terça-feira, 1 de janeiro de 2013

O Enterro do Anão




E quando ele morreu
Foi um tremendo alarido
Uns choravam outros riam
Pois era muito querido
Morreu o ídolo da cidade
Mas digam por caridade
Como ele foi atingido?

Ele morreu de repente
O que não era esperado,
O “pingo preto” amigo
Era um cara afamado
Mesmo daquele tamanho
Não era um cara estranho
Era um cara muito amado.

Tinha mais de um apelido
Com todos se dava bem
Uns chamavam-no de “pivete”
Ou chamavam-no “vintém”
Pra outros; “pequenininho”,
E uns chamavam “baixinho”
Mas a todos atendia bem

Tinha sempre um sorriso
Que alegrava demais
Principalmente as senhoras,
Menino, idoso ou rapaz,
Estava sempre contente
Alegrando sempre a gente
O “pequeno” era demais.

Não se sabia de onde
O “pirralho” apareceu.
Só sabemos que um dia,
Ali, atrás do museu,
Uma coisinha miúda
Vestido só de bermuda
Gritava sou pigmeu!

Todos correram pra lá,
Gritando isso é milagre!
Uns correram pra igreja,
E foram buscar um frade.
Que disse vamos rezar
Eu vou benzer o lugar
E vamos cercar com grade.

Criaram um novo lugar,
Ao lado de Santo Antão.
Vamos elegê-lo santo,
Chamar-se-á Santo Anão.
E onde ele vai morar?
Digam-me em qual lugar?
Vou morar com o sacristão.

Foi a primeira pessoa,
Diferente no local;
Era tão pequenininho,
Que parecia irreal
Pra ele deram carinho
Tratavam-no de dengosinho,
Era bastante legal.

Uns ficavam estupefato
Só, em apenas vê-lo,
Outros estavam em transe,
E ficavam de joelho
Mas todos tinham certeza
Que a obra da natureza
Tinha mandado um espelho

É que os habitantes locais
Tinham pelo baixote carinho,
Porque aquele anão
Era pra todos, um filhinho
Um filho bem permanente
E sempre estaria presente
Mas sempre pequenininho..

É que os homens não sabiam
O que estava acontecendo,
Todos da cidade viam,
A população ia crescendo.
Só tinha mulher buchuda
Mesmo aquela que era muda
Via a barriga enchendo.

A velha Sá Joventina,
Que tinha mais de setenta,
Estava ate conversando
Com a filha da dona Benta
Que foi falar com o doutor
Por causa daquele ardor,
Que parecia pimenta.

E onde é asse ardor?
Perguntou logo a comadre.
É entre as pernas mulher!
Então vai falar com o padre,
Mas eu já sei o que é
Já confessei pra frei Zé
Antes que ele me enquadre.

Então já esta resolvida,
A tua situação?
Só daqui a cinco meses
Na festa de são João.
Vai nascer mais um menino
Que será o meu bambino.
Espero, não seja anão.

Eu também estou buchuda,
E mais a tia Raquel,
Tem também a Margarida,
E a viúva do Miguel,
A Quitéria, a Sofia,
Aurora, Julia, Maria,
E a que apanha papel.

Sem se falar a Judite
Que esta com sete, mês,
A barriga de Antonia
Parece que vai ser três
Ainda tem a Edite,
Tem a Sheila e a Clarice
Que são da primeira vez.

Da Matilde é o segundo
Como também a Aurora,
Jacinta, Penha e Jaci,
Clara, Cristina e Vitoria,
Marluce, Vanda, Cristina,
Até a mãe da Sabina,
Fazem parte da historia.

Lá no colégio a freira
Esta ficando bem feliz
Falou pra superiora
Que é a madre Beatriz
Ela esta só esperando
E o momento chegado
Vai nascer lá na matriz

Não sabem que como ela,
Tem mais cinco esperando,
Ate nossa camareira,
Olha a cintura engrossando
Ouvi a Abadessa falar:
Do jeito que a coisa estar,
Vou terminar me enforcando.

Que esta acontecendo?
Perguntou seu Malaquia,
Se isso é uma doença
Acho até epidemia,
O boato tava correndo
E só o padre sabendo
Falar; ele não podia.

Ele sabia de tudo.
Por que lá na confissão,
As mulheris iam contando,
O que fazia o anão.
O padre sai de fininho,
Foi só pedir pra o baixinho.
Ensinar-lhe a lição.

E foi naquele momento,
Em que tudo aconteceu,
Ao saber pelo vigário,
Que seu mundo pereceu.
Foi pra terra de pés juntos.
Transformou-se em defunto
Foi assim que ele morreu.

Deixou mais de cem viúvas
Todas sem eira nem beira,
Por isso elas choravam
Porque caiu na asneira
Do bom papo do baixinho
Que fazia só minininho
Tudo em tom de brincadeira.

Naquele enterro festivo
No domingo bem cedinho
Só se falava das aventuras
Vividas com o baixinho
Ninguém estava entendendo
O que todos estavam vendo
O sorriso do anãosinho.

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