sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

É MUITO BOM SER POLITICO


É MUITO BOM SER POLITICO!
Nivaldo Melo

Quando o João que era honesto,
Resolveu virar ladrão;
Foi um tremendo alarido;
Pense numa confusão!
A família o apoiou,
E todo mundo gritou:
Vamos ajudar nosso João!

Pensem em um cara arretado,
Era o modesto João;
Sabia fazer amigos,
Pra todos era um irmão.
Respeitava os velhinhos,
Dava-lhes muitos carinhos.
Cara de bom coração.

No local onde morava
Sempre obteve respeito,
Da decisão que tomara
Voltar; não tinha mais jeito.
Seria sim candidato,
Queria ter um mandato.
Era o sonho do sujeito.

João filiou-se a um partido;
Preparou o festival.
Leu livros e apostilhas,
Para nunca se dar mal.
Aprendeu algo de novo:
Como enganar o povo,
E sempre sair na moral

E aprendeu direitinho
Como a coisa funcionava.
Prometia mundos e fundos,
E disso o povo gostava.
E todos que o conheciam,
Onde ele ia o seguiam,
O João; falava, falava.

Meu povo. Vocês me conhecem,
Sabem que honesto eu sou
Quando eu chegar lá em cima
Serei o seu protetor
Trabalharei todos os dias
Só lhes trarei alegrias
Porque sou trabalhador.

João procurou um ricaço,
Pra ser o patrocinador,
De toda sua campanha;
E logo, logo encontrou.
Indicação do partido;
Um cara bem sucedido,
Foi assim que começou.

O partido deu-lhe um livro,
Pra ser lido e decorado.
Lá estrava bem escrito,
Pra ser bem observado.
Tudo que você ganhar,
Tem que conosco rachar;
É esse nosso legado.

O que o partido disser;
Fazer de olhos fechados,
Se você fugir das normas;
O mandato é cassado.
Vai voltar a ser honesto,
Não adianta protesto.
Tá testado e aprovado.

Você vai ter que fazer
Projeto em cima de projeto;
E gritar lá na tribuna
Que é politico correto.
E quando o povo cobrar,
Você vai ter que mostrar;
Quem manda é que pôs o veto.

Ponha em casa um escritório
Pra receber eleitor;
Que vem somente pedir
E lhe chamar de doutor.
Você tem que está sorrindo,
E o povo lhe aplaudindo;
Vás te tornar professor!

Também vai ter que existir
Uma sala, um “COMITÊ”;
Um local bem colorido
Que vai lhe favorecer,
Ponha umas moças bonitas,
Cheias de laços de fitas,
Para eleitor receber.

João; tudo aprendeu direito,
E começou a campanha.
“Comigo o povo não perde”
“Aqui o povo é quem ganha”
Preciso de sua ajuda,
Quero que Deus me acuda,
Que lá, eu vou por vergonha.

Quando recebeu a grana
De seu financiador,
Disse: como dinheiro é fácil!
Foi aí que se enganou.
O partido apareceu,
E metade do que recebeu;
Logo o partido papou.

João continuou a campanha
Apoiado por parentes;
Que esperavam um dia,
Ser dele seus assistentes.
Trabalhariam no começo,
E se não houvesse tropeço,
Mamariam eternamente.

E depois de muita luta,
Eles elegeram o João.
Assim entrou na política,
Que chamou de profissão;
Esqueceu que era honesto,
Também que era modesto,
E se afastou o povão.

Com um ano ele já tinha:
Uma Kombi, um trator,
Um carrão para passeio,
Esse carro ele blindou.
Um Honda para a mulher;
Esse veio com chofer.
A família ele alegrou.

Para o primo deu uma moto,
Um emprego bom pra o irmão.
E falou: logo em breve
Comprarei um avião.
Disse: Quem vive de salário;
Ou é doido ou é otário;
Mas comigo: não dá não.

A Kombi pintou de branco,
Pôs uma cruz encarnada;
Pra carregar os doentes
De dia ou de madrugada.
Escreveu por todo lado:
Presente do Deputado;
Pode dispor “macacada”

O trator era pra serviço,
De limpeza de terreno.
Sempre em terreno grande,
Nunca em terreno pequeno.
Pra colocar invasor,
Pra isso serve o trator.
É só pedir. Eu ordeno.

Quando se fala: salário?
- É pequeno pra cacete!
O que salva realmente,
São verbas de gabinete,
Tem verba pra todo lado,
Até fico atrapalhado;
Jogo em baixo do tapete.

Tem verba pra paletó,
Verba para moradia,
Verba para viajar,
Verba pra diplomacia,
Tem verba para votar,
Tem verba pra rejeitar,
Essa eu ganho todo dia.

Se o projeto vem do lado
Do povo da oposição;
Aí a verba é dobrada,
Pois tem que ter discussão.
E se a gente faz emenda,
Então aumenta a contenda,
A grana vem de montão.

Com dois anos João comprou
Até um apartamento,
Com varanda para a praia
Que fica a favor do vento.
Comprou ate uma lancha,
Hoje já tem ate prancha,
Pra surfar em qualquer tempo.

Como mudou o João;
Hoje esta na mordomia.
Trabalhar mesmo é ruim!
Na semana só um dia.
Ele acha isso demais,
Pois assessor é quem faz;
O papel que ele faria.

Os projetos do João
São todos engavetados,
O partido tem pra o João,
Um lugar bem reservado.
Na próxima será reeleito;
Pois mesmo tendo defeito,
É um cara abnegado.

João perdeu a identidade,
E tudo que aprendeu.
Os ensinamentos dos pais;
Tudo, tudo feneceu,
Honestidade, conceito,
O caráter e o respeito.
Não se lembra; esqueceu.

Hoje pra falar com o João,
Tem que marcar a consulta.
Um bando de baba ovo,
É quem provoca a disputa.
O João coitado escondido,
Agora é conhecido;
Como “JOÃO FILHO DA PUTA”.

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