terça-feira, 20 de agosto de 2019

O PÁSSARO DE OURO


O PASSARO DE OURO
Nivaldo Melo

1
Essa historia aqui contada
Chamam-na de carochinha
Quem contava era vovó
Na porta da camarinha
Na hora de nos dormir
Era gostoso ouvir
Histórias da vovozinha.
2
E hoje na boa idade
Eu vou lançar em cordel
Essa história que minha vó
Mantinha em seu plantel
Herdei daquela senhora
Seu jeito de contar história
Por isso sou menestrel.
3
Foi nas terras do sem fim
No ano de antigamente
Que morava um casal
Com seis filhos diferentes
Três rapazes e três moças
Pareciam ser de louças
Todos seis adolescentes.
4
Todos eles eram gêmeos
Filhos de três gravidez
As duas primeiras de dois
Na terceira foram três
Só que um nasceu laçado
Não se salvou o coitado
Salvaram só dois bebes.
5
O casal sonhava alto
Com o destino da prole
Era uma luta danada
A coisa não érea mole
Era uma grande labuta
Daquele casal batuta
Em solo que não atole.
6
Todos daquela família,
Viviam em felicidade
O casal e seus seis filhos
Respiravam só bondade
Os pais com todo fervor
Ensinavam só o amor
Numa total igualdade.
7
Mas, nem tudo são só flores
Nas vidas de todos nós
Ditado que aprendi
Ouvindo dos meus avós
Um dia de vento quente
Muda a vida da gente
Prendendo tudo em noz.
8
E foi assim com a família
Daquele belo casal
O bem parou de agir
Dando lugar para o mal
Vai ficando tudo triste
Até o bem não resiste
Ao desalento total.
9
De uma noite para o dia
Tudo mudou de repente
Quem esbanjava saúde
Começou ficar doente
Pássaro parou de cantar
O sol parou de brilhar
E a noite ficou quente.
10
Arvores murcharam as folhas
Flores ficaram sem brilhos
Há partir daquele dia
Tudo saia dos trilhos
O casal desesperado
Olhava pra todo lado
Só vislumbravam martírios.
11
E algo de muito estranho
Começou acontecer
Tudo que era presente
Passou a desaparecer
Si morria ninguém via
Simplesmente ele sumia
Ninguém podia entender.
12
E numa noite fatídica
Como num golpe fatal
Sumiram cinco dos filhos
Daquele belo casal
Ficando apenas um
Com uma missão incomum
Modificar o final.
13
Com apenas doze anos
Ficou aquele garoto
Dos filhos o mais esperto
Ágil como um gafanhoto
O único não atingido
Pra resgatar o perdido
Tirar todos do esgoto.
14
Ele tinha como amigo,
Um pássaro todo dourado
Que acompanhava o menino
Sempre, sempre ao seu lado.
De dia o acompanhava
E de noite só velava
O seu sono abençoado.
15
Foi presente de um velhinho
Um bondoso andarilho
Que falou para o menino
Fique calmo e bem tranquilo
Esse é o pássaro de ouro
Um verdadeiro tesouro
Trate ele como um filho.
16
Um dia em sua vida
Dele podes precisar
Se você lhe der amor
Amor ele vai te dar
Ele vai te proteger
Dá a vida por você
Caso tu necessitar.
17
Podes conversar com ele
E contar os teus segredos
Ela vai ouvir calado
Analisar os enredos
Na noite sem confusão
Dar-te-á a solução
Se quiseres eu intercedo.
18
Não ponha ele em gaiola
Por ele tenha amizade
É uma ave do bem
Não lhe faça crueldade
É forte como um titã
Seja dele um grande fã
Deixe-a sempre em liberdade.
19
O que estava acontecendo
O jovem não entendia
O que nascia de noite
No outro dia morria
No meio de tudo aquilo
Era um tremendo alarido
Pra resolver; agiria.
20
Desabafou com pássaro
E naquela noite sonhou
Que tinha que viajar
Com seu pássaro protetor
E os dois em comunhão
Achariam a solução
Pra todo aquele clamor.
