quinta-feira, 29 de agosto de 2013

O FAZENDEIRO E A ONÇA


Lá no sertão do nordeste
Temos estórias legais
Que merecem ser contadas
Para torná-las reais
Quem as ouve acredita
Porque estão na escrita
E ficarão nos anais.

Essa que aqui escrevo
Foi-me muito bem contada
A noite estava acabando
Era quase madrugada;
Quando o compadre Ciro
Levantou, deu um suspiro
E narrou sua jornada.

Meus amigos, camaradas,
Vou lhes contar uma história
Que se passou sexta feira
E não me sai da memória
Hoje faz uma semana
Estava eu e a mana
Na fazenda Palmatória.

Fomos lá pra investigar
O que estava acontecendo,
Lá criamos cabras e bodes,
Estavam desaparecendo
Ficamos desconfiados
Que estávamos sendo lesados
Ou eles estavam morrendo.

Morrendo nós descartamos
Pois a carcaça ninguém via.
Saimos em procurada,
De noite e durante o dia.
Olhando por uma fresta
A mana viu uma resta
Que devagar se movia.

Ela me chamou baixinho,
Ciro venha ate aqui!
Eu vi algo diferente;
Está mais ou menos ali.
E apontou com o dedo
Foi ai que eu tive medo,
Um bicho grande eu vi.

Eu falei assim pra ela
Não tema, isso é um bode.
Então é bode sem chifres?
E ele tem até bigode.
Agora ele esta olhando
De fato nos encarando
Fujamos enquanto se pode,

Saímos abaixadinhos,
Caminhando de vagar
Ela disse acho que é onça
Porque já ouvi falar
Que por aqui aparece
Logo quando escurece.
Eu respondi: vou caçar!

Quando chegamos a casa
Fomos fazer um balanço
No quintal tava faltando:
Quatro guinés, um ganso
Cinco galos, seis galinhas,
Nove patos das vizinhas
Só de contar quase canso.

Três bodes, seis carneiros,
Muitas roupas do varal,
Um bezerro que pastava
La no fundo do quintal,
Sem contar com a cutia
Estimação da titia,
Que era um belo animal.

Três cabras com os filhotes,
Dois tatus e uma paca,
Um tamanduá bandeira,
Dois garrotes e uma vaca;
Desapareceu meu touro
Não güentei, caí no choro.
Que hora esse bicho ataca?

Foi quando a mana falou:
A onde está o meu gato?
Mimí desapareceu!
Vou ver se ta lá no mato.
E saiu numa carreira
Descendo pela ladeira
Fazendo poeira no asfalto.

Chamei logo minha turma
Pra caçar o animal.
Vamos dividir o grupo
Levem espingarda e bornal.
Bíu e Juca vão à frente
Atrás vai Mata serpente,
Eu dou apoio moral.

Chamei o também Bacanal
Que é bom atirador,
Seu Tonico, o Delegado,
Mandei chamar o Doutor,
O Lulinha de Lotério
Coveiro do cemitério
Que enterra matador.

O grupo já esta completo
Falta chamar meu irmão.
Mas cada um de vocês
Vai ter que levar seu cão
Caçar a onça no mato
Não vai ser nada barato
Temos que ter proteção.

Os cachorros que vieram
Eram em numero de seis
Três eram perdigueiros;
Vira latas também três,
Tudo com nome engraçado
O do Juca era viado
E o do meu é pedrês.

O do Doutor é mosquito
Fino feito um graveto
O do Biu era moleza,
Do delegado galeto;
O do mano é algodão
Porque é branco na mão
Mas no resto é todo preto.

Por volta das sete horas
Partimos para a caçada,
Queríamos pegar a onça
Bem antes da madrugada,
Não se ouvia um pio,
E bem na margem do rio
Encontramos a pegada.

Então seguimos o bicho
Andando juntinhos a margem.
Ali ninguém tinha medo,
Tudo gente de coragem.
Ficávamos imaginando
Que o bicho tava andando,
Pra esconder sua imagem.

Por volta da meia noite
Quase perdemos o rastro.
Então olhamos para o céu
Brilhava cheio de astro
Foi quando o Biu falou:
Eu como bom caçador
Acho que ela esta no mastro.

