terça-feira, 13 de agosto de 2024

A I L H A

 

          
                        NIVALDO MELO


1
Passamos mais de dois meses,
Sem ouvirmos uma história
Então ficamos pensando
Vovó perdeu a memória
Apelamos pra o vovô
Pra ser nosso intercessor
Pra nós seria uma gloria.
2
Ele nos deu um sorriso
Nos disse; eu vou tentar
Minha véia está cansada
Mas eu vou a motivar
E saiu bem de mansinho
Em seus passos miudinhos
Pra nossa vó encontrar.
3
Demorou alguns minutos
Pra nós uma eternidade
Saiu fingindo de triste
E disse; dando rizada
Hoje depois do jantar
Temos história pra contar
A noite lá na calçada.
4
Foi aquele alvoroço
Verdadeira euforia
Abraçamos nosso avô
Demonstrando alegria
Vamos por bolo na mesa
Vamos fazer uma surpresa
Na noite daquele dia.
5
A noite lá na calçada
Éramos muito mais de dez
Enquanto nós esperávamos
Vovô lia seus cordéis
,Um verdadeiro poeta,
Aquele velhinho careca
Com todos nós a seus pés.,
6
Por volta das nove horas
Surge vovó no umbral
Chegando lá na calçada
De um modo triunfal
- Parabéns rapaziada
Estou aqui emocionada
Com os aplausos geral.
7
Por isso vou lhes contar
Uma história bem bonita
A história de uma ilha
E que nunca foi escrita
E apontou pra o vovô
Foi ele quem a criou
De uma forma erudita.
8
E o bolo vovozinha
Que horas vamos provar?
Primeiro eu conto a história
Depois que ela acabar
Nós vamos lá para a mesa
Provar da nossa surpresa
Com suco e guaraná.
9
Então puxou a cederia
Sentou na frente de nós
Antes limpou a garganta
E temperou bem a voz
Cantou uma bela canção
Ao som de um violão
Era um dueto de avós.
10
Aquilo era fato inédito
Ver os dois cantarem juntos
Foi algo emocionante
Motivo de novos assuntos
Algo de grandes emoções
Tocou nossos corações
Formavam um belo conjunto.
11
Ao terminarem a música
Vovó começa a contar
A história de uma ilha
Que tinha no Rio Mar
Era um rio muito largo
E a margem do outro lado
Não dava pra avistar.
12
Era uma ilha estranha
Sem arvores, era deserta
Apenas se viam pedras
Como se fosse floresta
Estavam bem arrumadas
Bem divididas em quadras
Mas ela ninguém acessa.
13
As vezes estava encoberta
Por intenso nevoeiro,
As vezes duravam horas
Outras vezes dias inteiros
Mas ninguém tinha coragem
De chegar em suas margens
Pois o rio era traiçoeiro.,
14
Tinha um redemoinho
Que levava tudo ao fundo,
Esse era o grande motivo
De por medo em todo mundo
Quem foi lá nunca voltou
Mas quem foi e escapou
Dorme um sono profundo.
15
Mas tudo tem um motivo
Pra justificar a vida
Aquilo que e um folclore
Pode ser somente intriga
Só está faltando alguém
Pra dizer tudo o que tem
E comprar aquela briga.
16
Na cidade ribeirinha
Tinha poucos habitantes
Em torno de uns três mil
Todos com vidas brilhantes
Com boa religiosidade
E assim toda cidade
Amavam seus semelhantes.
17
Bem próximo a beira do rio
Morava um casal feliz
Tinham uma única filha
Seu nome Ana Beatriz
Menina muito inteligente
Mas de modos diferente
Divergia da Matriz.
18
Tinha sonhos esquisitos
Que contava para os pais
Se sonhava com alguém
Isso era bom demais
Dizia então pra o sonhado
Você vai ser premiado
Isso vai ser logo mais.
19
Dois ou três dias depois
O que disse acontecia
E o chamado sonhado
Pulava de alegria
Uns recebiam presente
Outros herança de parente
Ou ganhavam na loteria.
20
Um dia ela teve um sonho
Com os pais, e disse assim
Temos que mudar para a ilha
Quero que creiam em mim
Tudo pra nós vai mudar
Se formos lá pra morar
Lá tem riqueza sem fim.
21
Como pode, naquela ilha
Nada tem pra oferecer
Só vemos pedras e seixos
Não tem água pra beber
É inóspito, e muito quente
Nada de bom para a gente
Não vamos sobreviver.
22
Lá as paredes são íngremes
Não tem lugar pra aportar
Tem o tal redemoinho