21
De manhã muito cedinho
Tomou sua decisão
E disse para seus pais
Eu não quero objeção
Vou com o pássaro viajar
Junto vamos solucionar
Toda essa confusão.
22
Os pais chorando olharam
Seu jovem filho partir
Para o desconhecido
Mas ele tinha que ir
Com a ave sobre o ombro
Como Cristovam Colombo
O problema descobrir.
23
E bem distante de casa
O pássaro saiu voando
E logo a frente do jovem
Tranquilo ele foi pousando
O jovem ficou parado
Completamente abismado
Com o que estava olhando.
24
O pássaro se transformava
Em um cavalo voador
Com duas asas de ouro
Deixando o jovem em torpor
Que disse: monte meu filho
Sou seu amigo andarilho.
Bateu as asas e voou.
25
Viajaram cindo dias
Sempre em direção ao sol
Muito acima das nuvens
Sempre era o arrebol
Como vento de açoite
Por volta da meia noite
Desceram em caracol.
26
Chegaram em uma cabana
Bem no cume de um morro
O cavalo se transformou
Em um valente cachorro
Vamos esperar direitinho
Que logo, logo cedinho,
Chegará nosso socorro.
27
De repente a porta abriu
E algo quase irreal
Surgiu naquele momento
Bem em frente ao umbral
Uma grande criatura
Vestida com armadura
Guerreiro descomunal.
28
Na mão esquerda uma espada
Na direita um grande escudo
Comunicava-se com gestos
Demonstrando que era mudo
O jovem ficou perplexo
Achando a coisa sem nexo
Mas encarou bem sisudo.
29
O guerreiro lhe entregou
O escudo e a espada,
E falou pra ele em gestos
Sem os dois não vales nada
O elmo e a armadura
Bordada com pedra escura
Vás cumprir tua jornada.
30
O guerreiro então os leva
Para entrada de uma caverna
E nesse lugar sombrio
Que tudo que é teu hiberna
Entrem com muito cuidado
O que tiver de errado
Está em baixo da terra;
31
O jovem então entrou
Com seu fiel cão ao lado
Havia dois corredores
Os dois ficaram parados
O cachorro assim falou
Cuidado meu protetor
Não vamos pelo errado.
32
Escolheram o lado direito
Seguiram na direção
Da galeria profunda
Em total escuridão
Então algo aconteceu
A armadura acendeu
E foi aquele clarão.
33
Continuaram seguindo
Entrando cada vez mais
Encontraram três desvios
No meio na frente e atrás
E o cão falou baixinho
O do meio é o caminho
Tenho certeza rapaz.
34
O cão entrou na caverna
O jovem o seguiu de perto
Encontraram uma estátua
Com os dois braços abertos
Era uma bela imagem
Que bloqueava a passagem
Mostrando o caminho certo.
35
Então os dois se olharam
Seguiram a indicação
Uns poucos metros a frente
Entraram num grande salão
O rapaz levanta o escudo
E viram o guerreiro mudo
Dando a orientação
36
Sigam por esse caminho
Nunca olhem para trás
No final dessa caverna
Tá seu destino rapaz
Lá terás a solução
De toda essa confusão
Pense como agiras.
37
Quando chegaram ao final
Daquela grande caverna
Estava tudo alagado
Muita agua sobre a terra
Começava a grande luta
No fundo daquela gruta
Era o inicio da guerra.
38
Logo que começaram
Fazer a escavação
Ouviram gritos bem fortes
Naquela escuridão.
Muitas pessoas gritavam
Chegando os que nos salvam
Vai ser nossa salvação.
39
O jovem reconheceu
As vozes de seus parentes
Estão olhou para o cão
Estava muito diferente
Com o corpo iluminado
Era o pássaro dourado
De asas bem reluzentes.
40
O rapaz levanta o escudo
Em um sinal de defesa
E naquela escuridão
Viu tudo com bem clareza
Estava toda a família
Em estado de vigília
Demonstrando só fraqueza.
