quinta-feira, 19 de setembro de 2024

O REINO DA BOA ESPERANÇA

 


                                            NIVALDO MELO


1
Essa é mais uma história
Contada por minha avó
Ela sempre diz pra gente,
Que é do tempo do rococó
Que foi no século dezoito
Tempo do artista afoito
Período da arte maior.

2
Quase todos as histórias
Falam sempre dessa data
Quem sabe contar os fatos
Conta sem medo e com raça
Aqui sempre foi assim
Podem perguntar pra mim
Que respondo sem bravata.

3
Mas vamos ao que interessa
Que é a história da vovó
Essa se passou lá na França
Que é bonita como ela só
A história de uma princesa
Que sempre esteve presa
Para morrer no caritó.

4
Toda história começou
No centro de uma floresta
Onde morava um casal
Daqueles que o povo detesta
Não falavam com ninguém
Demonstravam ter desdém
Falavam; eles não prestam.

5
Só apareciam na cidade
Apenas uma vez por mês
Acompanhados por um cão
Diziam: Chegaram os três
Todos saiam da cidade
Porque chegou a maldade
Fujam todos de uma vez.

6
O casal se importava muito
Com os comentários em geral
E quase sempre choravam.
Mas lá no mercado local
Eles tinham um bom amigo
Que os abrigava do perigo
E achava-os bem legal.

7
Contavam, os mais antigos
Que eles eram abastados
Viviam quase como Reis
Em um lugar reservado
Mas esbanjavam avareza
Apesar de ter riqueza
Por todos eram desprezados.

8
Contam que aquele casal
Que tinham apenas um filho
Mantinham o garoto preso
Para anular o gatilho
Da premonição da bruxa má
A que veio só pra prejudicar
E mantê-los no exilio;

9
Todo começou desse jeito
E aconteceu bem assim
- Um dia aparece na casa
Uma bruxa muito ruim
Pediu pra eles um abrigo
Sem darem conta do perigo
Eles dissertam que sim.

10
Puseram a velha pra dormir
Numa esteira, no porão
A bruxa pra eles olhou
E fez sinal com a mão
Ela devolve a esteira
Desceu a escada inteira
E foi dormir bem no chão.

11
Então a velha se ajoelhou
E fez uma prece assim
Este casal avarento
Estão zombando de mim
Vou prepara um enredo
Para deixá-los com medo
Com principio meio e fim.

12
Naquela noite fatídica
Bem antes da madrugada
Ventava e fazia frio
A casa toda acordada
Algo estranho acontecia
Só uma frase se ouvia
Missão cumprida, acabada.

13
Então o casal se levanta
E bruxa queria fugir
Eles puxam a vassoura
E viram a velha cair
Ela ficou muito irada
E disse dando rizadas
Me forçam a agir assim.

14
Aconteceu um estrondo
Naquele exato momento
O tempo ficou diferente
Parou o frio e o vento
Apagaram-se as lamparinas
E caiu uma expeça neblina
Ali começa o tormento.

15
A bruxa então esbraveja
Tudo acontecerá assim
Vocês vão gerar um filho
Que vai ter um gênio ruim
Ao completar a maior idade
Trará consigo a calamidade
Que marcará o seu fim.

16
Vocês vão ter que mantê-lo
Sempre preso e vigiado
Contatarão uma ama
Para estar sempre ao seu lado
Ela o criará como tutora
Será mãe e professora
Por ela será educado.

17
Da próxima vez que alguém
Solicitar-lhes um abrigo
Se derem de bom coração
Se livrarão desse castigo
Guardem isso em segredo
E podem ficar sem medo
Não façam como comigo.

18
Pegou de novo seu veículo
Montou no mesmo e partiu
Apenas um forte apito
Foi tudo que se ouviu
O casal ficou abalado
Um tanto acabrunhado
Ali ninguém mais sorriu.

19
Com pouco tempo depois 
E mulher engravidou
E sete meses depois
A crianças aflorou
Parecia, mas um cravo
Mas seria um escravo
Do mal que a bruxa deixou.

20
Da forma que a bruxa disse 
O primogênito seria criado
Contrataram uma jovem
Para ficar ao seu lado
Seria uma mãe tutora
Confidente e professora
Até o momento chegado.

21
Em uma cidade bem distante
No reino das carochinhas
De rostinho aveludado
Nascia uma princesinha
Seus pais quase desmaiaram 
Quando pra ela olharam
Era feia a menininha.