Olhamos na direção
Onde apontava seu dedo.
Fiquem todos bem atentos;
A onça esta com medo.
Do jeito que ela está
Pode ate nos atacar
No meio desse arvoredo.

Então todos nós ouvimos
O rugido do animal
Esta em cima do umbuzeiro
Alertou logo o Bacanal.
Era uma suçuarana,
Pense num animal bacana!
Aí começou o pau.

Então a bruta pulou
Bem em cima do viado,
Deu uma patada em moleza,
Que ele caiu de cu trancado.
O doutor lhe deu um tiro,
Ela não deu nem suspiro,
E ficou de bote armado.

Quando ela se preparou
Para atacar de novo;
Eu dei um grito medonho:
Atirem nela meu povo!
Foi um tiroteio danado,
Achei que tava acabado,
Quando eu conto me comovo.

Quando a fumaça acabou
Então todo mundo viu.
Onde estão Cachorro e onça?
Até o umbuzeiro sumiu!
Aqui tem um buracão
É buraco de um vulcão,
Quem falou assim foi Biu.

Ficamos todos parados
Sem saber que aconteceu,
Ninguém sabe, estava escuro
Tudo ficou cor de breu.
Correu tudo pro lajedo
Porque ficaram com medo,
Do grito que Ciro deu.

Falou bem sério o Doutor:
Nunca nós vamos esquecer,
Vai-nos ficar na memória
Até quando a gente morrer,
E se um dia alguém contar
Ninguém vai acreditar,
Vocês todos podem crer.

E foi naquele momento
Que assumimos compromisso.
Ficamos todos ajoelhados
No meio do alagadiço,
Rezamos para o Senhor
Que foi nosso salvador
De todo aquele feitiço.

Biu, Juca, Mata Serpente,
Bacanal, Tonico, Delegado,
Mano, Doutor, Lulinha e Eu
Todos muito emocionados
Estávamos todos abatidos.
Ao longe ouvíamos o rugido
Daquele felino safado.

Então meus nobres amigos,
Vamos agora acabar
Esse litro de Cachaça,
Sem ter que pestanejar.
Não esqueçam minha estória
Guardem dentro da memória
Para um dia se lembrar.

Agora amanhece o dia
Que pra nós ainda é cedo,
Nós que ouvimos a estória
Já estávamos até sem medo,
Está tudo bem tranqüilo
Depois que ouvimos aquilo,
Bem contado e com enredo.

Acabamos aquele litro,
Quando acabou sexta feira.
Amanheceu era sábado
Que é o dia da feira
Vocês creram no relato?
Acho que é real o fato,
Mesmo sendo brincadeira.

CONVERSANDO COM AS ESTRELAS



Abro os olhos, vejo o céu de uma noite escura e sem lua. Mesmo sem o brilho lunar ele esta lindo, totalmente pintado de pontinhos brilhosos, que piscam muito acima de minha cabeça.
Fecho os olhos e em um dialogo mudo converso; talvez comigo mesmo, com meu interior, com alguém que não esta, mas sempre esteve acompanhando-me, nessa longa caminhada de certezas e incertezas.
Não abro os olhos, mas vejo, ou simplesmente observo o interior do meu eu e falo sem palavras, do tudo que espero da vida, de mim, dos outros. E emito sem som um agradecimento ao céu.
Falo: como é belo a vida, belos momentos, belos sentimentos, belos encontros e desencontros, enfim o tudo que passamos juntos e continuamos passando, eu e a vida, eu e eu mesmo, eu e a fé, eu e o céu; que mesmo com a ausência de uma luz forte, brilha com tanta intensidade e com tanto vigor que deixa-me extasiado diante de tanta beleza.
Assim permaneço por horas e horas; mantendo esse diálogo mudo com a superior força que emana dos astros, intocáveis, distantes, mas, muito presentes.
E a esperança de poder conversar e ouvir os seus conselhos mudos que me atingem diretamente, deixando-me mais introspectivo, dando-me força e coragem, para manter sempre que possível uma conversa muda com minhas estrelas.