O JUMENTO CANTOR
Nivaldo Melo
1
Alguns fatos acontecem
Durante a vida da gente
Alguns nos trazem tristezas
Outros nos deixam contentes
Vou lhe passar um cordel
Escrito nesse papel
Um causo bem diferente.
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Nada de imaginação
Isso é um fato real
Não me chamem mentiroso
Nem mesmo cara de pau
É que sem nenhuma maldade
Mentira vira verdade
Sem que cause nenhum mal.
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Portanto prestem atenção
Em tudo que escrevo agora
Façam isso com carinho
Independente da hora
Juntem pessoas ao lado
Pra que fique registrado
Lá nos anais da história,
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Foi nas terras do Boi morto
Nos confins do interior
Na fazenda do seu Bento
Um homem trabalhador
E lá nasceu um jumento
De corpo todo cinzento
Que foi batizado Cantor.
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Esse nome foi lhe dado
Por algo bem diferente
Na hora do nascimento
Todos que estavam presente
Ouviram ele zurrar
Uma canção popular
De forma eficiente.
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Zurrou apenas uma vez
Essa canção popular
Foi coisa de botar medo
Em quem estava no lugar
Alguns saíram correndo
Por medo, até esquecendo
Se negando a comentar.
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Os poucos que ali ficaram
Fizeram um juramento
Que jamais comentariam
A sensação do momento
Pra evitar gozação
Esqueceriam a canção
Cantada pelo jumento.
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Os dias foram passando
O jumento ia crescendo
Mas algo de muito estranho
Nele estava acontecendo
Seu corpo que era cinzento
Logo naquele momento
Tinham listas aparecendo.
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Eram listas desenhada
Em apenas uma cor
De formas delineadas
Que causavam algum clamor
Todo povo da cidade
Pensavam em calamidade
Mandada pelo Senhor.
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Mas pro dono do animal
Não havia nenhum risco
A mãe do bicho cruzou
Com o zebra lá do circo
Todos vão se acostumando
Pois o bicho tá zebrando
Ninguém tem nada com isso.
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Antes da maior idade
Já tinha cor definida
Com listas pretas e cinzas
Desfilava na avenida
Não era zebra nem burro
Zurrava só de sussurro
Assim era sua vida;
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O asno fez amizade
Com animal que cantava
Galo, peru e pavão,
Deles se aproximava
Ensinavam-no a solfejar
Só música bem popular
Que todo povo gostava.
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Seu amigo e professor
Foi um velho Sabiá
Que junto com o curió
Faziam o burro ensaiar
Cantigas de todos os tipos
As de versos mais bonitos
Eruditos ou popular.
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Com pouco mais de um ano
Já era adulto o Cantor
Quando pastava no campo
Solfejava sem temor
Fazia isso sozinho
Zurrava sempre baixinho
Algumas canções de amor.
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E nas terras do Boi Morto
Na fazenda de seu Bento
Reuniam-se as famílias
Só pra ouvir o jumento
Que tímido como um garoto
Cantava sempre um pouco
Apenas por um momento.
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Não falava uma palavra
Mas se fazia entender
Solfejando as canções
Era seu maior prazer
Erudita ou popular
Pediam pra ele cantar
Sem direito de escolher.
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E com o passar dos dias
A timidez foi embora
E o jumento cantava
Independente da hora
Solfejava com ardor
Belas canções de amor
Dos velhos tempos de outrora
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Todo começo de noite
Logo que a lua surgia
Nosso cantor caminhava
E lá no morro surgia
O povo ficava esperando
Para ouvi-lo solfejando
De Gounod; Ave Maria.
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Era um tremendo alvoroço
Muitas vezes confusão
O povo se emocionava
Ouvindo aquela canção
Uns gritavam outros choravam
E o Cantor só zurrava
Fomentando a emoção.
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Aos pouco nosso Cantor
Foi ficando afamado
Quando havia alguma festa
O asno era convidado
Do início até o final
Era o cantor principal
Que era mais badalado.
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E com isso o velho Bento
Já mudou de opinião
Deixa logo a agricultura
Já tem outra profissão
Triplicou o seu numerário
Passou a ser empresário
Do jumento nosso irmão,
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Vendeu a sua fazenda
E foi morar na cidade
Passou a viver só as custas
De um cantor de verdade
Construiu uma estribaria
Onde o jumento vivia
Mas o povo achou maldade.
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Logo ensinou ao jumento
O Hino Nacional
Pra impressionar os políticos
Não somente do local
Ele queria era fama
Pra tirar o pé da lama
Explorando o animal.
