quarta-feira, 17 de outubro de 2012
A MATRIARCA
Seis horas da manhã.
Na porta do quarto de cada um dos moradores da casa; esta a Matriarca, dando ou despejando suas ordens matinais, todos teriam que seguir a risca seus mandados, e ái daquele que não fizessem.
Com mesa pronta para o desjejum, sentava sempre à cabeceira, (mesa que ela fazia questão de ser de um formato retangular), à sua direita, o esposo (marido, como ela o denominava), a outra cabeceira da mesa, sempre vazia, não permitia que ali se colocasse cadeira, apenas com a finalidade de que ela, e somente ela, tivesse um lugar de destaque à mesa.
Do lado esquerdo, da mesa os filhos, em numero de três; do direito as (4) filhas, que assim como ela um dia assumiriam os comandos em suas casas; assim ela podia dominar toda sua prole apenas com um olhar, o “homem” da casa, pedia-lhe licença para falar, sempre demonstrando submissão, ninguém deveria perturbar ou causar o menor aborrecimento a matriarca.
Com o tempo ela desaprendeu a falar, dirigia-se as pessoas como se todas fossem subalternas, e que estavam ali para seguirem suas ordens, seu timbre de voz era sempre de comando, ordens dadas mesmo em momentos de conversa com pessoas que não fossem da família, em um tom sempre acima do convencional, ela não falava, simplesmente gritava.
Amigos; não os tinha, porque era de difícil relacionamento e as pessoas nem sempre estavam dispostas a baixar a cabeça diante das ordens da matriarca.
Sua figura aparentava sempre austeridade; era magérrima, cabelos um pouco encaracolados sobre uma cabeça pequena, apesar de ter quase 1,75m de altura, seu riso era sempre sarcástico, falava sempre entre dentes, e era rara as vezes que demonstrava carinho por alguém. Poderíamos afirmar que era uma verdadeira “matriarca de nascença”.
Mas; o tempo passa e é implacável com todos os viventes, o que era belo, vai aos pouco se dissipando e se transformando naquilo que quando jovens não nos damos conta que vai acontecer conosco. Da mesma forma aconteceu com a matriarca, e o tempo para ela parece que foi mais implacável que para os outros, mesmo assim, nada mudou na sua forma de vida.
Com a perda do esposo (marido) que durante anos sofreu as mais tristes formas de pressão, devido ao seu estado de saúde, esperava-se a sua mudança, o que não aconteceu. Seus filhos mais que antes aumentaram a redoma onde vivia a matriarca, nada podia se aproximar, não se sabe se por medo d’ela maltratar as pessoas ou se simplesmente por puro capricho, (uma forma de vingança branda) onde o objetivo era torna-la mais sozinha em sua velhice.
As poucas pessoas que ainda a visitavam foram afastadas; as vezes de forma um tanto quanto grosseira, outras de forma contundente, e em alguns momentos não se sabe por qual motivo as pessoas eram afastadas de seus convívio, simplesmente as filhas não permitiam, dando ordens expressas de que nem as empregadas deveriam dirigir a palavra àquela ou aquele individuo.
Um dia; após longos anos de solidão, morre a matriarca, sem choros e sem lamentos, um velório de tempo mínimo marcou a despedida dos restos mortais daquela que durante sua existência, nunca teve tempo de expressar um gesto de carinho, um riso que tenha marcado sua passagem aqui pela terra.
Para uns; apenas passou pela vida; e não viveu, para outros deixou sua passagem marcada apenas pela intolerância, e por viver de forma que nunca conseguiu manter um amigo que em sua morte pegasse na alça de seu ataúde.
Em sua tumba apenas uma mensagem.
Aqui jazem os restos mortais da ultima matriarca.
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