quinta-feira, 19 de setembro de 2024

A MULHER QUE NÃO PEIDAVA

 

                                NIVALDO MELO

1
Essa é mais uma história
Contada por mina avó
É algo bem inusitado
Merece análise maior
Como pode um ser vivente
Ser assim tão diferente
Pensem, num quiproquó!

2
A mulher que não peidava
Não era assim diferente
Tinha olhos, tinha orelhas
E tinha todos os dentes
Tinha os cabelos compridos
E lábios bem definidos
Era gente como a gente.

3
Uma mulher brasileira
Nascida no interior
Criada no meio do mato
Era cheia de pudor
Cheinha de timidez
E garantia pra vocês
Dizendo nunca peidou.

4
Mas, como pode vovó,
Viver sem soltar um pum?
- Eu não sei lhes explicar
Não tem em livro nenhum
Um doutor lá da cidade
Com sua capacidade
Disse ser algo incomum.

5
Não é possível pessoal
Isto em um ser vivente
Peida o pai, peida a mãe
Peida o pastor que é crente
Até o Papa na sistina
Peida dentro da batina
Só pra peidar diferente.

6
Com certeza eu te afirmo
Ninguém vive sem peidar
É coisa da natureza
Eu duvido alguém negar
Se peida a noite e ao dia
João peidou, gritou Maria
Corre se não vãs cagar.

7
Mas tudo naquela mulher
Era bem fácil de notar
Tinha as pernas cangalha
Apenas para dificultar
A saidinha do pum
Difícil pra qual quer um
As duas popas afastar.

8
A bunda daquela senhora
Era muito avantajada
Até lhe deram apelido
De mulher carga pesada
Era algo muito estranho
Bunda daquele tamanho
Merecia uma palmada.

9
Tem que ter algum segredo
Dessa mulher não peidar
Fui perguntar ao marido
Só pra ele me explicar
- Desculpe meu camarada,
Sua esposa é tapada?
Ele disse; eu vou contar.

10
Sou casado há 20 anos
Dormimos na mesma cama
Há todo momento ela diz
E afirma que me ama
Mas quando eu falo de pum
Fica brava e de lundum
Até de corno me chama.

11
Imagine meu caro amigo
Eu sou um cara peidão
E eu faço sem ter medo
De provocar confusão
Mas um dia por malícia
Peidei na frente da policia
Me botaram na prisão.

12
Te digo, minha esposa
Nunca peidou para mim
Já pedi, só um peidinho!
Que vou fazer um festim
Ela ficou foi emburrada
E quis partir pra porrada
Passou três dias assim.

13
Até os animais soltam peido
Quem não peida é manequim
Eu acho que não existe
No mundo outra assim
Só pra peidar é fechada
Acho isso uma cagada
Peida aqui, fede em Pequim.

14
O peido lá no meio médico
Eles chamam flatulência
Eles chamam peido assim
Apenas pela decência
Nascem de gases metanos
Expelido só pelo anus
De cheiro cheio de essência.

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Essência de peixe podre
De carniça de defunto
Mas tem peido até cheiroso
Com cheirinho de presunto
Tem gente que até engarrafa
E outras que só abafa
E gostam que soltem junto.

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Ouçam o que a dita cuja
Revelou para uma amiga.
É que segurava o peido
Só pra provocar entriga
Dessa forma acostumou
E o seu bocal se fechou
Lá no final da barriga.,

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A amiga muito espantada
Como você prende o vento?
Ela respondeu sem medo
É questão de treinamento
Eu mantenho bem fechado
O meu anel corrugado
Somente pra o flatulento.,

18
Como podes ser feliz?
Perguntou a sua amiga
- Saiba que a felicidade
Tem nada a ver com a barriga
Quem não peida é feliz
Pois não deixa cicatriz
E nem provoca ferida.,

19
Vou te falar uma coisa
De dentro do coração
Eu fico só meditado
Porque essa preocupação
Nada disso me incomoda
As vezes falo; é foda
Parem com essa aflição.,

20
Por que tantos se incomodam
Se solto peido ou não?
Se tenho prisão de ventre
Pra que tanta confusão.
Até o vigário Nestor
Se reuniu com o pastor
Me puseram em confissão.,

21
Então eu fui obrigada
A sair de minha linha
Deixei o respeito de lado
E parti logo pra a rinha
“Faz que conta que ninguém viu
Vão pras putas que os pariu
Vocês são ervas daninhas”

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O meu orifício é tímido
E merece todo respeito
Nada vocês têm com isso
E não é nenhum defeito
Por que vocês, dois viados
Se sentem incomodados?
Isso é demais, não aceito.