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Recebeu muitos convites
Pra aparecer na TV
Quando surgia no palco
Era aplauso pra valer
Imaginem o que é
Ser aplaudido de pé
Sem ter direito ao cachê.
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Quem ficava com a grana
Era Bento o empresário
Que falava para todos
Não pensem que sou otário
Sou dono do animal
Meu ganha pão principal
Ele paga meu salário.
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Nas festas de casamento
Na igreja ou no campal
Contratavam o Cantor
Com solfejo de cristal
Pra executar o momento
Daquele acontecimento
A marcha nupcial.
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Já nos festejos de Momo
No baile municipal
Pra cantar frevo ou samba
Ninguém fazia igual
Ele comandava a festa
Nem precisava orquestra
Ele era o carnaval.
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O prêmio para o Cantor
Era o reconhecimento
Não existia prestígio
Maior que o do jumento
Padre, prefeito, delegado
Deixavam o poder de lado
Prestigiavam o talento.
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Nas festa religiosas,
No meio das procissões
Estava lá o jumento
Solfejando as orações
Solfejava apenas hino
Era um momento divino
Aumentando as devoções.
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E na missa do domingo
Quem comandava o coral?
Era o asno cantador
Em cima de um pedestal
Bem na frente do altar
Pra todo mundo olhar
Nosso astro principal.
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Os fieis cantavam os hinos
O jumento solfejava
Uma sintonia perfeita
Parece que ensaiava
Sem órgão e sem piano
De um modo muito sano
Todo povo festejava.
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Nos culto dos evangélicos
Da Igreja Universal
O pastor é que vibrava
Lá no púlpito principal
Gritava para os obreiros
Arrecadem o dinheiro!
Era um sucesso total.
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Mas nem tudo era flores
Para o jumento Cantor
Tava ficando cansado
Pois a vida sem amor
Pra ele era sem sentido
Pois vivia escondido,
Por medo de seu tutor.
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Quando estava na fazenda
E ninguém o conhecia
Nosso cantor namorava
As jumentas que queria
Cantava pras namoradas
Muitas canções de balada
Que muito bem conhecia.
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Nas noites de lua cheia
Solfejava serenata
Só com músicas das antigas
Nisso era diplomata
Dava ênfase a canção
Que fala do coração
Sempre de forma abstrata.
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Mas o tempo ia passando
Aumentava a solidão
Não sabia ele falar
Pra alertar o patrão
Precisava de um amor
Pra aplacar o fervor
Dentro de seu coração.
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Só um dia da semana
Saia da estribaria
Só passeava a noite
Pois de dia não podia
Mas sempre acompanhado
Por um tratador safado
Pois só ordem obedecia.
38
Numa noite madrugada
Ele ouviu um assobio
Levantou logo as narinas
Sentiu o cheiro de cio
Com um movimento seguro
Pulou por cima do muro
Pegou o beco, Fugiu,
39
Fugiu com a sua amada
Nem olharam para trás,
Queriam ficar bem distante
Do opressor satanás
Que era o velho Bento
Explorador de jumento
Escravidão nunca mais.
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Saíram pelas campinas
Felizes como crianças
Trocaram juras de amor
Na mais total confiança
Pois o Cantor solfejava
Sua amada assoviava
Festejando a mudança,
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Isso foi no mês de junho
Nas festas do São João
Nosso jumento azebrado
Cantou a mesma canção
Do momento que nasceu
A que nunca esqueceu
Que era do Gonzagão.
42
“É verdade meu senhor
Essa história do sertão
Padre Vieira falou
O jumento é nosso irmão”
Nosso casal de jumento
Vivem até esse momento
Na mais perfeita união.
segunda-feira, 27 de agosto de 2018
ENCONTRO
ENCONTRO
Nivaldo Melo
Em um espaço tão grande o quanto poderia ser, estávamos.
De um lado, Eu.
Do outro, Você.
Apenas a atmosfera local nos separa.
Quilômetros entre corpos, milímetro entre almas.
Cumplicidades mentais, atormentavam o ambiente.
Tornando-nos muito mais próximos que ausentes.
Horas de espera, segundos de certeza,
de uma futura união em tom quase perfeito.
Independente de como aconteceria fora ou sobre o leito.
E assim no barulho silencioso das mentes.
Sentimos a presença de um amor eterno rondando a gente.
E aí sem promessas ou cobranças, viveríamos apenas o presente.
Foi dessa forma que resolvemos viver aquele ENCONTRO eternamente.
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