs-se então a meditar.
- Há quase cinquenta anos
Que fundamos esse lugar.
Para fugir de uma guerra,
Foi que descemos a serra,
Para aqui vir morar.
11
Quando chegamos aqui
No local não tinha nada,
Sempre foi um vale lindo
Próprio pra nossa morada.
Portanto posso afirmar,
Aqui não vãs encontrar,
Por certo nenhuma espada.
12
Vou lhe fazer uma pergunta.
Falou então o rapaz.
Por aqui passa um riacho,
Com muitas pedras iguais?
Onde a água é cristalina,
Usam-na como medicina,
Quem se banha encontra a paz?
13
- Quem lhe falou o segredo
De nosso riacho santo?
- Me contaram foi no sonho
Não faça disso um espanto.
Algo vai lhes acontecer,
Vamos juntos resolver,
E acabar com o quebranto.
14
Vamos pra minha caverna
Em cima daquele morro.
- Mas lá tem muito perigo
Só tem lobo ou cachorro.
- Pode ficar bem tranquilo
Sou dono de tudo aquilo
É lá que presto socorro.
14
Posso levar um alguém,
Membro de minha família?
Sou chefe da comunidade
Vivo só com minha filha.
Ela é muito inteligente
E pode ajudar a gente.
O seu nome é Maravilha.
15
Espero os dois na caverna
Pela manhã, logo cedo.
Sigam a trilha pela mata;
Dos bichos não tenham medo.
Vou deixar todos avisados
Nunca vão ser atacados.
Mas fica tudo em segredo.
16
O homem falou pra filha
Tudo que tinha ocorrido.
A jovem diz para o pai;
Não procuro um marido.
O senhor vai lá é só
Não me meto em rococó,
Mesmo com desconhecido.
17
Mas quando o homem falou
Da tal espada brilhante.
Aguçou o pensamento
A jovem ficou radiante.
Disse gostar de aventura.
Pôs as mãos sobre a cintura,
Quero partir nesse instante.
18
Saíram de casa cedinho,
Pra caverna do rapaz.
O homem ia na frente
Ela ia um pouco atrás.
Caminharam meia hora,
Antes do romper da aurora,
Chegaram aos metros finais.
19
O rapaz estava esperando-os,
Na entrada da caverna,
Rodeado por três lobos,
Todos faltando uma perna.
O homem todo admirado
- Os lobos são aleijados?
- Somente quando hiberna.
20
O jovem falou aos dois:
Entrem aqui em minha casa,
Não tem porta nem janelas,
É minha caverna rasa.
Ela oferece aconchego,
Aqui tem muito sossego,
Quem fica aqui não se atrasa
21
Quero que me contém tudo,
Que eu não vou intervir,
Logo após eu conto o sonho,
Espero que possam ouvir.
E prestem muita atenção,
Do mundo o coração;
Com certeza está aqui.
22
Pai e filha então contaram,
Tudo sobre a comunidade,
De seu povo hospitaleiro;
Que espalham só bondade;
Todos vivem em união.
Parece que somos irmãos,
Praticamos a caridade.
23
Nós temos nosso riacho
Que para nós é sagrado;
Para o povo é como um santo
Que deve ser cultuado;
A natureza o colocou,
Pra servir como doutor,
Nele o mal será sanado.
23
Ninguém sabe da nascente,
Nunca fomos procurar.
Nunca procuramos saber,
Onde ele vai desaguar.
Nosso riacho querido,
Jamais será poluído
Enquanto por aqui passar.
24
Ao terminar o relato
O homem estava soado,
Seu corpo tremia um pouco,
Estava emocionado.
Quando o rapaz perguntou
Alguma coisa faltou?
O homem chorou calado.
25
Está faltando o principal,
Que não queria contar.
Mas confiamos em você
E por isso eu vou falar.
Quando fugi eu era o Rei
Vou confessar que errei;
Só pra os parentes salvar.
26
Eu não tinha conhecimento
Fala a filha para o rapaz,
Ninguém nunca me falou
A decepção é demais.
Acho que a mãe morreu,
Da vergonha que sofreu,
Pelos erros de meu pai.
27
Nada disso agora vale.
Falou o jovem estrangeiro.
Deixem que narre pra vocês
O que eu sonhei primeiro.
Depois vamos debater,
Como vamos proceder,
Pra salvar o vale inteiro.
28
- No meio daquela guerra
Os meus pais também fugiram;
Foram pra o lado contrário,
E sem destino seguiram.
Depois de muitos tropeços,
Tiveram um novo começo,
Novos caminhos surgiram.
