terça-feira, 22 de maio de 2018
O JEGUE
Nivaldo Melo
Quem é que quando menino
Nunca praticou uma arte?
Eu como bom cordelista
Falo-lhe: modéstia à parte
Sempre fui um bom garoto
Como destro e não canhoto
Pra não provocar enfarte.
Já ouvi muitas estórias
Algumas, bem de verdade,
Outras bem mentirosas
Contadas só por maldade;
Pra prejudicar alguém
Querendo se sair bem
É essa a realidade.
Esse causo acompanhamos,
Desde quando começou
A história do José Vicente.
O cara se apaixonou
Por uma jumenta faceira
Que ia com ele à feira
Chamada de meu amor.
A jumenta era morena
E era muito carnuda
Quando estava arreiada
Diziam estar de bermuda
Era como mulher baixinha
Pequena mas gostosinha
Daquela bem rechonchuda.
Nos dias de sexta feira
Com seus arreios de prata
O Zé a levava à feira
Orgulhoso da mulata
Sua jumenta favorita
Para ela a mais bonita
Parecia aristocrata
Pra onde o Zé a levava
Chamava muita atenção
O seu pelo era só brilho
Ela mal pisava o chão
Andava sempre em trote
Nunca andava em galope
Causando admiração.
Por isso o José Vicente
Que era bom lavrador
Criava muitos jumentos
Também era apicultor
Plantava, criava abelhas
Quando lhes dava nas telhas
Era um bom namorador.
Nunca o José quis casar
Namorava por demais
Considerado bom filho
Morou sempre com os pais
O Zé não tinha defeito
Sempre foi um bom sujeito
Bom partido, bom rapaz.
Dos pais herdou a fazenda
Que só produzia mel
O Zé disse um dia eu mudo
Vou aumentar meu plantel
Vou plantar, criar jumento
Dessa forma eu aumento
E vou virar Coronel.
Em pouco tempo o José
Que era um cara alegre
Mudou de José Vicente
Apenas pra Zé dos Jegues
Ele nem se importava
Sempre e sempre ele falava:
Nunca espalhe; Agregue.
Os jumentos do José
Eram todos sangue puro
Quando alguém queria um
Comprava ate no escuro
O Zé sempre foi modesto
Era um fazendeiro honesto
Pensava só no futuro.
Da vida intima do José
Ninguém sabia de nada
Sabiam que ele gostava
De uma mulher safada
Daquelas que tem na zona
Preta, feito uma azeitona,
Só com ela o Zé transava.
A negra era muito bonita
Quase dois metros de altura
Cintura bem torneada
Nada, nada de gordura,
Mereciam uma etiqueta
Nas ancas daquela preta
Pensem numa criatura!
O Zé sempre a visitava
Independente do mês
Isso era corriqueiro
Mas sempre marcava a vez
Só ia quando marcado
Era tudo agendado
Foi assim que sempre fez.
Isso causava inveja
Pra amigas da mulata
Todas as quengas sabiam
Que o Zé tinha muita prata
O fazendeiro tinha grana
E pagava por semana
As despesas da ingrata.
Alguém perguntou à preta:
Porque o Zé não se casa?
Será que é insensível,
Ou casamento o atrasa?
- Somente eu é que aguento
O Zé é feito um jumento
E queima feito uma brasa.
Foi o que estava faltando
Pra noticia se espalhar
As quengas à boca miúda
Queriam também provar
Do excesso do José
Se viam, davam de ré
“Essa não dá pra aguentar”!
O Zé sempre foi discreto
Se sentiu assediado
Estava perdendo o controle
Ficava desconfiado
Então perguntou a preta
Qual motivo da retreta
De estar sendo molestado.
Quando ela contou ao Zé
Aquilo que tinha dito
O cara ficou arretado
E foi logo dando um grito
Sempre te paguei direito
Pra não dizer meu defeito.
Fofoca; não admito.
Foi assim que ele afastou-se
Não frequentou mais a zona
Só frequentava a preta
Quando lhe dava carona
Levava a preta pra gruta
E transava com a enxuta
Deitada dobre uma lona.
Mas o jovem fazendeiro
Sempre quis o celibato
Passou a ficar tristonho
Andando dentro do mato
Assim eu perco a razão
Mas eu acho a solução
Transformo boato em fato.
Viajou para bem longe
Só para comprar jumentos
Comprou uma burra prenha
Quando fez dois juramentos
Prometeu nunca casar
E daquela burra cuidar
Até seu falecimento.
Depois de mais de um ano
Pra fazenda ele voltou
Trouxe mais de cem jumentos
Que o seu pátio lotou
Jumentos de qualidade
Foi festa lá na cidade
E seu plantel melhorou.
E assim foi dessa forma
Que Zé dos jegues encontrou
Sua burra favorita
A qual chamou de amor
Filha daquela jumenta
Muito forte “truculenta”
Que como filha adotou.
Todas as vezes que ia a feira
Levava a pequena cria
Que era a mais bem cuidada
Isso todo mundo via
E assim o tempo passou
Ele cuidando de amor
Ensinava acrobacia.
Tudo sobre seu comando
Ela prendeu a pular
Fazia jeito dengoso
Quando mandava deitar
E pra aumentar sua asa
Mandou fazer uma casa
Pra jumenta Amor morar.
Contratou uma serviçal
Só pra cuidar de Amor
Era banho todo dia
Maquiagem ele comprou
Sabonete de primeira
Gastar com amor é besteira
Perfume francês importou.
Chamava a cabeleireira
Para parar sua crina
Dizia: não quero maltrato
Na minha bela menina
Se chover tem guarda-chuva
Essa será minha uva
O tratador veio da China.
A água que Amor bebia
Do garrafão; mineral
Os demais bebiam água
Do poço ou do torneiral.
Amor não come capim
Só mel com amendoim
Pois não pode passar mal.
Quando tinha exposição
Que a burra Amor concorria
Não ia dar para ninguém
Todo mundo já sabia
E na hora do ganhar
Era primeiro lugar.
Deixava o Zé em euforia.
E o povo na cidade
Estavam todos bolados
Olhavam estranho pra o Zé
Todos bem desconfiados
O ex do Zé só dizia
Me deixou, faz zoofilia
Além de jumento é tarado.
Criaram uma estratégia
Para o Zé investigar
Pagaram pra serviçal
Pra o pobre Zé vigiar
Pensem numa agonia
Vigiavam, noite e dia
Em casa ou noutro lugar.
Mas o zé sempre contente
De nada desconfiava
Andava sempre com amor
Onde ele estava ela estava
Diziam é caso incomum
Um com outro, outro com um
Era só o que faltava.
O veterinário da fazenda
Mandou chamar o patrão
Anunciou que a burra Amor
Tava prenha do alazão
O garanhão mais bonito
O Zé criou um conflito
Foi a maior confusão.
Vamos ter que esperar
O tempo de gestação
Aí vamos ter certeza
Se o filho é do garanhão
Então todos vamos ver
Quando o filhote nascer
Será um lindo potrão,
Depois de catorze meses
Sabe como é minha gente.
Nasceu aquele filhote
Deixando o Zé bem contente
Mas sabem o que aconteceu
O filho de Amor nasceu
Com a cara do Zé Vicente.
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