Esse não dar pra aceitar
Pode sonhar outro sonho
Que seja menos bisonho
Então nós vamos pensar.
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Papai! Do outro lado da ilha
Existe um lugar legal
Quando o rio estiver baixo
No sonho mostra o local
Tem uma espécie de buraco
Bem no pé de um penhasco
É a entrada principal.
24
Vamos ter que chagar por lá
Em um dia de nevoeiro
Daqueles que esconde a ilha
Em seu modo por inteiro
Nesse dia vamos partir
Nem vamos nos despedir
Pra não causar desespero.
25
Prepare o barco velho
Que está lá no quintal
No sonho eu vejo que
Tudo vai ser bem legal
Nada de mantimento
Lá vamos ter unguento
Nada pra nós vai dar mal.
26
Dois dias antes de irmos,
Seremos todos avisados
Teremos o mesmo sonho
,Vamos ficar bem calados
Ninguém poderá saber
O que vai acontecer
Se alguém falar dá errado.
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Na quarta onze de agosto
Quando tudo aconteceu
O sonho que esperavam
Naquela noite se deu
Dia treze desse mês
Estamos esperando vocês
Minha família e eu.
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Quando os três acordaram
Foram logo pra o quintal
Fazer revisão no barco
Se estava tudo legal
O barco estava coberto
E não tinha nada por perto
Tudo muito natural.
29
Ana Beatriz então falou
Alertando os seus pais
Temos que estar convictos        
Retroceder não dar mais
Vamos olhar para a frente
Com muita fé no presente
Lá viveremos em paz.
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E como estava escrito
Começou a serração
Em seguida o nevoeiro
Cobriu aquele rincão
Por volta de uma hora
Puserem o barco pra fora
Seguiram sem desespero.
31
Quando chegaram ao rio
Algo lhes aconteceu
Como se fossem abraçados
A névoa os envolveu
Um abraço carinhoso
E um cheirinho gostoso
Logo, logo os envolveu.
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Não tinha leme nem velas
Aquela velha embarcação
Singrou ao sabor do vento
Seguindo na direção
Que o destino lhes traçou
Depois que a jovem sonhou.
Era grande a emoção.
33
O barco começa a navegar
Com destino ao já traçado
Em menos de duas horas
Já estavam atracados
Tudo que a menina falou
No local que ela indicou
Agora está consumado.
34
Entraram pelo buraco
Que não era uma caverna
Era como um portal
Encravado ali na terra
Olharam, viram uma escada
Um pouco encaracolada
Mas segura e bem moderna.
35
Cada degrau de uma cor
Bem pintado e reluzente.
No momento uma voz falou:
Sigam direto para a frente
Não pulem nenhum degrau
Alguém pode se dar mal
Falta um elo na corrente
36,
Então o pai respondeu
A família tá toda aqui
A corrente está completa
Elos inteiros sem partir
Está faltando o Partido
Tá lá no barco escondido
Pois não tinha aonde ir.
37
Era o cão perdigueiro
Xodó daquela menina
Que ela o tinha adotado
Quando era pequenina
Era um cão muito fiel
Que sempre fez seu papel
De guardião da bambina.
38
Quando olharam para traz
Partido estava presente
Com a maior rapidez
Se colocou bem a frente
A partir daquele instante
Era ele o comandante
Muito forte e imponente.
39
Chegaram ao topo da escada
O pai ficou deslumbrado
Aquelas pedras rochosas
Eram arvores pra todo lado
Com muitos frutos e flores
Com néctares de mil sabores
Era um Reino encantado.
40
Todos estavam extasiados
Ali, naquele momento
O cão abanava o rabo
Mostrando contentamento
E naquele momento então
Lhes surge o Anfitrião
Com um sorriso de alento.
41
- Boas-vindas para todos
Sou eu o proprietário,
Dessa Ilha tão pequena
Aqui eu fiz meu berçário
Vamos todos morar juntos
Trabalharemos em conjunto
Tornamo-nos signatários.
42
Quero que vão descansar
Da viagem cansativa
- Saímos da costa há pouco
Nossas mentes estão ativas
- Viajaram uma semana