23
só falta os dois se unirem
Pra falar com o delegado
Isso é mesmo de vocês
que são dois cabras safados
Os dois são muito escrotos
Especular o cu dos outros
Além de feio é pecado.

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- Padre e Pastor que fizeram?
Ficaram os dois, bem calados
Viram que estavam errados
De terem me provocado
Pediram pra mim desculpas
E os dois filhos das putas
Saíram dali bem arretados.

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E tem mais, minha amiga
Meu marido me perguntou
O que tinha acontecido
Comigo o padre e o pastor
Eu contei pra ele o fato
Ele pensou ser boato
E assim pra mim falou.

26
Estou contigo minha esposa
Nada por baixo dos panos
Ninguém tem nada com isso
Nem com você ou seu anus
Isto é de gente pequena
Aquela que envenena
Depois dizem; foi engano.

27
Mas a mulher que não peidava
Famosa estava ficando
A sua fama foi crescendo
Aos pouco se espalhando
Logo, logo ela chegou
Aos confins do exterior
Mas ela nem se importando.

28
Coisa boa é ser famoso
Falava assim seu marido
Por mais que seja discreto
Nada seu fica escondido
Se torna logo um artista
Sai em capas de revista
Onde passa é aplaudido.

29
Tem até quem se aproveita
Dessa fama repentina
Arruma um empresário
Só pra se achar muito fina
E sem nenhum desespero
Enche os bolsos de dinheiro
E se transforma em mufina.

30
E quando a fama lhe sobe
Direto para a cabeça
Abandona velhos amigos
já pensa que é condessa
E se você um dia precisar.
De alguém pra desabafar
Se for com ela; esqueça.

31
Mas nada disso aconteceu
Com a mulher que não peidava
A sua fama so crescia
Mas ela sempre falava
Estou fora meu amigo
Essa fama é um perigo
fica melhor como estava.

32
Um dia ela foi chamada
Pra fazer uma palestra
De primeira recusou
Dizendo, isso não presta
Eu não preciso de fama
Ainda não estou na lama
Sou uma pessoa honesta 

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Mas sua fama aumentava
Na Itália, França e Alemanha,
Dizem que  ela alcançou
na casa da mãe de Pantanha
Que fica no fim do destino
Do folclore nordestino
Quem é de lá não estranha.

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Falam que quem não peida
Nas tripas pode dar um nó
Aos pouco ela se definha
E afina como um cipó
Se transforma em fumaça
Perde logo a carapaça
Apela para o catimbó.

35
Mas aquela mulher tapada
Se comportava bem diferente
Por onde passava era brilho
Igual estrela cadente
E quem de fato a conhecia
Quando avistava aplaudia
Deixando-a muito contente.

36
Mas um dia e de repente
Algo começa a mudar
Pois o doutor Meropeu
Começou a contestar
Eu não consigo dar fé 
Nem acreditar em mulher
Que não consegue peidar.

37
Mandou buscar Mari Cleusa
É assim que ela se chama
Pra se tornar voluntária
Numa pesquisa bacana
Era apenas pra provar
Que mesmo sem estimular
Ela vai perder a fama.

38
Disse a nossa Mari Cleusa
Ser voluntária; jamais
só vou se tiver cachê
Já tenho fama demais
Coisa de graça não presta
Nem mesmo injeção na testa
Não sou besta, meu rapas.

39
As coisas praquela senhora
Tava ficando complicado
Então o doutor Meropeu
Apelou pra o delegado
Que disse; não me condis
Vá se entender com o Juiz
Que sabe o certo e o errado.

40
Ele tomou por pirraça
Aquele caso incomum
Teria que solucionar
Sem que causasse zum, zum
Mas o Juiz disse no entanto
Procure uma mãe de santo
Que seja filha de Ogum.

41
Mas nem nos arredores
Havia culto africano
Nem mesmo um centro espirita
Iria bolar outro plano
E foi falar com o vigário
Que disse não ser otário
Saia senão lhe esgano.