29
Chegaram em outro reino
Bem diferente do seu;
Um monarca muito bom
Foi ele que os recebeu;
Demonstrando seu carinho
Deu pra eles um novo ninho;
Foi assim que aconteceu.
30
Ele levou os meus pais
A presença de um Mago.
Que quando olhou para os dois
Demonstrou muito afago.
Falou sem ter empecilho:
Os dois vão ter um só filho
Que vai salvar do estrago.
31
É ele quem vai restaurar
Os destinos do reinado.
De onde vocês fugiram
Um pouco atrás do passado.
Mas logo que ele crescer
Novo destino vai ter.
O bem vai ser restaurado.
31
Minha mãe engravidou
Por oito anos seguidos.
Nenhuma barriga vingou.
Meus pais tinham desistido.
Mas o Mago assim falou;
Tenham fé em seu amor;
Basta fazer um pedido.
32
Vocês vão ter que seguir
Para dentro da floresta;
Lá demonstrem seu amor
Deixem os corações em festa.
Façam então os seus pedidos,
Mas só um será concedido,
Que o deus da mata atesta.
33
Meus pais então combinaram
Fazerem os dois um pedido.
Para que não haja dúvida
Esse será concedido.
Na hora do “vamos ver”
Pediram para nascer
Um filho forte e destemido.
34
Foi assim que aconteceu,
A forma que fui gerado.
Quando eu fiz dezoito anos,
Para aqui eu fui mandado.
Foi em um dia bem tristonho,
Que eu tive um belo sonho,
Que agora vai ser contado.
35
Eu acho que não foi sonho,
Pra mim foi uma visão.
Estava a noite sentado,
Quando avistei um clarão.
A coisa não existia,
Vi a anoite virar dia.
Cai prostrado no chão.
36
De dentro da luz saiu
Um vulto não definido,
Não era homem ou mulher
O que tinha ali surgido,
Era algo bem diferente,
Desse que deixa a gente
Um tanto quanto aturdido.
37
Da luz saiu uma voz
Que me falou bem assim:
Tens que sair em missão
Que deve ser bem ruim,
Voltes as terras de teus pais
Se procuras encontraras
O princípio, o meio e o fim.
38
E nesse exato momento,
Aquela luz se escondeu;
Tudo voltou ser escuro
Que parecia um breu.
Eu não entendi foi nada
E só pela madrugada
É que a mente adormeceu.
39
Então procurei meu pai,
Para falar sobre a guerra.
Como a coisa aconteceu,
Lá por traz daquelas serras.
Ele contou apavorado,
Foi guerra sem ter soldado,
Por isso deixamos a terra.
40
Não se via um soldado,
Mas muita gente morria.
Apenas quem escapava,
Era aquele que corria.
Quem ficou lá no local,
Por certo passou tão mal
E morreu em agonia.
41
Até mesmo o nosso Rei,
Fugiu daquele lugar.
Lá não ficou viva alma
Para a história contar.
Nunca mais minguem falou
O que por lá se passou,
E nem eu fui procurar.
42
Então falei pra meus pais
Sobre a minha ilusão.
Ele falou que foi sonho
E que eu não desse atenção.
Acho que foi um pesadelo.
Por isso faço um apelo;
Esqueça logo a visão.
43
Mas naquela mesma noite
Novamente aconteceu.
Aquele vulto chegou
E vejam o que sucedeu.
Ele sentou ao meu lado
E com voz em som timbrado
Uma missão ele deu.
44
Vás morar numa caverna.
No morro do vale bonito.
Eras cumprir uma missão.
Pois já está tudo escrito;
Vás procurar a espada.
Que está bem enterrada.
Naquele lugar bendito.
45
No vale tem um riacho.
Onde as pedras são iguais.
É um riacho sagrado
Pra os moradores locais.
As águas que nele corre
Aos habitantes socorre
Esses são fatos reais.
46
Fiques esperando na praça
Que um dia aparecerá.
Alguém bastante educado,
Que vai querer te ajudar.
Levará com ele alguém
Outra pessoa do bem.
Neles podes confiar.
47
Vão encontrar a espada
Lá no coração da terra.
Ela deve estar sem brilho
Pois no momento ela hiberna.
Peguem pedras no riacho,
Ponham elas em um tacho
E levem para a caverna.
48
Coletem agua do rio,
Nessa caneca de ouro,
Tragam com muito cuidado
Na água está o tesouro.
Na primeira madrugada.
Dê um banho na espada.
Com isso acaba o agouro.
49
- Aonde é o coração da terra?
Perguntou o ex monarca.
- É o que vamos procurar
Deve existir uma marca.