22
Cheia de manchas vermelhas
Do rosto até o pescoço
Sem cabelos na cabeça
Mas no centro tinha um osso
Pense num bebê horrível
Podermos dizer terrível
Com jeito de bode mocho.

23
Seus pais logo determinaram
Vamos mantê-la escondida
Esperemos alguns meses
Pra ver se saram as feridas
Se isso não acontecer
Vamos ter que a manter
Presa na torre perdida.

24
Contrataram uma pessoa
Pra ser uma mãe tutora
escolheram uma poliglota
Pra ser sua professora
Quero que nossa filhinha
Seja a futura Rainha
A mais feia. Mas sedutora.

25
Nós vamos ter que escondê-la
Pra todo de nosso reinado
E guardar esse segredo
Quem sabe fica calado
E se um dia alguém falar
Esse vai ter que pagar
Será preso e enforcado.

26
Prometeram uma fortuna
Para a jovem mãe tutora
Deram terras e dinheiro
Pra família da professora
Aqui vocês veem morar
E deixem o tempo passar
Sejam dela as defensoras.

27
E o tempo foi passando
E a princesinha crescendo
Tudo que lhes ensinavam
Com certeza ia aprendendo
Era por demais inteligente
Mas dos pais muito carente
Mudanças iam acontecendo.

28
Nada melhor que o tempo
Pra corrigir os defeitos
O ruim se torna bom
O torto fica perfeito
Tudo depende do trato
O gato amigo do rato
Com Deus pra tudo tem jeito.

29
Alguns anos se passaram
Um pouquinho mais que dez
Aquela menina tão feia
Recebia nota dez
Em inteligência e beleza
Era um anjo de pureza
Tinha todos aos seus pés.

30
Até o velho monarca
Que não a via há anos
Começou esbravejar
- Não quero ser leviano
Vocês trocaram a princesa
Disse; ela é uma camponesa
A minha foi com um cigano.

31
E quando as duas tutoras
Quiseram pra ele explicar
Ele demostrou muita ira
E quis fugir do lugar
Mas quando olhou a princesa
E notou sua tristeza 
Começou logo a chorar.

32
- Oh minha filha querida
Você tá bem diferente
Nem parece a menininha
Que eu deixei tão carente
Es uma bela mulher
Me diga o que você quiser
Que faço imediatamente.

33
Quero ficar por aqui
Até a maior idade
Aprendendo o que me falta
Para governar a cidade
Não quero ser a princesinha,
Pretendo ser uma Rainha
Para reinar de verdade.

34
Falo muitos idiomas
Por isso posso agregar
Expandir nossos domínios
Vamos ter que modificar
Dar aos pobres oportunidade
Pra crescerem de verdade
Pra enriquecer, prosperar.

35
O monarca então se afasta
E beija as mãos das tutoras
Transformaram minha filha
Na mais bela e sedutora
Moldaram nossa princesinha
Pra mais inteligente Rainha
Tanto ou mais que a genitora.

36
E quando o Rei vai embora
Ela relata para as amigas
Ultimamente eu sonho
Com algo que me intriga
É um lugar bem diferente
Onde mora pouca gente.
Mas vivem em eterna briga.

37
Tudo indica; em meu sonho
Ter um jovem prisioneiro
Acho que tem uma tutora
Mas lamenta o dia inteiro
Quero alguém pra decifrar
Quando o sonho eu contar
Quero isso bem ligeiro.

38
A mãe tutora responde
Eu nasci com esse dom
Revelo sonhos e medos
Acham isso muito bom
Vamos sentarmos as três
Conte o sonho de uma vez
Garanto que dou o ton.

39
Há mais de um mês o sonho
Pra mim vem do mesmo jeito
A paisagem é a mesma
Não muda nem um graveto
Numa floresta extensa
Uma família sem crença
Um filho cheio de defeito.

40
No último sonho aparece
Em cena uma senhora
Montando uma vassoura
Braba como uma caipora
Fazendo premonição
Provoca a desunião
Disse assim naquela hora.

41
Da próxima vez que alguém
Solicitar-lhes um abrigo
Se derem de bom coração
Se livrarão desse castigo
Guardem isso em segredo
E podem ficar sem medo
Não façam como comigo.

42
Então todas se calaram
Só a tutora então falou
Vamos falar com alguém
Pra ser nosso protetor
Chamá-lo-ei nesse instante
É um cavalheiro andante
Vai dar fim nesse terror.

