sábado, 31 de agosto de 2019
NO OLHO DA FERA
NO OLHO DA FERA
Nivaldo Melo
1
Mais um caso interessante
Contado por minha avó.
É um caso eletrizante
Cheinho de quiproquó,
Prestem bastante atenção
Para nossa narração,
Nessa vamos dar um nó.
2
Histórias do velho Trancoso
São causo bem popular.
Esse que pra vosmencê
Agora passo a narrar;
É uma história gostosa,
Mesmo sendo fantasiosa,
Muito boa pra escutar.
3
Viviam em uma floresta,
Uma gente interessante.
Eles não tinham um Rei,
Nem mesmo um governante.
Em total independência,
Cultuavam apenas a crença,
De um futuro radiante.
4
Durante muitos e muitos anos,
Ninguém nunca os incomodou.
Quando do nada aparece,
Um velho andarilho pastor,
Com ar de muita bondade,
Lhes disse sou a verdade,
E por isso aqui estou.
5
Mas ninguém lhe deu ouvidos,
Deixando-o sempre de lado,
Quando queria conversar,
Todos ficavam calados.
Sentindo-se fora dos trilhos,
Aquele velho andarilho,
Foi ficando injuriado.
6
Como podia o velhinho,
Um profeta tão antigo,
Ser tratado pelo povo,
Como se fosse um mendigo?
Nem o deixavam falar,
Quando só queria avisar,
Da chegada do inimigo.
7
Foi ao morador mais velho,
Ele nem deu atenção.
Então procurou o mais rico,
Recebeu um safanão.
Pegou um recém-nascido,
Sussurrou em seu ouvido,
A sua premonição.
8
A noite ele foi a praça,
Muita gente reunida,
Gritou em alto e bom som,
A criança está ungida.
Podem esperar o tropeço,
Que bem antes do começo,
A coisa vai ser explodida.
9
Esperem uns vinte anos,
Para me verem de volta,
A paz vai ser deletada,
Aqui só vai ter derrota.
Procurem sobreviver,
Quando eu reaparecer,
Para mim abram as portas.
10
Fez um gesto de adeus,
E sumiu em uma fumaça,
Deixando apenas confusos,
Todos que estavam na praça.
Quem foi pelo velho ungido?
Procurem o recém-nascido,
Pra nos tirar da desgraça.
11
Que recém-nascido é esse?
Hoje temos quase mil.
Será que o velho andarilho,
Com o pobre bebê sumiu?
Vamos esperar para ver,
Nada vai nos acontecer,
Essa história é pueril.
12
Nem mesmo a mãe da criança,
Viu o velhinho cochichar,
No ouvido de seu filho,
O que ia se passar.
Ninguém poderia prever,
O que ia acontecer,
Ali naquele lugar.
13
Todas as mães se reuniram,
Tendo seus filhos ao lado,
Não deu todas na igreja,
Foram para o campo gramado.
Foi quando o padre falou:
Quem tudo ao velho negou,
Deve estar preocupado.
14
Uma semana se passou,
Todos já tinham esquecido.
Quando ao longe ouviram,
Um tremendo estampido.
Todos ficaram ali parados,
Esperando os resultados,
Gerados pelo ocorrido.
15
Dois dias já se passaram,
Depois daquele estampido.
Se fosse algum aviso,
Já estava em nosso ouvido.
Vamos festejar na praça,
Aqui não chega desgraça,
Esqueçam o recém-nascido.
16
Mas naquele mesmo dia,
O rio começa a secar,
As aves ao nascer do sol,
Já pararam de gorjear,
O dia foi um calor imenso,
A noite foi de um frio intenso,
Plantas começam queimar.
17
Então no dia seguinte,
A coisa então se inverteu,
A noite ficou muito clara,
O dia ficou como um breu.
Tudo tava diferente,
Naquela cidade descente,
Todo mundo se escondeu.
18
Cinco anos se passaram,
Com todo esse sofrimento.
O povo não tinha sossego,
Nem ao menos em um momento.
Então algo aconteceu,
Um menino apareceu,
Com o corpo bem sardento.
19
O garoto aparece nu,
Logo cedinho na praça.
- Deve ser de outro lugar,
Acho que é de outra raça,
Achamos que é doença,
Terem-no de nossa presença,
Por isso estão na desgraça.
20
Então falou o menino:
“Vocês continuam assim?