41
Quando o rapaz avançou
Pra junto de seu irmão
Viu surgir em sua frente
Um grandioso dragão
Que vigiava a família
Presa por uma armadilha
Dentro de um alçapão.
42
O jovem ergue a espada
E parte para a batalha
O monstro olha o rapaz
E simplesmente gargalha
Tinha dois metros de altura
Aquela horrenda figura
Parecia uma muralha.
43
O pássaro então falou
Ilumine o ambiente
Ele então vai ficar sego
Não consegue ver a gente
Então nos vamos brigar
E conseguir derrotas
Esse animal diferente.
44
O jovem partiu pra luta
Empunhando sua espada
O dragão então gritava
Vai ser fácil essa parada
O jovem foi mais ligeiro
E com um golpe certeiro
Aluta estava acabada.
45
E foi naquele instante
Que a montanha ruiu
E no lugar da montanha
Um vale verde surgiu
Tinha acabado o feitiço
Portanto o compromisso
O nosso herói já cumpriu.
46
Então uniu os presentes
Preparou-se pra voltar
Então perguntou ao pássaro
Como nós vamos chegar?
E distante? Não importa.
Subam em minhas costas
Que eu começo a voar.
47
Então o jovem falou
Temos uma pessoa a mais
E nosso guerreiro mudo
Aquele forte rapaz
Procuraram o guerreiro
Viram um pé de cajueiro
Ele estava bem atrás.
48
O guerreiro estava sentado
De repente fica em pé
Com belos cabelos dourados
Cobertos por um boné
Foi virando de mansinho
De vagar, devagarinho.
Surge uma bela mulher.
49
Nosso herói fica parado
Sentindo em seu coração
Algo de muito estranho
Gostosa era a sensação
Sentiu algo diferente
Seu sangue ficava quente
Era o sinal da paixão.
50
A jovem se aproximou
E no pássaro ela subiu
Fez um sinal para todos
Só o rapaz que não viu
Ela com grande emoção
Deu pra ele a sua mão
Puxou-o pra si e sorriu.
51
O pássaro então alçou voo,
Com seus sete passageiros
Não viram passar o tempo
Viajaram dias inteiros
Quando chegaram ao destino
Foi aquele desatino
Nada ali estava inteiro.
52
Uma nuvem muito escura
Cobria toda fazenda
O rapaz desce primeiro
Era uma nova contenda
Levantou espada e escudo
Chamou seu guerreiro mudo
Pra desatarem a emenda.
53
A jovem com rapidez
Vestiu sua armadura
Colocou seu belo elmo
Ia lutar com bravura
Enfrentando o perigo
Ia acabar com o inimigo
Dono da nuvem escura.
54
Só existia um modo
De acabar com aquilo
Trazer de volta o sol
Ia fazer com estilo,
Montou no dorso da ave
E num voo bem suave
Demonstrou estar tranquilo.
55
Pegou escudo e espada
Cortou a nuvem em pedaços
Ouviu-se um grande estampido
Como se fosse um balaço
A nuvem se dispersou
Então o sol penetrou
Transformou frio em mormaço
56
A partir daquele instante
Tudo voltou ao normal
E os pais dos seis garotos
Fizeram festa campal
Foram dias de alegria
Todo em grande euforia
Parecia carnaval.
57
O mal que se abateu
Sobre a família feliz
E chamado de inveja
Deixando só cicatriz
Inveja só traz a dor
Quem a mata é o amor
Quando Deus é o juiz.
58
E o pássaro dourado.
Com todo seu resplendor
Abençoou todo mundo
Afastou dali a dor
Deu de presente um tesouro
Uma arca com muito ouro
Bateu essas e voou.
59
O jovem e sua guerreira
Formavam um belo casal
Um par de rara beleza
Que não existia igual
Os pais os abençoaram
Então os dois se casaram
Demonstrando amor total.
60
Estórias da carochinha
Não tem um final ingrato
Entram na perna do pinto
E saem na perna do pato
Se gostaram da história
Batam palma, gritem glória.
Pois sou poeta de fato.

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