A jovem em tom inocente
Disse: tá tudo lá na nascente
Onde esconderam a arca.
50
Foram os três para a nascente,
Tiveram grande emoção.
A nascente do riacho,
Tem forma de coração.
Olharam pra todo lado,
Encontraram bem guardado
Algo em forma de caixão.
51
Quando abriram a arca
Estava ali a espada.
Dentro da velha bainha
Ela estava bem guardada.
Coletaram agua do riacho,
Puseram as pedras no taxo,
Aguardaram a madrugada.
52
Seguiram bem direitinho
Tudo que o sonho ensinou.
Botou água sobre as pedras
E a velha espada banhou.
Esperaram um só segundos,
Quando um estouro profundo,
A caverna se iluminou.
53
Naquele exato momento,
Todos ouviram uma voz.
- Ponham a luz na bainha
Com movimento veloz.
Todos ficaram de pé,
Viram um vulto de mulher,
De uma beleza atroz.
54
A figura quase humana
Tinha asas coloridas,
Pareciam feitas em ouro,
De formas bem definidas.
- Agora vou lhes dizer,
Como devem proceder
Para a missão ser cumprida.
55
Todos estavam extasiados
Só podiam ver e ouvir.
Estavam feito estátuas,
Não podiam nem sair.
Ficaram somente ouvindo,
O som que vinha saindo,
Somente para instruir.
56
“Peguem a espada brilhante,
Sigam pra velha cidade,
Passem no riacho santo,
Peguem água a vontade.
Vão soltando devagarinho,
A água pelo caminho,
Que vai brotando bondade.
57
Quando chegarem a cidade
Frente ao portão principal;
Joguem o resto da água,
Esperem em frente ao umbral,
As portas vão se abrir,
E vocês virão logo ali,
As causas do grande mau.
58
Desse momento em diante
Tudo fica com vocês,
Ajam de forma compacta,
Que ocupe sempre os três.
A força está na espada,
Que deve ser levantada
Sempre com muita altivez”.
59
Quando as portas se abriram,
Surgiu uma nuvem escura,
Os três levantam a espada,
Demonstrando só bravura.
A espada então brilhou,
E a nuvem se dissipou,
Levando uma criatura.
60
Passaram aquela etapa,
Seguiram pelo caminho,
Nele brotavam só flores,
Onde antes era espinhos.
Tavão os três de mãos dadas,
Segurando aquela espada,
Sempre com muito carinho.
61
Viram o antigo palácio
Guardado por três dragões,
Que quando viram a espada,
Se transformaram em anões.
Rodaram feito carrapeta,
Viraram três borboletas,
E sumiram sem agressões.
62
Quando chegaram ao palácio,
A jovem tomou a frente.
Abriu com força as portas
Olhou quem tava presente.
Pegou na mão do rapaz,
Pediu permissão ao pai
E lhe deu um beijo ardente.
63
Naquele mesmo instante,
Tudo ali se transformou.
A espada sai voando,
No trono ela se cravou.
Então se ouve um grito,
Frente ao trono cai proscrito,
O grande destruidor.
64
Todos correm para perto
Daquele ser moribundo.
O jovem disse é o Mago,
Que me mandou pra o mundo,
- Sou oposto da bondade,
Perdoem por caridade.
E cai no sono profundo.
65
Nesse instante aparece
Bem em frente ao umbral,
Os pais do jovem e o Mago,
Que é oposto de mau.
- O mal tinha sucumbido,
Era o irmão do falecido,
Que chagara ao local.
66
Aos pouco foram chegando
De volta para o reinado,
Todos que tinham fugido
Logo atrás, no passado.
Foi grande a emoção
Que surgiu no coração
Dos dois jovens apaixonados.
67
O velho Rei sobe ao trono
Bastante emocionado,
Traz consigo os dois jovens
Colocando-os ao seu lado.
São meu filho e minha filha,
Que formarão a família,
Pra comandar nosso estado.
68
Graças a esses dois jovens,
Nossa paz foi resgada,
Chegaram aqui com bravura
Depois de bela jornada.
Também fiz parte da história
E vou guardar na memoria
Aquela mulher alada.
69
Quando o Rei falou aquilo
Tudo ali resplandeceu.
A bela mulher aparece
No esplendor que é só seu.
- Trouxe de volta a espada,
Que só deve ser usada,
Pelo meu jovem plebeu.
70
Transferiram o novo Reino
Para o coração da terra.
A espada dourada garantia
Aqui jamais terá guerra.
Todos felizes e contentes,
Dessa forma minha gente;
Que nossa história se encerra.

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