O PAÍS FEITO POR DEUS
Nivaldo Melo
1
Um dia o Pai Eterno
Olhou pra terra direito;
Viu um lugar bem bonito,
Pra Ele quase perfeito.
Vou por ali um país,
Com um povo alegre e feliz,
E Vamos ver o efeito.
2
Junto a Ele tinha um Anjo
Ouvindo tudo calado;
Olhava de cima pra baixo
Com os olhos arregalados
Dizendo: que paraíso!
Deus emitia um sorriso;
3
Feliz por tê-lo encontrado. 3
Nesse lugar Eu construo
Um país continental,
Ponho raças diferentes
De uma forma global.
Índios, orientais, africanos,
Europeus, americanos;
Misturo no carnaval.
4
Vou chamar de mistureba
Toda essa “cruzação”;
Sairá um povo pacato
Sem sonho e sem ambição;
Confiarão em políticos
Pois têm medo de conflitos;
Crio a miscigenação.
5
Esse lugar é perfeito
Pra o povo que vou por lá.
Vou dar uma caprichada,
No clima desse lugar;
Lá não vai ter terremoto,
Nem vulcão nem maremoto;
Esse país vai bombar.
6
Nos primeiros cem anos
Vai ser de desbravamento,
Com os grandes bandeirantes
Provocando o crescimento.
Então por diversas vezes
Mando padres portugueses,
Fazerem do povoamento.
7
Com esse desbravamento
Criaremos povoados;
No futuro transformamos
Todos eles em estados,
Divido-os por regiões;
Não aceito opiniões.
Quero todos registrados.
8
Serão vinte e sete estados
Um distrito federal;
Nesse distrito Eu vou por,
Nele o governo central.
Pra comandar a nação
Na mais perfeita união,
Cheio de caras de pau.
9
Os cem anos subsequentes
Serão anos bem legais.
Os colonos roubam o ouro,
E outras riquezas locais;
Madeiras, pedras preciosas;
E as índias mais gostosas,
Mandam lá pra Portugal.
10
Será mesmo nessa época
Que vou por o nome Brasil.
Consolidado por todos
Como um país varonil.
Ilha de Vera Cruz
E Terra de Vera Cruz
Serão primeiro de abril.
11
O nome será perfeito
Retirado da madeira;
Que quando ela for cortada;
Parecerá uma braseira.
Os índios então vão cantar
Sem nenhum medo de errar:
Ayu’ru, tanhimbu, Marã’yêra.
12
E já século dezoito
O país vai melhorar;
Além da extração do ouro
Que nunca vai acabar,
Vão plantar cana e café;
Cria gado quem quiser,
O país vai deslanchar.
13
Vai ter muita consequência;
Nascem os latifundiários,
Que se apossaram das terras,
Sem gastar os numerários.
Com isso surgem os conflitos,
Deixando tudo esquisito.
Quem vai perder? Os otários,
14
Os índios, donos das terras
Serão jogados para o lado,
E se alguém reclamar
Pode ser escravizado.
Por isso na guerra fria,
Quem podia não podia;
Melhor é ficar calado.
15
Lá no século dezenove;
Vou mudar tudo outra vez
Ficarão independentes
Do domínio do português.
Sem nenhuma luta armada
A república é proclamada;
Livro-os do explorador burguês.
16
Então Eu vou promover
A maior libertação;
Homens libertando homens,
Estingo a escravidão.
Apagarei de uma vez
Lembranças do português;
Que foi o maior vilão.
17
Iniciamos um novo século
Com progresso até demais;
Afirmo: o século vinte
Vai ficar lá nos anais;
Como o século do progresso,
Isso vai ser um sucesso.
Vai ser é bom; por demais.
18
Logo na primeira década;
Ênfase para a aviação.
Acontecerá na segunda
Guerra conta o Alemão.
E na década terceira
Arte moderna brasileira,
Tem sua emancipação.
19
Lá na década de quarenta,
Pra guerra serão chamados.
Então nos anos cinquenta,
Serão os anos dourados.
Já na década de sessenta,
Revolução bem sangrenta;
Com todos preocupados.
20
Vou deixar os anos setenta
Sem petróleo. Muita intriga,
E a década de oitenta
Serão anos só de briga.
O dinheiro confiscado,
Um Presidente cassado,
Fim da década inimiga.
21
Na última década do século,
A moeda vai mudar,
Isso muito pouco antes
De o novo século chegar.
Já no século vinte e um
Muita coisa incomum.
Vão ter que se acostumar.
22
Mudarão o presidente
E o partido também;
Quem vai governa agora
Vira puxando um trem,
Cheio de pessoas oprimidas
Muitas delas até banidas;
Aí não tem pra ninguém.
23
A partir desse momento
Meu Anjo; vou esperar.
Aproveito esse tempo
Deito-me e vou descansar;
Já sei o que acontece,
Tudo não sobe só desce,
Pois vão botar pra torar.
24
Os que estão no comando
Vão ficar surdos, não mudos,
Nunca virão os desmando
Por mais que sejam absurdos.
Se perguntarem? Não sei,
Não vi, não participei,
Essas não têm conteúdo.
25
Distribuirão o dinheiro
Dos quais ele não são donos;
E gritam por todos os cantos:
Dos pobres somos patronos.
É dando que se recebe,
Roubem que ninguém percebe.
Isso de inverno a outono.
26
O Querubim perguntou:
Como assim meu Pai Eterno;
Se deixar abandonado
Tudo não vira um inferno?
+ O povo tem que resolver;
Espero acontecer,
Enquanto isso Eu hiberno.
27
O Anjo ficou meditando
Será que o Pai fala sério?
Se eles voltam ao que eram,
Para o tempo do império?
+ Vão roubar do mesmo jeito
Só vão mudar o conceito,
Como também o critério.
28
E como eu vou responder
Se alguém me perguntar:
Caminhando desse jeito,
Como o país vai ficar?
+ Você não vai fazer nada;
Dê apenas um rizada,
Responda: DEUS PROVERÁ.
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