É que o nevoeiro engana
Até a pessoas nativas.
43
Então eles se recolheram
Aos aposentos indicados
Pensaram que dormiram pouco
Logo estavam acordados
Dormiram só por três dias
Com corpos e almas sadias
Logo os três serão testados.
44
Comeram o manjar dos deuses
Foi a grande sensação
Degustaram muitos frutos
Com gosto de camarão
Flores com gosto de leite
Outras sabor de azeite
Frutas com gosto de pão.
45
- Vão conhecer nossa Ilha
Podem andar a vontade
Caminhem por nossas ruas
Tudo que verem, é verdade
Arvores, aves e animais
O que verem são reais
Não verão iniquidade.
46
Percorreram toda a ilha
Em pouco mais de uma hora
Observaram muitas pessoas
Que usavam uma estola.
De cores bem diferentes
Dessas que deslumbra a gente
Homens, crianças e senhoras.
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Outro fato que notaram
As pessoas não andavam
Nunca deixariam rastro
Pois elas só flutuavam
Todas elas muito amáveis
Muito educadas, afáveis
Mas nunca eles falavam.
48
Eles os viam conversando
Sem emitirem um som
Mas todo mundo entendia
O papo era muito bom
Todos ali se divertiam
Demonstrando alegria
Tudo em moderado ton.
49
Voltaram bem curiosos
E queriam se informar
Mais quais animais são esses,
Que vivem nesse lugar?,
- Os da terra são Trampões
Vindos dos planetas anões
Foi lá que fomos buscar.
50
E as aves tão vistosas
Que vemos sempre a voar
- Elas são todas Gayryzyas
Vindas da Galáxia antar
Após o planeta Plutão
São aves de arribação
Voam sempre e sem parar.
51
As arvores de onde veem?
- De planeta bem distante
Lá elas são conhecidas
Como as plantas falantes
São do planeta desconhecido
Ele fica sempre escondido
Por traz do cometa andante..,
52
E todas aquelas pessoas
Que estão usando estolas?
- São os nossos professores
Chamados de Mestricolas
Cada um vem de um bioma
Falam muitos idiomas
Qualquer mente ele controla.
53
Mas são todos muito jovens.
- Aqui ninguém envelhece
Todos têm mais de cem anos
Porque ninguém tem stress
Sempre usamos só a mente
Nos apegamos ao presente
E isso nos robustece.
54
Vocês vão logo aprender
Falar as línguas galáxiais
Receberão suas aulas
Em formatos virtuais
Em um modelo telepata
É a forma mais exata
Sem aulas presenciais.
55
Que vão fazer com o cachorro
Nosso fiel, cão Partido?
- Existirá uma nova espécie
Pra isso foi escolhido
Quando houver a junção
Com uma fêmea de Plutão
Seu nome será mantido,
56
Estávamos só aguardando
Quais seriam os escolhidos
Vocês foram agraciados
Hoje estão todos ungidos
Em breve temos que partir
Nova missão a cumprir
Para o desconhecido.
57
E quando iremos partir?
- Logo que faça bom tempo
Do céu virá um aviso
Para usarmos o unguento
Sairemos perfumados
E estaremos abençoados
Para um novo evento.
58
Ao termino daquele dia
Alguém, bem alto falou
Todos vão se preparar
O momento já chegou
Sigam todos os protocolos
Nosso destino é Angolos
O planeta do amor.
59
Chegaremos em Angolos
Em vinte e dois anos luz
Ele está localizado
Depois das estrelas azuis
Segundo as informações
Lá ouviremos canções
Cantadas pelos Ziluz.
60
E com um céu de brigadeiro
A névoa se dissipou
Todo povo ribeirinho
Ouvi quando alguém gritou
Está na hora da partida
Numa viagem só de ida
Adeus para quem ficou.
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Alguns ficaram perplexos.
Teve alguém que aplaudiu
Um gritou: E nossa Ilha?
- Estava ali, mas sumiu!
Todos olharam para o céu
E em nuvens como um véu
Aquela ilha subiu.
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No lugar ficou apenas
O velho redemoinho
Hoje só existe a lenda
Contada por ribeirinhos
Da ilha resta a saudade
Praquela comunidade
Que sem Ilha estão sozinhos.




 




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