43
A professora e mais eu
Temos algo a revelar
Nós somos as boas fadas
Viemos só pra te mostrar
Qual vai ser o teu futuro
Será o mais lindo e puro
E só vocês vão herdar.

44
Naquele exato momento 
Um mendigo apareceu
Na entrada da floresta
Onde tudo aconteceu
Há quinze anos atrás
Com aquele belo rapaz
Que ele quase pereceu.

45
- Bateu em frente a um umbral
E gritando: hour de casa!
Mas ninguém apareceu
- Estou queimando em brasa
Quero água, tenho cede
E se possível uma rede
Pois o meu cavalo morreu.

46
Um casal lhes abre a porta.
-  Quero somente guarida?
Se o casal pode me ajudar
Quero um prato de comida
Se podem me dar pousada
Saio na próxima madrugada
Pois vou ter missão cumprida.

47
Estão o casal se olha
Os dois tavam extasiados
Será ele essa a pessoa
Que a bruxa havia falado?
- Que quer o senhor de nós>
Por acaso é um algoz?
- Eu venho lá do passado.

48
Quinze anos se passaram
Que uma bruxa esteve aqui
E agora estamos de volta
Estamos aqui para definir
O futuro de seu filho
Catorze anos no exilio
Mas, comigo ele vai partir.

49
Levo também a senhora
Que é sua mãe tutora
Que só lhe ensinou o bem
A melhor das professoras
Ela e uma de nossas fadas
Que por nós foi designada
Pra ser dele a protetora.

50
Mandem trazer o rapaz
Aqui pra essa morada
Nós vamos ter que partir
Já na próxima madrugada
Vamos todos descansar
O transporte vai chegar
Bem antes da alvorada.

51
Podem ficar bem tranquilos
Antes de um ano ele volta
Chegará aqui bem casado
- Com quem será? Não importa
Eles estão predestinados
Tudo já está bem traçado
Não haverá mais revolta.

52
Quase as três da madrugada
Chega um transporte dourado
A força motriz, dois cavalos
Todos os dois eram alados
O Elmo, a Fada e o rapaz
Nem olharam para trás,
Parece que estarem atrasados.

53
Na velocidade de um raio
Aportaram na Carochinha
Quem os recebeu foram o Rei
Com sua filha e a Rainha
Princesa e o rapaz se olharam
Ambos estavam apaixonados
Pois a quimica eles já tinham.
54

Quem és meu caro mancebo; 
E o que vens tu fazer aqui?
- Venho de um lugar distante
A mão da Princesa pedir
Vim desposar sua filha
A princesa que mais brilha
E disso não vou fugir.

55
E a que Reino tu pertences?
- O reino do amor e da verdade
Reino onde se trabalha
Com bastante honestidade
Do reino dos homens fortes
Ninguém tem medo da morte
Praticamos a caridade.

56
De onde conheces a princesa?
- Tivemos o mesmo destino
Ficamos presos em masmorras
Desde os tempos de meninos
Por culpa de nossos pais 
Pois nos amavam demais
Quinze anos clandestinos.

57
Fomos criados sem pais
Em ambiente muito hostil
Perguntem para seus súditos
Se alguns deles já nos viu
Vocês só nos esconderam
Por medo ou por desespero
Criaram pra nós um covil.

58
Os monarcas então choraram
Pelos seus erros cometidos
Pediram perdão aos dois
Agora filhos queridos.
Os jovens ali se abraçaram
Juras de amor expressaram
Tudo tinha se invertido.

59
Então o Rei manda comprar
Todas as terras das cidades
As mais próximas da floresta
Como eles, onde a maldade
Sacrificaram seus filhos
Deixando-os ali no exilio
Só pra manter a vaidade.

60
No locas os jovens fundaram
o Reino da Boa Esperança
Seria um Reino novo
Onde reinaria a confiança
Na entrada principal
Estava escrito em um mural
QUEM ESPERA, SEMPRE ALCANÇA

61
Então os dois se casaram
Levaram consigo as fadas
Serias suas conselheiras
Durante toda a jornada
As três teriam o respeito
E aí de qualquer sujeito
Se alguma for molestada.

62
O Reino da Boa esperança
Cresceu muito e progrediu
Sobre a tutela dos jovens
Coisa igual nunca se viu
Os súditos estão satisfeitos
Neles não veem defeitos
E todo reino se expandiu.





 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 




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