42
Então o doutor Meropeu
Entrou foi em depressão
Passava os dias chorando
Olhando sempre para oi chão
Uns diziam ser quizumba
Outros falavam macumba
Alguem comprou um caixão.

43
Duas semanas depois
O doutor foi enterrado
Junto do corpo encontraram
Em um bilhete grafado
Morro sem aquele xero
De um peido sem tempero
Nem que fosse engarrafado.

44
Com aquele fato acorrido
Sem nenhuma explicação
Houve um grande vuco-vuco
Foi mesmo uma confusão
O velho Padre Pompeu
Quase que virou ateu
Mas a Deus pediu perdão.

45
Mas como em todo lugar
Existe alguém de bom senso
uma velha e bondosa beata
Deixa o problema em suspendo
Bateu com força na mesa
E falar com a maior clareza
Vou dizer tudo que penso.

46
A senhora Mari Cleusa
Garanto que não ser tapada 
Devido ser muito tímida
Ela só peida trancada
Em um local que é só seu
Lhe digo, padre Pompeu
Ela peida é na privada.

47
E vou lhes dar a certeza 
Isso não é nada ruim
Vou revelar meu segredo
Eu também precedo assim
Só meu marido sabe disso
Comigo tem compromisso
Só flatulo em meu camarim.

48
Mas a bondosa senhora
Apenas para amenizar
Inventou aquela estória
pra Mari Cleusa se safar
De toda aquela fofoca
Que um boato provoca
Contado em mesa de bar.

49
Dessa forma se aproximou
dá Mari Cleusa amiga
Falou pra ela baixinho
Vamos acabar com a entriga
Temos que falar a verdade
Te peço por caridade
Pois peidar é coisa antiga.

50
Deve existir algum médico
Que seja um especialista
Em matéria de flatulência
E que não seja golpista
Vamos sair pra procura
Só voltamos se encontrar
Um doutor Psicologista.

51
Mas Mari Cleusa se irritou
Com toda aquela baboseira
Não tem médico Peidologista
Mesmo que só você queira
E não vou levantar minha saia
Apenas para servir de cobaia
E expor minha traseira.

52
Eu já tenho a solução
Vou resolver a parada
Vocês vão se surpreender
Vai ser nessa madrugada
Vou dar o grito de liberdade
Acordarei toda cidade
A coisa vai ser revelada.

53
Contratou um trio elétrico
E foi para o meio da praça
Gritou no tom mais alto
Hoje aqui vai ter desgraça
Quero todos reunidos
Ninguém fica escondido
Vai ser um evento massa.

54
Começou o seu discurso
Gritando em alto e bom tom
Pessoal eu tenho um cu
Garanto-lhes; é muito bom
Mas por questão de educação
Eu imponho restrição
Tenho isto como um dom.

55
se é peido que vocês querem
São peido que vocês terão
Liberarei agora o primeiro
Sobre esse caminhão
- E com um gesto tresloucado
Põe o fone bem no rabo
Soltou aquele trovão.

56
Foi uma zuada tremenda
Que abalou toda cidade
Apagaram-se as luzes
Por falta de eletricidade
Quem dormia, acordou
E com o medo se cagou
Ela gritou - LIBERDADE!

57
E a Mari Cleusa passou
O dia inteiro peidando
Em cima do trio elétrico
Pela cidade rodando
Parou no meio da rua
Tira a roupa, fica nua
Pra ela, estava brincando.

58
Da nudez ninguém se importou
Por ser um fato bem normal
Porque foi em pleno domingo
Que abria o nosso carnaval
Ninguém ali sentia tristeza
Pois os peidos de Mari Cleusa
Era de uma orquestra genial.

59
Fizeram um grande painel
Na entrada da cidade
SEJAM BEM VINDO A JEGUEPUBI
PODEM PEIDAR A VOTADE
AQUI PEIDAR É NORMAL
LIBEREM O VELHO BOCAL
SINTAM-SE BEM A VONTADE.

60.
E no calendário turístico
Criaram um grande evento´
Concurso de flatulência
Cujo prêmio é um jumento
Para o segundo colocado
Ganha um peido engarrafado
Das freirinhas do convento.




1

Ess

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