Chega estranho na cidade,
Acham que é coisa ruim,
Vou voltar pra meu lugar,
E se um dia algo mudar,
Volto como um querubim”.
21
E como um passe de mágica,
O menino então partiu,
Procuraram em todos os cantos,
Mas nenhuma pessoa o viu.
Então outra vez todo povo,
Não podiam ter socorro,
A Segunda chance sumiu.
22
E durante muitos anos
Continua a calmaria.
O sol saia de noite,
A lua vinha de dia.
De dia, todos vão dormir,
Acordam quando a lua sair,
Não sentem mais alegria.
23
Novamente cinco anos,
Vivendo na contramão,
A igreja sempre cheia,
Todos fazendo oração,
A espera de um sinal
Que venha dar fim ao mal,
Acabar com a aflição.
24
Num dia de lua cheia,
No leito seco do rio,
A silhueta de um jovem,
Como mágica ali surgiu,
Estava nuzinho em pelo,
Causando um desmantelo,
Tava em estado viril.
25
Então um homens chegou,
O mais próximos que podia,
Viu que o corpo do rapaz
A sarda todo cobria;
Então ele sai correndo,
Venham ver o que tou vendo,
É a salvação que viria.
26
Com pouco mais de dez anos,
Apresentou-se o rapaz.
“Espero que me recebam,
Das formas que são legais,
Se não aceitam minha ajuda,
Peço a Deus que os acuda,
Que eu aqui não volto mais”.
27
Ainda sou um menino,
Espero apenas o momento,
Pra revelar um segredo,
Que me contaram faz tempo,
Contado por um andarilho,
Segredou sem empecilho,
Quando ainda era um rebento.
28
Vou passar aqui um tempo,
Logo depois vou embora,
Só devo voltar por aqui,
Somente ao chegar a hora.
Quero tudo preparado,
Pra resgatar o passado,
Ao espantar o caipora.
29
Os dias que ali passou,
Foi muito questionado.
Quem era, de onde veio?
Porque do corpo pintado?
- As pintas é o que está escrito,
Pra desmanchar o conflito,
Dar tudo por acabado.
30
Devo seguir adiante,
Para cumprir meu destino,
Recebi essa missão,
Quando eu era um menino.
O velho andarilho profeta,
Veio pra dar um alerta,
Trataram-no como um cretino.
31
Estão passando por isso,
Por causa da prepotência,
Não julguem nunca as pessoas,
Sem procurar sua essência.
Ser humilde é ser legal,
Não existe nenhum mal,
Em demonstrar complacência.
32
Volto daqui a oito anos
Pra começar a missão.
Venho em meu cavalo alado.
Escolham um ancião;
Que será por mil levado,
Iremos pra o outro lado,
Pra enfrentar o dragão.
33
Quando chegar eu espero,
Mudar essa atmosfera,
Chegarei nesse lugar,
No início da primavera.
Lutarei como um titã
Pra pegar um talismã,
Que está no olho da fera.
34
Passaram-se mais oito anos,
Para a volta do rapaz,
Toda cidade esperava,
O mensageiro da paz.
Veio em seu cavalo alado,
Com os arreios enfeitados,
Parecia bom demais.
35
Agora eu posso contar,
O que ouvi no passado,
Daquele velho andarilho,
Por vocês foi rechaçado.
Ele tinha uma missão,
Veio trazer a salvação,
Desse vosso povoado.
36
O velho então sussurrou,
Pra mim, um recém-nascido:
Vou deixar você imune,
O seu corpo está ungido.
Aqui não nasce ninguém,
E nem vai morrer também,
Por um tempo já definido.
37
São apenas vinte anos,
Até que eu possa voltar,
E durante esse tempo
Nada aqui pode mudar,
Terão sempre a mesma idade,
Pra pagar a crueldade,
Que eles sabem praticar.
38
E durante os vinte anos,
Só você que mudará,
Por isso meu bom menino,
Daqui deves te mudar,
Vás à terras dos pardais,
Juntamente com teus pais,
É lá que deves morar.
39
Teu corpo será marcado,
Como se fossem uma sarda,
Mas teu corpo será escrito,
Com frases delineadas,
Tu terás que aprender,
Tudo que deves fazer,
Será tua salvaguarda.
40
Quantos fizeres dezoito,
Ao chegar a primavera,
Voltarás para as raízes,
Onde o povo te espera.
Levarás uma anciã,
Pra pegar o talismã,
Que está no olho da fera.
