segunda-feira, 4 de abril de 2011

A casa de dois pavimentos


Novamente estava ele, aguardando os primeiros raios de sol, como fazia todas as manhãs nas ultimas duas semanas; era para ele um verdadeiro martírio, mas o resultado daquela grande espera era como um bálsamo que aliviava todas as suas tensões.
Havia sido transferido da cidade onde estivera lotado durante dois anos, mas como estavam precisando de uma pessoa para assumir a direção naquela cidade, e ele com sua competência demonstrada por varias vozes, foi a pessoa ideal para assumir aquela função; devido ao afastamento do titular por motivo de aposentadoria.
Era ainda bastante jovem, havia terminado o curso a pouco mais de três anos, mas era sua vocação, e tudo que fazia era de um esmero fora do comum, as pessoas com as quais mantinha contatos diários julgavam-no uma pessoa integra e bastante responsável, cumpria suas tarefas sempre com um aspecto feliz, na realidade era exatamente aquilo que ele queria e gostava de fazer.
À noite, ao deitar, fazia uma retrospectiva do que havia feito durante o dia, e planejava tudo que deveria fazer no dia seguinte. Antes de dormir tinha o costume de folhear e ler algumas páginas de seu livro preferido, já o havia lido varias vezes, mas a cada investida na leitura, descobria que tinha muito mais que aprender, e que a vida por certo seria um dos mestres nessa jornada de aprendizado.
Sua suíte estava localizada no segundo andar do prédio principal, de lá ele podia observar grande parte da cidade; a sua frente estava a praça central, com jardins bem cuidados, e flores perfumavam as manhãs daquela cidadezinha, que era bem diferente da que tinha vindo, logo mais a frente, de sua janela ele podia ver o rio que passava circundando a cidade, águas claras e mornas, um convite à garotada local que brigavam e tomavam banho. A sua esquerda pequenas casas, todas pintadas de novo,algumas com duas janelas na frente, e outras com janela e porta, era típico de cidade do interior, e a sua direita, a única casa com dois pavimentos, e quando ele parava para observar uma casa tão bonita não sabia o porque; mas algo o deixava preocupado.
E foi assim que depois de um mês no local, já conhecia quase todas as pessoal do local, exceto as que moravam na casa de dois pavimentos. A mesma passava a maior parte do dia com as janelas fechadas, mas ele sabia que havia pessoas morando ali, isso porque todas as noites as lâmpadas estavam acesas, e ele podia ver silhuetas de pessoas em movimento dentro da casa.
No final de semana foi apresentado as pessoas daquela casa, eram um senhor de idade um pouco avançada, e sua esposa uma jovem que aparentava ter metade da idade do marido, ambos deram as boas vindas para ele, e o convidaram para jantar, qualquer dia desses em suas residência.
A partir daquele dia tudo mudou na vida daquele jovem, ele passou a observar mais a casa de dois pavimentos, e procurar distinguir dentre as silhuetas quem era ele ou ela, e pela manhã ficava na expectativa de quem iria aparecer primeiro na janela, e ali passava minutos a fio esperando a aparição tão desejada, não sabia o porquê, mas sem querer durante a noite estava observando de dentro de deu quarta, a casa.
Ate que uma manhã de uma das janelas foi aberta uma cortina, e ali apareceu a figura tão esperada, “ela” a moradora da casa de dois pavimentos.
E assim, durante as duas ultimas semanas no mesmo horário, vestindo um roupão quase transparente, bem em frente a janela com um sorriso maroto nos lábios, acenando e fazendo movimentos ondulatórios provocantes para ele, estava a figura daquelas mulher que agora é o motivo da todas as angustias matinais do jovem padre
Bernardo.

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