41
Depois que leres teu corpo,
Deves seguir o caminho,
Não troques nada do que está,
Escrito no pergaminho,
Será ele tua receita,
Seguiras letra por letra,
Que tudo dá bem certinho.
42
Confiaras na pessoa,
Que será uma anciã.
Será pra ti meu presente,
Na verdade é minha irmã.
Ela está preparada.
Para seguir na jornada.
Em busca do talismã.
43
Então o jovem partiu,
Depois de tanta espera.
Ao lado de uma anciã,
Que o profeta impusera.
Cumpririam a missão,
Trazendo a salvação,
Eliminando a fera.
44
Viajaram por um mês,
Com pouca interrupção,
Chegariam a seus destinos
Conforme a premonição.
O tempo ia passando,
E o cavalo voando,
Sempre na mesma direção.
45
Viajavam sempre ao dia,
Evitando a escuridão,
Logo que o sol clareava,
Voavam feito um falcão,
Ao completarem um mês,
Viram na primeira vez,
Um belíssimo casarão.
46
Chegamos a nosso destino,
Falou assim a velhinha.
Vamos ter muito cuidado.
Devido as ervas daninhas.
Podem fechar a passagem.
Precisamos de coragem,
Tá tudo nas entrelinhas.
47
Já está chegando a hora,
De você ler para mim,
O escrito em minhas costa,
Sorrindo ela disse sim,
Pois fique bem preparado,
Que eu vou ler compassado,
Do princípio até o fim.
48
“Peguem um feixe do mato
E coloquem na cintura”
Quando executam as ordens
Tudo virou armadura
“Forjem de pedra as espadas
E na próxima madrugada
Virão a colossal criatura”.
49
“Montem no cavalo alado,
E voem por sobre o muro,
Mas isso deve ser feito,
Quando tudo for escuro,
Deixem a entrada principal,
E sigam para o quintal,
Onde o terreno é bem duro.
50
Entrem na sala principal,
Saiam por trás do colosso,
Sigam de pé-ante-pé,
Vão encontra lá um fosso,
Façam tudo bem devagar,
Pra fera não acordar,
E não causar alvoroço”.
51
Mas se a fera acordar,
Prestem muita atenção,
Só podem vencer a luta,
Se rolarem pelo chão,
Quando a fera se abaixar.
Vocês têm que arrancar,
O único olho do cão.
52
Sem o olho aquela fera,
Nada ela vai pode ver,
Ponham o olho no alforje,
Comessem logo a correr.
Abram a porta principal,
Se escondam no umbral,
Na luz ele vai morrer.
53
Na corrida então a velha,
Se esparramou pelo chão,
Então o jovem voltou,
Lutando feito sansão.
Bate bem firme na fera,
Que logo se recupera,
Pra começar nova ação.
54
A anciã pega um pedra
E rola pelo salão.
A fera que estava cega,
Ficou sem ter direção,
Então eles aproveitaram,
E para fora pularam,
Aguardaram a conclusão.
55
Quando o titã sai pra luz,
Ficou todo estatelado.
Então recebeu um coice,
Do grande cavalo alado,
O coice foi tão certeiro,
Que o bicho cai no terreiro,
Totalmente derrotado.
56
Houve uma grande explosão,
Formando grande cratera,
E dentro daquele buraco,
Se ver apenas uma esfera,
Nas mãos do velho andarilho,
Ela tinha um grande o brilho,
Era o sol da primavera.
57
O velho andarilho profeta,
Essas palavras falou:
“Tudo aqui vai terminar
No local que começou,
Nunca saímos daqui,
Não tínhamos pra onde ir,
Foi aqui que se passou.
58
Todos olharam para o jovem,
Ele estava bem mudado,
Toda sarda de seu corpo,
Por milagre tinha acabado.
Fizeram uma reunião,
Aquele herói rapagão,
Como Rei foi coroado.
59
Procuraram a anciã,
E para as suas surpresa,
Ela tinha se transformados,
Em uma bela princesa.
Toda vestida de dourado,
O jovem a pôs de lado,
Um lindo par com certeza.
60
Os habitantes do lugar,
Receberam uma lição.
Viram que a prepotência,
Fomenta a desunião,
Transforma tudo em fera.
Só a bondade prospera,
Vem trazer a salvação.
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Maravilhoso! Salve nossa cultuea popular! Viva o Brasil!
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